A coluna deste último sábado, 06 de fevereiro,(A ressurreição do umbuzeiro) escrita pelo nosso querido João Vicente, associado a algo que tenho observado pelas minhas andanças como consultor em desenvolvimento rural sustentável, me fez querer continuar assuntando sobre o umbuzeiro. Desta maneira, peço permissão aos nossos leitores e leitoras em falar um pouco mais sobre esta planta e sua relação com a conservação do nosso semiárido.
Nos últimos anos o beneficiamento do umbu vem sendo uma alternativa real para as comunidades rurais. Na Paraíba, por exemplo, a Cooperativa Agroindustrial do Seridó e Curimataú Paraibano LTDA (COOASC) no ano de 2019 beneficiou 100 toneladas do fruto, transformando tudo em polpa de fruta, e comercializado para o mercado privado e institucional – compras públicas, principalmente para a merenda escolar. Segundo o presidente da COOASC, no ano de 2020, com todo o problema da pandemia do Coronavírus (Covid-19) ainda se beneficiou 40 toneladas, além de se comercializar parte da produção in natura. São mais de 32 famílias agricultoras que garantem seu sustento desse extrativismo sustentável.
Já no sertão baiano, uma importante cooperativa da agricultura familiar, COOPERCURC, mantem toda uma importante cadeia produtiva baseada no umbuzeiro. Entre os produtos mais comercializados estão doces, polpa de frutas, e a inusitada cerveja de umbu, que conquista o paladar dos mais criteriosos apreciadores da bebida.
O que incomoda é que mesmo com tão boas referências de casos exitosos, porque ainda o desmatamento e derrubada da Caatinga continua a avançar? Por que a conversão da vegetação nativa em lenha para alimentar as olarias é vista de forma mais vantajosa do que manter os velhos umbuzeiros nativos que anualmente contribuem com as cooperativas supracitadas?
Talvez algum pesquisador das diversas instituições agronômica já tenha até realizado uma análise do serviço ecossistêmico que o umbuzeiro oferece às populações do semiárido brasileiro, demonstrando em números que um umbuzeiro em pé vale muito mais do que o carvão produzido por ele. Contudo, temos pouco ou nenhuma valoração dos produtos da Caatinga, e se temos, não se tornaram ainda uma ferramenta real de política de Estado.
Façamos uma comparação com os produtos da Amazônia. A indústria de cosmético sabe o quanto é importante manter a floresta para que suas coleções de batons e cremes continuem a gerar riqueza. Mesmo com toda a degradação que o bioma sofre nestes dois últimos anos, já é bem consolidada a valoração dos subprodutos florestais não madeireiros (sementes, frutos, raízes, etc.) de lá.
Além do umbuzeiro, outras plantas da Caatinga estão presentes em nosso cotidiano, e que talvez não nos damos conta. Desconheço quem, ao mexer uma panela com sua colher de pau, reflete sobre o galho de imburana ou feijão-bravo retirado por um artesão de uma frondosa árvore e que ele molda neste prático utensílio doméstico.
Precisamos buscar a valoração ambiental e econômica do bioma Caatinga o quanto antes. Precisamos tornar viável o manejo sustentável da vegetação nativa através de instrumentos de gestão que fomentem sua conservação: pagamento por serviços ambientais, subsídio governamental para produtos oriundos do extrativismo ordenado, são algumas das possibilidades de instrumentos já testados tanto no Brasil como no mundo a fora.
Desta maneira, a “árvore que dá de beber” se perpetuará em nossa paisagem natural, inspirando as gerações que virão, seja produzindo novos alimentos, ou nossa cultura, semelhante fez o reio do baião.
Fontes:
Dados gentilmente disponibilizados pela COOASC.
https://coopercuc.com.br/