A erosão é um processo natural de desgaste da textura do solo, e Independentemente da vontade humana, ela estará sempre presente no planeta terra para dar continuidade à obra permanente da mãe natureza. Ela segue, inexoravelmente o seu curso, agrade ou não agrade.
Com o decorrer dos milênios e sem a presença dos seres vivos na face da terra, as transformações da crosta ainda sob a forma de magma incandescente, foram acontecendo. Em decorrência disso o relevo terrestre foi sendo modificado, na medida que ia avançando o processo de resfriamento do magma.
O resultado de toda essa transformação é visível à olho nu e as alterações geomorfológicas que vieram na sequência, definiram o perfil da atual litosfera. O bordado se fez com todos esses contrastes entre as altitudes diversas das altas montanhas e a profundeza das grandes depressões.
O relevo do planeta terra adquiriu um formato muito irregular que determinou a variação de altitudes entre os 8.378 mil metros negativos da fossa oceânica do Porto Rico até os 8.848 metros positivos do monte Everest.
As precipitações pluviométricas, a energia dos cursos d’agua, a energia das marés, a força dos ventos, o aumento da pressão atmosférica, além da temperatura da terra, passaram a funcionar como vetores energéticos das mudanças climáticas, inclusive causadores da erosão contínua. Os fenômenos naturais diversos, individualmente ou em conjunto, são os maiores responsáveis pelas modificações permanentes do relevo terrestre.
Portanto a textura da litosfera; a paisagem dos continentes; dos lagos; dos rios, dos mares e dos oceanos, notadamente nas regiões costeiras, sejam ou não do nosso agrado, irão sempre acontecer e com certeza estarão sempre modificando o relevo terrestre.
Quando o processo de erosão é de origem puramente natural, ele tem tempo e ritmo próprios. Portanto não nos é dado interferir no seu curso para alterar uma dinâmica que lhe é tipicamente sui generis sob pena de sequelas irreparáveis. Um grande exemplo do rito e do ritmo da natureza está muito próximo de nós, que é o fenômeno natural recorrente da escassez das chuvas. No semiárido nordestino esse fenômeno é chamado equivocadamente de seca e para enfrentá-la o governo brasileiro criou até um Departamento Nacional de Obras Contra as Secas–DNOCS.
Indiferente a essa presunção humana, as “secas” continuaram a ocorrer normalmente até os dias atuais, o que nos obrigou a mudar de estratégia e a darmos uma outra conotação ao C da sigla que, ao invés de fazer alusão à palavra Contra passou a ser tratada como o C de Convivência.
Ora, declarar guerra contra as secas, contra as cheias, contra a neve ou contra o gelo é a certeza de derrota certa. O que nos resta fazer é apenas nos adaptarmos, para conviver com a natureza de forma harmônica respeitando os limites que ela nos impõe. Lutar contra algo que não podemos vencer, é no mínimo irracionalidade.
A erosão das vertentes marinhas nas zonas costeiras, mutatis mutandis, estão submetidas às mesmas regras naturais e qualquer luta em contrário obedecerá sempre à crônica de uma derrota anunciada.
De todos os seres vivos que surgiram desde o princípio da criação, somente aqueles que se adaptaram às condições climáticas do planeta sobreviveram. Os demais foram extintos e não foram poucas as espécies que sucumbiram.
Os sobreviventes, receberam como presente da mãe natureza, uma cadeia alimentar bem definida e foram enquadrados como autótrofos e heterótrofos. O alimento repositor da energia de que necessitavam para sobreviver, foi disponibilizado a cada espécie de acordo com a palatabilidade de cada uma. Os alimentos eram o combustível de que dispunham como a fonte de energia necessária também ao movimento. Dessa forma, uma parte dos animais se tornou predadores e outra parte se tornou presas.
Desde o surgimento dos primeiros seres vivos e diante da necessidade de energia, eles passaram a se apropriar dos alimentos, ou de forma autônoma como os vegetais, ou através da predação como os animais, de forma harmônica e equilibrada. A rotatividade era a garantia da sustentabilidade.
De todos os seres vivos surgidos da evolução das espécies, um deles pontificou e através da sua ação deletéria passou a comprometer o equilíbrio natural e se transformar no protagonista principal da sexta extinção das espécies que está em curso. Essa espécie foi a espécie humana.
A Ecologia é uma ciência relativamente nova. Ela está inserida no campo da biologia e não pode ser voltada apenas para o estudo do meio ambiente e das relações entre os seres vivos de forma estanque. Os estudiosos e especialistas da ecologia, devem sempre ter o olhar voltado para o funcionamento da natureza como um todo e, nesse sentido o balanço energético, no latu senso da palavra, estará sempre presente.
Como já ressaltamos, a superfície da terra, além de ser irregular, tem o seu formato em constante modificação. A grande causa dessas mudanças são as ações erosivas, os vulcões, o movimento das placas tectônicas, os ventos, a chuva, as vagas, entre outros fenômenos naturais, além da mão humana.
Lembremos que tudo isso só poderá acontecer à custa de muita energia.
Nos voltemos então para os fenômenos impactantes que nos são mais próximos e a falésia do Cabo Branco é um deles.
O Cabo Branco, pelo seu posicionamento geográfico e para gaudio e orgulho do paraibano, é considerado o extremo oriente continental das três Américas. Tem à sua frente um paredão de corais paralelo à costa, com algumas janelas, que a rigor são dissipadores naturais da energia das marés que rebentam nas nossas praias.
Como já ressaltamos, os diversos tipos de solos não surgem nem desaparecem, não aumentam nem diminuem de volume por acaso e a areia é um deles. Sempre têm como veículo um dos fenômenos naturais já citados. Não há como conceber a formação de uma duna, ou o desgaste de uma falésia sem o depósito ou a retirada de areia trazida ou levada pelo vento ou a água.
Cremos que todos já tiveram a oportunidade de ver, pelo menos em filmes, as tempestades de areia que ocorrem nos desertos.
Quem conhece a cidade de Aracajú e ela chegou por via aérea, desembarcou no aeroporto de Sergipe que fica no bairro de Atalaia. Pois bem, naquela área aconteceu um fenômeno de erosão, onde ao invés de ter havido o avanço do mar em direção ao continente, houve ao contrário, um avanço do continente em direção ao mar, num autêntico caso de erosão positiva.
Segundo os registros históricos e científicos, a causa desse fenômeno foi o aporte milenar de sedimentos que foram transportados pela energia das marés, tanto do grande depósito de areia acumulada na foz do Rio São Francisco quanto do depósito de menor porte da foz urbana do Rio Sergipe.
Os sedimentos arenosos foram depositados próximos à capital Aracajú, no local onde hoje é o Bairro de Atalaia. Foram arrastados pela energia das correntes marinhas formando um grandioso aterro natural, construído pela energia das vagas.
Concluída a construção do complexo de barragens do Rio São Francisco, o depósito de sedimentos foi muito reduzido. Atualmente o processo poderá até se inverter, quem sabe? Afinal de contas foram construídas 8 (oito) grandes barragens geradoras de energia ao longo do curso do Rio, nas quais os sedimentos foram ficando retidos e não alcançaram mais o mar: Três Marias, Sobradinho, Itaparica, as quatro de Paulo Afonso e Xingó.
Mutatis mutandis, ocorreu caso semelhante aqui na Paraíba, com a construção das barragens do sistema Gramame- Mamuaba.
O volume de sedimentos que sempre foi trazido pelo Rio Gramame, foi significativamente reduzido, e a partir de então o recuo da falésia do Cabo Branco que em 100 (cem) anos passados havia sido de mais ou menos 60 (sessenta) metros, teve um aumento de ritmo e passou a erodir a falésia com maior intensidade, acelerando o ritmo do desgaste.
Portanto, ao invés de nos queixarmos da erosão, nos indaguemos primeiramente por que ela vem sendo recorrente na Falésia e quais são as medidas racionais e sustentáveis possíveis de serem adotadas para minimizá-la e mitigar “dano.” causado.
É bom perceber que a praia do Cabo Branco ainda existe hoje em dia com a sua exuberância , porque a falésia que era autossuficiente em sedimentos passou a ser deficitária e, hoje em dia corta na própria carne para fornecer areia à praia do Cabo Branco. Não fora a morte lenta da falésia, as praias adjacentes com certeza estariam em pior estado erosivo.
Antes da decisão açodada de engordamento em série das nossas praias, algumas questões essenciais precisam ser apreciadas e debatidas preliminarmente, em busca de uma opção sustentável e de menor custo, que venha minimizar o problema ao invés de criar outros. Indaguemos:
A área metropolitana da Parahyba pode prescindir das águas de abastecimento humano do complexo Gramame-Mamoaba? Parece que não!
O nosso litoral é único em processo de desgaste por erosão marinha? Também não!
Uma vez feita a tal engorda o processo de erosão cessará? A dinâmica da natureza e as mudanças climáticas em curso afirmam que não!
O processo de ocupação da área do topo da falésia tem sido adequado? Não, a cobertura vegetal foi muito reduzida impedindo a evapotranspiração!
A decisão isolada de engordar a base da falésia e as praias é uma solução adequada? nos parece que não! Foram executados parte dos serviços com os quais a prefeitura se propôs a realizar e não completou. Ao que parece a emenda está saindo pior do que o soneto e por isso os resultados não estão sendo satisfatórios!
Nesse passo, a decisão pré concebida unilateralmente pelos governantes de promoverem a obesidade das praias, afetará não somente a praia do Cabo Branco como as que lhe são adjacentes.
Pelo que se anuncia, a síndrome ambiental em tela, estende-se pelas praias urbanas da cidade e essa engorda em série precisa ser debatida com os órgãos ambientais, com os estudiosos e com a população. Deveremos adotar o principio chinês que sugere medir dez vezes para cortar uma.
A polemica que a princípio se cingia apenas à falésia do Cabo Branco e adjacências, tornou-se generalizada sem sequer esgotar a primeira discussão. O debate que estava limitado apenas a um promontório, alastrou-se pelas demais praias da cidade, que além de tudo são muito assediadas pela indústria da construção civil. Em decorrência dessa corrida imobiliária quase todas elas foram apropriadas de forma inadequada pela especulação.
O fato é que foi disparado o gatilho de uma polêmica que infelizmente estava adormecida e tem todos os ingredientes para ser muito intensa.
Segundo as informações que nos chegam, o Prefeito Cicero Lucena encomendou um projeto técnico para avaliar o impacto da engorda das praias. Nesse caso, a prudência recomenda aguardar a apresentação do projeto, o posicionamento dos órgãos ambientais, da academia, dos estudiosos e especialistas, além da população que deve ser ouvida em audiências públicas. Afinal de contas é, ou deveria ser para o povo, que o serviço público existe.
Destarte, pela magnitude da polêmica nada nos impede de discutir a proposta preliminarmente, ao contrário. Devemos debater exaustivamente, pois já temos a ideia dos rumos que querem impor a esse projeto de alto custo!
Esperamos do poder legislativo que é mandatário do povo, o cumprimento do seu papel, no sentido de promover um amplo debate público com a sociedade sobre uma questão que é fundamental para o futuro da cidade e da vida população.
As nossas belas praias de águas mornas, cantadas em verso e prosa no último carnaval carioca, se constituem na nossa maior vitrine turística e numa verdadeira galinha dos ovos de ouro para o trade turístico. Preservá-las é mais do que uma obrigação dos poderes públicos e da população.
É oportuno que olhemos com atenção a engorda que foi feita no presente e no passado em praias de localidades diversas. Não para copiá-los, mas para tomá-los como referência, levando sempre em conta o trinômio: Impacto ambiental x custo x benefício.
Como toda zona costeira do mundo estamos sujeitos ao impacto das vagas. Elas vão erodindo gradualmente a costa e isso é inevitável. Pode até ser minimizado, mas nunca será impedido.
Como referência sugerimos aos leitores e internautas passar em revista a matéria divulgada nos seguintes endereços eletrônicos:;
A ENGORDA DE PRAIA JÁ FUNCIONOU EM ALGUM LUGAR DO BRASIL? – Issu.
Curta metragem paraibano sobre erosão das praias de João Pessoa no globo play sob título: TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO MAR;
Consulta:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57141772;
As maiores montanhas do mundo (uol.com.br);
Apontamentos pessoais de João Vicente Machado;
Fotografias:
O que existe no centro da Terra? – Geografia Visual;
Fossas oceânicas – Só Geografia (sogeografia.com.br);
Teia alimentar: o que é, exemplos e relações tróficas – Toda Matéria (todamateria.com.br);
Evolução humana: origem e etapas – Significados;
Microsoft Word – 0155.doc (unb.br) retrogradarão da linha costeira;
Tempestade de areia do deserto no egito | Foto Premium (freepik.com);
Guia de Aracaju: o que fazer, como chegar e quando ir (maxmilhas.com.br);
A Foz do São Francisco – Canoa de Tolda;
Praia da Barra de Gramame Sul – Wikiwand
Boqueirão de Lavras da Mangabeira. – A Família Férrer (familiaferrer.com.br);
RIMA Engorda Beira-Mar (fortaleza.ce.gov.br);