Por: Antonio Henrique Couras;
Havia um mercador que, após anos de riqueza, acabou falido. Ele perdeu tudo: suas mercadorias, suas terras, e até seus empregados o abandonaram. Sem alternativas, ele vagava pelas ruas, cabisbaixo, sem saber o que fazer para reconstruir sua vida. Foi então que ele se deparou com Exu, o orixá mensageiro, conhecido por abrir caminhos e transformar destinos.
Exu, em sua forma simples e misteriosa, perguntou ao mercador:
— Homem, por que estás tão triste?
O mercador suspirou profundamente e respondeu:
— Perdi tudo o que tinha. Estou arruinado e não sei mais o que fazer.
Exu, com um sorriso intrigante, fez outra pergunta:
— O que você sabe fazer?
O mercador pensou por um momento e respondeu:
— Sei negociar. Sempre fui um bom comerciante.
Exu, então, decidiu ajudá-lo. Ele deu ao mercador uma única moeda e disse:
— Use essa moeda para recomeçar. Com ela, você aprenderá a dar valor ao que tem e a usar sua sabedoria.
Sem alternativa, o mercador aceitou a moeda e foi para o mercado. Com ela, comprou um punhado de milho. Ele levou o milho para casa, cozinhou e vendeu como quitutes. Com o dinheiro que ganhou, comprou mais milho e repetiu o processo, aumentando gradualmente seus lucros.
Dia após dia, ele aplicava sua habilidade em negociação e reinvestia os lucros. Com o tempo, começou a comprar outros produtos, expandindo seu negócio. Sua fortuna crescia, e ele se tornava novamente um homem próspero.
Algum tempo depois, já rico e respeitado, o mercador encontrou Exu novamente. Ele se ajoelhou diante do orixá e disse:
— Obrigado, Exu. Você me devolveu não apenas minha riqueza, mas também minha dignidade e confiança.
Exu respondeu:
— Eu apenas mostrei o caminho. Você fez o resto. Lembre-se de que sua habilidade é seu maior tesouro. Use-a com sabedoria, e nunca esqueça que a gratidão e o respeito aos orixás abrirão sempre novos caminhos.
Essa história, tão antiga e tão atual, traz consigo um convite para todos nós. Pergunte-se: o que você sabe fazer? Em um mundo onde tantas pessoas medem sucesso pela quantidade de bens acumulados, é fácil perder de vista o valor de nossas próprias habilidades. Vivemos correndo atrás de metas que, muitas vezes, são impostas por outros, sem pararmos para refletir sobre o que realmente nos faz plenos.
O mercador da história não reconstruiu apenas sua riqueza. Ele reconstruiu a si mesmo. A cada moeda que ele ganhava e reinvestia, ele também recuperava sua confiança, sua autoestima e sua dignidade. A riqueza que ele acumulou no processo foi apenas um subproduto de um trabalho interno mais profundo.
Quantas vezes nos sentimos como esse mercador — perdidos, sem rumo, focados apenas nas perdas? Em momentos assim, é comum nos deixarmos consumir pela autocomiseração. Esquecemos que, mesmo em meio às cinzas, existem faíscas de potencial esperando para serem atiçadas. Assim como Exu entregou ao mercador uma moeda, todos nós carregamos um talento, uma paixão ou uma habilidade que pode nos ajudar a recomeçar.
Mas aqui está a verdade: não se trata apenas de riqueza material. A verdadeira riqueza está em nosso desenvolvimento pessoal, em reconhecer nossas capacidades e em utilizá-las para criar algo significativo. Quando investimos em nós mesmos, não estamos apenas garantindo um futuro melhor; estamos também honrando quem somos.
O mercador poderia ter gastado aquela moeda em um único momento de prazer ou conforto temporário. Mas ele escolheu transformá-la em algo maior. Esse é o poder de pequenas decisões. Talvez você não tenha uma moeda mágica em mãos, mas você tem tempo, ideias e habilidades que podem ser usadas como sementes para algo grandioso.
Pense no que você sabe fazer. Você é bom em escutar? Em organizar? Em ensinar? Ou talvez tenha um talento para criar, planejar ou liderar. Essas são suas moedas. Ao invés de desperdiçá-las, comece a usá-las para construir algo que traga significado para você e para os outros.
Na jornada do mercador, há também uma lição importante sobre resiliência. Recomeçar não é fácil. Demanda paciência, coragem e, muitas vezes, humildade. No entanto, cada pequena vitória ao longo do caminho tem um sabor especial. São esses momentos que nos ensinam a valorizar nossas conquistas.
Em tempos modernos, é comum associarmos sucesso à velocidade — quanto mais rápido alcançamos algo, melhor. Mas a história de Exu e do mercador nos lembra que o processo é tão importante quanto o resultado. É durante a caminhada que aprendemos, crescemos e nos transformamos.
Então, caro leitor, pare por um momento. Pergunte a si mesmo: “o que eu sei fazer?” Talvez você esteja passando por um momento difícil, uma fase de perdas ou incertezas. Talvez você esteja se sentindo como o mercador no início da história — sem direção. Mas lembre-se: você tem algo valioso dentro de si. Algo que pode ser usado como ponto de partida.
Não se trata apenas de acumular bens ou atingir metas externas. Trata-se de reconectar-se com sua essência, reconhecer seu valor intrínseco e encontrar prazer no ato de construir algo com significado. Quando fazemos isso, não apenas recuperamos o que foi perdido; nos tornamos pessoas mais fortes, mais conscientes e mais plenas.
Exu, em sua sabedoria, sabia que a moeda não era a solução, mas apenas o catalisador. O verdadeiro trabalho foi feito pelo mercador, que escolheu olhar para frente, usar sua habilidade e transformar sua vida. Assim também é conosco. As oportunidades podem surgir, mas cabe a nós aproveitá-las.
Que tal começar hoje? Reflita sobre suas habilidades e paixões. Pense em como você pode usá-las para criar algo que o orgulhe. E lembre-se: não se trata apenas de riqueza. Como o mercador aprendeu, o mais importante é recuperar sua dignidade e encontrar prazer na jornada.
Há um potencial infinito dentro de todos nós. A verdadeira transformação começa quando você decide investir em si mesmo — não apenas para conquistar, mas para ser. Como o mercador, você também pode se erguer, mais forte e mais pleno, pronto para enfrentar o que vier pela frente.