Por: João Vicente Machado
O tempo transforma tudo!
A nossa mente, o nosso corpo, as nossas atitudes, enfim a nossa vida, tudo é transformado pelo tempo. Marx quando explicava o processo dialético, dizia: “ninguém toma banho duas vezes seguidas na água corrente de um rio com a mesma água, porque nem a água é a mesma, nem o rio é o mesmo, nem nós somos os mesmos.”.
No nosso Brasil, principalmente na região nordestina, ainda comemora-se o tríduo junino em três datas do mês de junho: Santo Antônio no dia 13, São João no dia 24 e finalmente São Pedro no dia 29.
Em verdade a festa é nacional e em tempos passados havia marchinhas juninas com as quais se marcavam as quadrilhas, tocadas até por italianos radicados no Brasil como Mário Giovanni Zandomeneghi que ficou conhecido e famoso como Mário Zan. Ele morava em São Paulo, no inicio da Av. São João, quase vizinho ao Prédio Martinelli e próximo ao cruzamento com a Ypiranga que também já rendeu música.
Festa na Roça, Pula a Fogueira, Chegou a Hora da Fogueira, Cai Cai Balão, Capelinha de Melão, e tantas outras que me faz relembrar os ensaios de quadrilhas lá na minha saudosa Lavras da Mangabeira, ao som da radiola do Clube Recreativo Lavrense onde todos participavam.
Na última vez em que participei e organizei, havia a quadrilha dos solteiros e a dos casados, tendo a festa ocorrido na véspera de São Pedro devido a morte de Dona Hilda Augusto. A música era por conta da sanfona de Zé de Manú, sanfoneiro famoso e muito conhecido na sua cidade, o Cedro e em Fortaleza, para onde mudou-se depois.
O nordeste brasileiro, berço de renascimento do Baião, teve em Luís Gonzaga em o astro maior da constelação junina e um dos maiores divulgadores da nossa cultura popular.
Jackson do Pandeiro, Marines, Trio Nordestino, Dominguinhos, Genival Lacerda, Flavio José, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Santana o Cantador, Assisão, Alcimar Monteiro, Alceu Valença, Antônio Barros e tantos outros, todos eles embaixadores maiores da nossa cultura e dos nossos festejos juninos.
A mudança a que me refiro no titulo deste texto, vem ocorrendo a partir da introdução de músicas pasteurizadas produzidas a partir do Ceará, as quais o mestre Sivuca denominou de músicas de plástico, numa referência ao seu consumo imediato que mal atravessam um festejo junino.
A elas se acostaram os chamados “sertanejos,” que têm seu espaço e são apreciados e consagrados na região Centro Oeste todavia sem maior identidade com o nosso folclore regional, que, diga-se de passagem, é um dos mais ricos do Brasil.
A festa está muito mudada, inclusive a indumentária usada nas quadrilhas e a coreografia mais parecem mais com o desfile das Escolas de Samba do carnaval do Rio de Janeiro.
Fatos como esse evidenciam um declínio das tradições e vêm nos afastando lenta e gradualmente das nossas raízes.
Zé Dantas, o médico e compositor pernambucano do Vale do Pajeú, integrou a santíssima trindade de compositores de Luiz Gonzaga e talvez acometido da mesma angustia que me invade agora dizia:
SÃO JOÃO ANTIGO.
“Era a festa da alegria, São João”.
Tinha tanta poesia, São João,
Tinha mais animação, mais amor,
Mais emoção.
Eu não sei se eu mudei ou mudou
O São João.
Vou passar o mês de junho,
Nas ribeiras do sertão,
Onde dizem que as fogueiras,
Ainda aquecem o coração,
Pra dizer com alegria
Mas chorando de saudade,
Não mudei nem São João,
Quem mudou foi a cidade.