Mossoró, no Rio Grande do Norte, possuía algo em torno de 20 mil habitantes quando Virgulino Ferreira da Silva resolveu impor a chantagem de 400 contos de réis, cota dez vezes superior às que cobrara noutras localidades, no sentido de evitar que invadisse a cidade. Lampião enviara bilhete ao povo do lugar requisitando a tal quantia. No entanto, logo recebeu do Prefeito, o coronel Rodolfo Fernandes, resposta de que dispunha do valor solicitado, só que este apenas seria entregue se nas mãos próprias mãos do audacioso bandoleiro nordestino.
Com isso, por volta das 16h do dia 13 de junho de 1927, ano seguinte ao da visita que fizera ao Cariri, Lampião e 53 cabras afrontariam grupamento de 150 homens entrincheirados na defesa do maior núcleo urbano dos quantos já fustigara o cangaceiro durante sua vida tormentosa.
Durante o restante daquela tarde e toda a noite, profusão de balas quebraria o silêncio das horas e a paz dos circunstantes. Aos primeiros claros da manhã seguinte, por força da batalha, resultavam, no lado invasor, baixas expressivas de combatentes: Jararaca fora ferido e aprisionado, e Colchete recebera fatal balaço no crânio, dentre outras perdas do bando cruel.
José Leite Santana, o cangaceiro Jararaca, de 22 anos, recebera no meio do tórax balaço de fuzil e era mantido cativo na cadeia de Mossoró, se tornando, por vários dias, objeto da curiosidade pública. Reagiria ao ferimento, contudo, a título de ser recambiado para a capital do Estado, sofreria execução sumária, de acordo com a narrativa do jornalista potiguar Lauro da Escóssia:
– Alta noite, da quinta para a sexta-feira, levaram Jararaca para o cemitério, onde já estava aberta sua cova.
Ao perceber a trama onde caíra, o condenado ainda gritou: – Sei que vou morrer… Vão ver como morre um cangaceiro. E o capitão Abdon Nunes, comandante da polícia de Mossoró, descreveria os instantes finais do bandoleiro: Foi-lhe dada uma coronhada e uma punhalada mortal. O bandido deu um grande urro e caiu na cova, empurrado. Os soldados cobriram-lhe o corpo com areia.
Hoje, o túmulo de Jararaca é o mais visitado do cemitério de Mossoró, se transformando em lugar de constantes peregrinações das pessoas que fazem promessas e ali depositam ex-votos por conta da devoção ao meliante.