Por: Neves Couras;
Iniciei este espaço, durante o mês de março, fazendo, sob o meu olhar, e o da História, homenagens a mulheres, iniciando por todas da minha ancestralidade. Agora, chegou a hora das grandes heroínas brasileiras que tiveram grande importância para nosso País ou mesmo para a humanidade, mas que estão esquecidas da memória de nosso povo, ou mesmo, foram esquecidas como é o caso dessa grande mulher e heroína chamada Ana Néri.
Seu verdadeiro nome é Ana Justina Ferreira Néri. Nasceu em 13 de dezembro de 1814 na Bahia, numa localidade chamada Vila Cachoeira do Paraguassu, também chamada Vila de Nossa Senhora do Rosário.
A coragem dessa mulher é de impressionar. Mesmo com três filhos e casada com um oficial da Marinha, e já morando em Salvador, quando iniciou a Guerra do Paraguai, ela envia uma carta ao Presidente da Província, solicitando trabalho como enfermeira de Guerra. Estamos falando da atitude dessa mulher no ano de 1865. Na carta ela alegava dois motivos: atenuar o sofrimento dos que lutavam pela defesa da pátria e estar junto de seus filhos, que já estavam na frente de batalha.
A coragem, a determinação e o amor pelos filhos era tão grande que mesmo antes da resposta do Presidente, contratando-a como a primeira enfermeira para servir com as tropas no Paraguai, que chegou tempos depois, ela embarcou voluntariamente. É considerada a primeira enfermeira voluntária no Brasil.
Ana Néri ficou por quase cinco anos com o exército. Perdeu um filho e um sobrinho na guerra e teve extraordinariamente atuação como enfermeira. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro quando regressava da guerra, recebeu várias homenagens. Foi presenteada em 6 de janeiro de 1870, por uma comissão de senhoras baianas, com uma coroa de ouro onde estava escrito “À heroína da caridade, as baianas agradecidas”. Essa coroa, hoje faz parte do acervo do Museu do Estado da Bahia. Recebeu ainda um álbum com a dedicatória “Tributo de admiração à caridosa baiana por damas patriotas”.
Victor Meireles pintou seu retrato em tamanho natural, que foi exposto na sede da Cruz Vermelha Brasileira. Em 5 de julho de 1870, chegava à Bahia, no vapor Ariano a “mãe dos brasileiros”. Posteriormente voltou ao rio de Janeiro, onde faleceu em 30 de maio de 1880, aos 66 anos.
Pode parecer um clichê, mas realmente o brasileiro tem memória fraca. Não poderíamos deixar de homenagear essas mulheres, e em nome de Ana Néri, quero homenagear todas as enfermeiras que todos os dias deixam seus filhos, sua casa e partem para, também como ela, salvar vidas nos hospitais e nas redes de Saúde desse País.
Não posso também, deixar de homenagear todas as enfermeiras que viveram por três anos uma Guerra não em um fronte, mas em hospitais lutando pela vida dos brasileiros e brasileiras que perderam a vida para um vírus chamado COVID 19. Essas mulheres, que de fato se dedicaram, perderam, muitas vezes, a própria vida salvando as de outrem. Vidas que, muitas delas poderiam ter sido poupadas se não vivêssemos uma Guerra por poder individual.
Vivemos um tempo que nossos representantes se esqueceram do povo que os elegeu. Vivem numa guerra por poder. Seja de direita, ou de esquerda, ou de centro, não importa. O que queremos e lutamos, hoje, é para que trabalhadoras, hoje ressaltando as enfermeiras, tenham salários e condições de trabalho dignos.
São mulheres como Ana Néri que ainda precisam serem lembradas e homenageadas. Que a função do amor e da caridade não pode se sobrepor à “pequenez” pelo poder. Essas mulheres merecem todo nosso respeito e que elas possam ser homenageadas todos os dias. Mulheres que enfrentam guerras de todos os dias.