Por: João Vicente Machado Sobrinho;
Joseph Goebbels na sua ótica nazifascista afirmava com convicção que, uma mentira repetida por mais de cem vezes, acabaria virando verdade. Goebbels que era chefe do aparelho de propaganda da Alemanha nazista, não podia esconder as suas intenções ao fazer essa afirmação. Em verdade ela refletia um projeto político oportunista de dominação, porém é sempre prudencial, separar do bloco das mentiras deletérias do bloco das mentiras inofensivas.
Um professor nosso amigo que era um conciliador, costumava afirmar que existe a mentira com amor que é inofensiva, e existe também a mentira com desamor, que via de regra é maledicente e deletéria.
Recém chegado à Campina Grande lá pelo final da década de 1960 e na qualidade de estudante pobre, fomos morar no vetusto Edifício Leda, que à época, era uma autentica república anarquista onde a governança era coletiva. Tivemos por vizinho de apartamento o então oficial de justiça Osenaldo Castro, o nosso Naldinho, uma figura ímpar e natural de Cabaceiras.
Naquela época quando pouco ou quase nada conhecíamos das condições climáticas da Paraíba, recebemos de Naldinho a informação que a sua cidade natal figurava no ranking mundial da escassez de chuvas, como a que menos chovia no mundo. Ora, se do Estado da Paraíba pouco conhecíamos, da sua geografia e meteorologia não conhecíamos nada. Diante disso, apenas aceitamos a informação que em muito nos surpreendeu, e apenas engolimos à seco, sem nenhum porquê, a marca registrada da dialética.
Alguns anos depois, já como aluno da Polí, viemos descobrir que Naldinho, com o amor telúrico que é peculiar a todo bom cabaceirense, havia nos contado uma mentira com amor, talvez prestidigitando o futuro, em que a sua Cabaceiras viria a ser transformada na orgulhosa Roliude do Nordeste.
Ora, pelos dados estatísticos disponíveis nos arquivos da AESA, Cabaceiras tem uma precipitação pluviométrica anual em torno de 450mm. Para não ir muito longe, a cidade de Lima, a bela capital do Peru, recebe uma pluviosidade média anual de 7 mm. Portanto, é 64 vezes mais seca do que Cabaceiras.
O exagero que é uma constante na mente das pessoas, aqui na nossa pequenina e heroica Parahyba não é diferente. No ano de 1992, o Alcaide Carlos Mangueira, anunciou triunfalmente ao mundo, durante a ECO 92 acontecida no Rio de Janeiro, que a nossa capital Parahyba, depois de Paris, era a segunda cidade mais verde do mundo.
Ora, o entusiasmo do prefeito, conseguiu juntar numa só frase, uma meia verdade com relação à Parahyba, que apesar de verde não era a segunda mais verde do mundo, e uma potoca completa ao classificar Paris como a cidade mais verde do mundo.
Vejam nas fotografias que se seguem, ambas do centro das duas cidades citadas, onde é possível tirar as nossas conclusões, apenas com a ajuda do próprio visual.
Se a afirmação do prefeito de então pelo menos se aproximasse da realidade, com certeza colocaria e com justiça a nossa capital à frende de Paris no ranking mundial.
Em conversa informal sobre o assunto com o engenheiro Armando Ataíde que é um profissional lúcido e de muitas ideias, ouvimos dele um detalhe curioso. No decorrer da conversa, ele nos chamou a atenção para uma característica da Parahyba, onde a maioria da cobertura vegetal implantada, além de não ser de árvores seletivas da mata atlântica, é predominantemente de fundo de quintal. Dos males o menor, pois o ruim mesmo seria não ter arborização quase nenhuma, como é o caso de cidades como Fortaleza e Campina Grande.
Há alguns dias passados escrevemos um artigo em que comparamos o bioma que a natureza nos presenteou na Paraíba, com uma galinha dos ovos de ouro. Tal e qual à ave exótica da lenda, a galinha que é muito rentável, precisa ser muito bem tratada para continuar rendendo. No nosso artigo ressaltamos o apetite insaciável e agressivo da especulação imobiliária, diante do olhar leniente dos poderes públicos, cuja leitura ou releitura sugerimos. (Engordamento de Praias é a solução?)
Em seguida mostraremos aos leitores e internautas, os cuidados ambientais de algumas metrópoles do mundo, preocupadas em redirecionar o seu planejamento urbano, cuidando de alinhá-lo com a sustentabilidade.
As cidades, de um modo geral, em decorrência do próprio crescimento vegetativo estão em permanente processo de mudança da feição urbana, tornando-se mais espalhadas, mais concentradas e mais altas, o que nos leva a pensar com preocupação, no futuro de todas elas no que tange ao aspecto da sustentabilidade do planeta.
Inovações tais como como florestas urbanas, transportes adequados de última geração e arquitetura sustentável, devem ser objeto permanente do planejamento de curto prazo de todas as cidades. A despeito disso no planejamento proposto para os próximos 10 anos, já estão presentes medidas como a diminuição do número de veículos automotores em circulação; o estímulo e a adoção de um eficiente sistema de transportes de massa; a criação de florestas urbanas para o aprisionamento de carbono, além de um adequado e eficiente programa de geração de energia sustentável.
Essa revolução terá à frente como pioneira, justo a a própria cidade de Paris citada em tempos pretéritos como pole posicion na estória da classificação da Parahyba como a cidade mais verde do mundo.
Não conhecemos Paris, mas pelo que mostram as imagens aéreas da cidade, é fácil perceber a escassez aguda do verde. Nesse sentido as mudanças propostas pela prefeita Anne Hidalgo pretendem transformar a capital francesa, tornando-a a cidade mais verde da Europa até 2030.
O traçado urbanístico de Paris tem como eixo central o Arco do Triunfo, do qual partem as ruas e avenidas em forma de raios. Tendo em vista as condições preexistentes, terão de elaborar um projeto paisagístico limitado a ações nos leitos das grandes avenidas, dos boulevards, e dos logradouros públicos.
Há uma ideia de implantar novas florestas urbanas próximas de marcos históricos da cidade como o Hotel de Ville, a Gare de Lyon e a Opera Garnier, além das margens e ilhas do Rio Sena onde pretendem plantar 170.000 árvores até 2026.
Além de Paris existem projetos urbanísticos sustentáveis em andamento para outras grandes cidades tais como: Los Angeles, Tóquio, Londres, Sydney, Moscou, Dubai, Montreal, Seul e Nova York. Todas elas já têm traçado urbano definido e carecem de espaços livres para urbanizar. Portanto terão de correr atrás do prejuízo para minimizar os seus passivos ambientais.
A Parahyba em relação a todas elas, tem uma situação privilegiada e pode implementar um projeto urbanístico sustentável de fazer inveja ao mundo. Apesar da especulação imobiliária, ainda nos restam algumas áreas públicas intactas, suficientes para implementação e manutenção de um planejamento urbano harmonioso e sustentável.
Além do que, ainda ainda temos um pouco de mata atlântica, além de alguns pontos estratégicos para aproveitar tais como todo vale do Rio Jaguaribe e seus afluentes, desde as três lagoas em Oitizeiro, até o estuário no Rio Mandacaru. Somem-se a isso o trecho morto do Jaguaribe e os canais que a ele afluem, espalhados desde o Manaíra Shopping até a antiga foz do Rio em intermares. O trecho morto que pode ser ressuscitado atravessa os bairros de Manaíra e do Bessa, hoje está espremido na selva de pedra das construções diversas.
O paradigma mais adequado a nos inspirar é a cidade colombiana de Medellín que na década de 1990 tornou-se famosa por ser o quartel general internacional do tráfico de drogas e em 2013, 23 anos depois foi eleita a cidade do ano.
O mais interessante do programa desenvolvido em Medellín foi fazer com que o estado voltasse a assumir o seu papel nas áreas socialmente fragilizadas que foram apropriadas pelo narcotráfico. Ao resgatar com auxilio da comunidade o espaço que foi ocupado pelo tráfico, o governo passou a fazer a prestação plena dos serviços sociais dos quais de há muito estava ausente.
É muito interessante conhecer o trabalho de um grupo multidisciplinar de estudiosos brasileiros que visitou Medellín e fez um relato longo sobre a experiência vivida por eles. Aqui mostraremos alguns trechos do relato que produziram:
“Tivemos a oportunidade de conhecer de perto a nova realidade do município durante uma “viagem de campo” no final de 2020. Com a finalidade de buscar aprendizados para o projeto Redesign de Favelas, eu, Edu Lyra, fundador da ONG Gerando Falcões, Murilo Cavalcanti, secretário de segurança de Recife, e Rafael Hawilla, empresário que apoia o projeto, fizemos uma grande imersão no urbanismo social de Medellín.” (1)
Em meio ao grupo de visitantes estava presente o secretário de segurança pública da cidade do Recife, num indicativo claro de que a segurança pública não deve ser tratada apenas como questão de polícia como muita gente pensa.
“A insegurança pode ser combatida com o estímulo à convivência social, pois quanto maior o número de pessoas na rua, mais segura a cidade se torna. Por isso, uma das medidas de combate à violência adotadas na cidade foi, justamente, a criação de espaços de convivência e não o aumento do policiamento
Por trás do projeto de urbanismo social de Medellín, existe um direcionamento muito definido: “fazer o melhor para os pobres”. Isso significa focar em mudar a vida das pessoas que mais precisam. Para fazer isso, os gestores públicos utilizaram o conceito de “acupuntura urbana”, que consiste em localizar desafios sociais — de violência, pobreza etc. — e destinar os investimentos sociais exatamente para os locais mais necessitados.
Com essa premissa, levaram equipamentos públicos e soluções inovadoras para as comunidades mais carentes da cidade. Assim, a fim de fazer intervenções sistêmicas dentro das favelas, foram construídas bibliotecas, parques, praças e complexos de educação, cultura e lazer (chamados UVA — Unidades de Vida Articulada).” (2)
Não queremos aqui propor uma cópia pura e simples do projeto que está em curso na cidade de Medellín, nos moldes daquele velho e conhecido Control C Control V. Todavia apesar de ter o triplo da população da Parahyba, Medellín tem características sociais muito parecidas com as nossas.
Temos observado uma expansão dos tentáculos do narcotráfico a partir de cidades como o Rio de janeiro e São Paulo, que é um alerta para os demais estados brasileiros que deverão se antecipar aos fatos com uma contraofensiva que evite a riodejaneirizaçao das facções criminosas.
Com relação ao projeto do Rio Jaguaribe obtive a informação de que: “certamente eles (da prefeitura) devem ter algo, mas como sempre internamente.”
Só esperamos que no projeto de urbanização o Rio Jaguaribe não venha a ser espremido num canal de concreto e ser reduzido apenas, a duas vias expressas para veículos automotores, imitando o péssimo paradigma da Marginal do Tietê em São Paulo. Que tenhamos ao invés disso, um belíssimo e sustentável exemplo de projeto de parque fluvial.
Referências:
10 grandes projetos urbanos que mudarão as cidades até 2030 | VEJA RIO (abril.com.br);
Como Medellín se transformou em referência mundial em urbanismo social (tellus.org.br); (1) (2)
Fotografias:
Paris vista do céu: imagens aéreas mostram a beleza da cidade – Mundo – SAPO Viagens;
10 grandes projetos urbanos que mudarão as cidades até 2030 | VEJA RIO (abril.com.br);
TYBA ONLINE:: Assunto: Vista aérea de João Pessoa em primeiro plano com rio ao fundo – Paraíba – Brasil / Local: João Pessoa – Paraíba – Brasil;
Relações Humanas no Trabalho: comunicação e feedback – ppt carregar (slideplayer.com.br);
Imóveis em Rua Simeão Leal, Campina Grande – PB – MGF Imóveis (mgfimoveis.com.br);
imagem aérea do rio Jaguaribe em João Pessoa – Pesquisa Google;
Como Medellín se transformou em referência mundial em urbanismo social (tellus.org.br);