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Lutar contra a Natureza, uma causa perdida!

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Por: João Vicente Machado Sobrinho;

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O jornal gaúcho Gazeta Zero Hora de Porto Alegre, logo após a recente catástrofe que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul e a sua capital Porto Alegre, embarcou o seu editor chefe Rodrigo Lopez para a Holanda. Ao diligente jornalista gaúcho, deve ter sido confiada a missão de obter informações detalhadas sobre o planejamento e a forma como os batavos convivem há séculos com o excesso de água.

Pelo teor do conteúdo da matéria jornalística produzida por Rodrigo, quer nos parecer que a questão de fundo da missão que lhe foi confiada, deve ter sido bem maior. A ele deveria caber também, descobrir a fórmula mágica utilizada pelos batavos, que convivem com a água de maneira permanente e com às cheias ocasionais dos rios que inundam os países baixos como um todo, e a Holanda de modo particular.

De fundamental Importância seria saber das populações envolvidas, qual a expectativa dos países baixos com relação ao agravamento iminente das mudanças climáticas e o consequente e ameaçador aumento dos níveis dos mares.

Ora, se o modelo político de produção econômica dos holandeses é liberal capitalista e igual ao nosso, por motivos óbvios ninguém melhor do que eles para nos servir de paradigma.  Tanto sobre o modus vivendis cotidiano com o qual convivem ha séculos, quanto sobre o agravamento climático que se prenuncia.

Nos parece ser uma decisão da querência, insistir em modelos defensivos de proteção, numa briga desigual com a natureza ferida, talvez inspirados na ação pretérita do DNOCS de cem anos atrás. Naquela época os que dirigiam o DNOCS, seja por ignorância ou má fé, entenderam de se posicionar contra as secas, numa guerra em que foram fragorosamente derrotados.

O histórico de bravura do povo gaúcho, forjado em parte pela Revolução Farroupilha, seria mais uma vez posto à prova, desta feita no enfrentamento da natureza enfurecida. Só que o tempo é outro, o inimigo é outro e as condições são outras e bem mais adversas.

Reflitamos sobre os números assustadores que se seguem, os quais foram publicados em 17 de maio de 2024 pelo periódico ECO:
htpps://oeco.org.br/reportagens;

Há pouco mais de dois meses, a empresa de extensão rural do Rio Grande do Sul, Emater, anunciou estimativa de aumento de 71% na produção de soja no estado, com um aumento de mais de 20 mil hectares na área plantada. Considerando também o arroz, feijão e milho, somente entre 2022 e 2023, mais de 70 mil hectares foram convertidos em monoculturas em terras gaúchas. Agora, o estado paga o preço dessa conversão.

Segundo levantamento do MapBiomas, ao qual ((o)) eco teve acesso, entre 1985 e 2022, o Rio Grande do Sul perdeu 22% de sua vegetação nativa – o equivalente a uma área de 3,6 milhões de hectares de florestas, campos nativos e áreas pantanosas que foram convertidos em áreas antropizadas, principalmente para a plantação de soja.

Quando considerada somente a área mais atingida pelas enchentes que agora assolam o estado, a perda da cobertura vegetal é ainda maior. Na Bacia Hidrográfica do Guaíba, 1,3 milhão de hectares de vegetação nativa foram destruídos entre 1985 e 2022, o que corresponde a 26% da região.

“Um dos serviços ecossistêmicos prestados pela vegetação nativa é o de assegurar uma boa infiltração da água da chuva no solo e a consequente diminuição do escorrimento superficial, evitando, com isso, o rápido acúmulo de água nos riachos e rios”, disse o MapBiomas em sua análise.

A maior parte da vegetação nativa ainda existente em terras gaúchas está nas mãos de particulares. De acordo com dados do governo do estado, são cerca de 500 mil imóveis rurais cadastrados, que ocupam aproximadamente 90% do território do estado. (1)

Pelas informações anteriores é possível perceber que a produção agropecuária nacional não obedece a um mínimo de planejamento sustentável ou controle. Ela está voltada exclusivamente para o mercado externo no sentido suprir o vácuo da criminosa e propositada desindustrialização da qual o Brasil foi vítima.

Ora, em sendo necessária a captação de dólares para fechar o balanço de pagamentos das contas públicas, todo privilégio, liberdade, poder e apoio foi dado ao agronegócio que para produzir. Além de não obedecer a um planejamento racional eles passam por cima da legislação, naquilo que Marx denominou de anarquia da produção.

No caso do Rio Grande do Sul, quando as leis e normas ambientais dificultaram a “passagem da boiada,” o falacioso governador do Estado Eduardo Leite, de pronto atendeu à querência com uma lei estadual permissiva. Vejamos:

“No Brasil a implementação do Código Florestal enfrenta uma série de desafios, principalmente devido à falta de regulamentação em diversos estados. O Rio Grande do Sul, por exemplo, além do histórico de alteração da sua legislação ambiental de uma forma negativa e com mudanças que têm efeitos gravíssimos, não avançou na implementação da norma”, diz Jarlene Gomes, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), organização integrante do Observatório.
Dentre as mudanças no arcabouço ambiental citadas por Jarlene Gomes estão as alterações promovidas por Eduardo Leite (PSDB) no código ambiental do estado. A pedido do governador, a Assembleia do Rio Grande do Sul aprovou em 2020 um novo código, alterando 480 normas ambientais.
Em janeiro deste ano, por pressão do agronegócio, os deputados aprovaram uma lei que permite obras de irrigação e geração de energia em Áreas de Proteção Permanente.”
Marcelo Elvira, assessor em advocacia e políticas públicas do Observatório do Código Florestal, lembra que as APPS têm, dentre outras funções, o objetivo fundamental de preservar recursos hídricos, as paisagens, a estabilidade geológica e proteger o solo, já que ela armazena a água e a encaminha gradualmente para os rios. (Grifo nosso) (1)

Conclusão: No ápice da catástrofe, quando a cidade de Porto Alegre estava completa e totalmente alagada, o governador Eduardo Leite e os liberaloides direitopatas do seu séquito se revezavam nos microfones da imprensa oficial a proferir sandices as mais diversas além de mirar uma metralhadora giratória para todos os lados e a eleger culpados aqui, ali e alhures, quando eles também faziam parte do grupo dos verdadeiros culpados.
Reivindicam com pertinência e razão, os recursos que não são poucos para a obra imprescindível da reconstrução, todavia não se fazem de rogados e, sem ouvir os prognósticos climáticos já estão discorrendo sobre um plano de obras exclusivamente protecionais.

Sugerem: construções em locais inatingíveis; estradas recuperadas com o greide mais elevado; pontes mais extensas e mais altas; aumento da extensão e altura do velho Paredão Mauá; aumento do número de comportas; além da instalação de bombas de maiores capacidades de vazão etc.

Houve até um prefeito que propôs, pasmem, a construção de mais igrejas do que terreiros de Umbanda, segundo ele a causa de todos os males. Dissimulação preconceituosa chegou nele e parou!

No tocante à sustentabilidade, talvez por conveniência ou recomendação superior, tanto as autoridades gaúchas quanto a imprensa oficial, inclusive a Gazeta Zero Hora, estão silentes. Será que planejam reconstruir o estado mantendo o mesmo modo de produção capitalista transgressor? O mundo espera que não, pois do contrário o status quo virará qui pro quo!

O que estão fazendo agora no Pantanal e no Cerrado, é algo criminoso. Ou querem dizer que esses incêndios gigantescos são obra do acaso!

A viagem do jornalista Rodrigo Lopez à Holanda quer nos parecer que o establishment está à procura de medidas protecionais mais eficientes e eficazes. Parece até estória dos três porquinhos de Walt Disney, que insistem na construção de dispositivos de proteção da sua casa, para melhor se defenderem do lobo mau.

Como sempre acontece com notícias puramente analógicas, a calamidade que se abateu sobre o Rio Grande do Sul gradualmente vai saindo da pauta da imprensa oficial. Se a opinião pública mundial, a população brasileira de um modo geral e principalmente a população sofrida do RS não se organizarem, pela vontade do latifúndio gaúcho poderão mudar o nome do estado para nova Holanda e tudo continuar como dantes no Quartel de Abrantes.

Não adianta insistir em reformas. O capitalismo é uma máquina sucateada e sem concerto!

 

 

 

 

 

Referências:
Rio Grande do Sul perdeu 22% de sua cobertura vegetal nas últimas décadas – ((o)) eco (oeco.org.br);

Fotografias:
O que são os diques da Holanda, um dos maiores feitos da engenharia civil (olhardigital.com.br); (1) e (2)
Cavalo ilhado em telhado é mais uma cena dramática das enchentes no RS (primeirapagina.com.br);
Fogo e Festa: Corumbá Celebra São João em Meio a Incêndios no Pantanal – Gazeta Brasil;

Nota: O Jornal Zero Hora, integra o poderoso conglomerado jornalístico gaúcho da Rede Brasil Sul-RBS, de propriedade de Eduardo Sirotsky Melzer, um dos carros chefes da imprensa oficial brasileira.
O material jornalístico produzido por Rodrigo Lopez, inegavelmente tem um bom conteúdo de informações técnicas do caso holandês. Não obstante e como de hábito a matéria foge dos porquês e de forma totalmente analógica, insinua que a Holanda está a salvo, o que não corresponde à verdade.
É meritória e até certo ponto compreensível a saga da Holanda na sua busca continua por ilhas insulares, locais de produção de alimentos.
É imprescindível no entanto levar em conta o período em que a Holanda adotou essas medidas corretivas. No entanto não consegue esconder nas entrelinhas a obstinação endêmica do empresariado gaúcho de não mudar o modo de produção insustentável

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1 COMENTÁRIO

  1. Meu nobre, camarada.. Belíssima explanação, sem dúvidas nenhuma as causas dos desastres cada vez maiores e mais frequentes é o resultado do desequilíbrio no organismo, sobra aqui, falta acolá, na linguagem do matuto.. É preciso atingir o ponto de equilíbrio, o ser humano só quer ganhar e não aprendeu a perder, logo em algum ficará no prejuízo, culpando gregos e troianos, quando a responsabilidade maior recai sobre os agentes públicos e políticos, que não respeitam a ciência. Essa é a grande lição que precisamos aprender apanhando. Felizmente temos muitos com conhecimento para minimizar os estragos e danos para as próximas gerações, porém com muito tempo perdido nessa restauração do dano ao meio ambiente..

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