Por: Mirtzi Lima Ribeiro;
Às vezes precisamos de silêncio, noutras, a melodia branda de um piano ou simplesmente o som de águas descendo em ritmo próprio sobre as pedras. Tudo isso traz calma. E resgata uma certa suavidade que vem apaziguar a alma em tempos de crise.
Será que os anjos também se comovem com as dificuldades humanas e dos animais, da natureza e dos mananciais destruídos? Dos ódios e das artimanhas nocivas perpetradas por certos humanos? Das dores e dramas que recaem sobre os mortais?
Será que o que sentimos como dor vem para um futuro alívio, uma dileta compreensão tardia, um insight em forma de pancada, uma sensação que nos ensina lições valiosas?
Será que a impermanência da vida, esse ir e vir constantes, com uns que nascem e outros morrem, com coisas que se desgastam com o tempo e outras que se consertam para que durem mais, não seria também parte de ensinamentos que se inscrevem em nossa alma?
Será que o nosso olhar finito e limitado poderia dar saltos de compreensão com os dramas e impactos da vida diária?
Hoje, em plena tarde, caminhando na calçada, passei por alguém que dormia na rua, despojado, sujo, rendido àquela vida de desconforto. O que havia acontecido àquele homem, cuja riqueza que possuía era unicamente uma bicicleta velha, já sem cor e com rodas bem gastas, junto a si? E suas roupas em farrapos, marcadas pela poeira e sujeira das ruas, que pareciam não terem sido lavadas há muito tempo? Com certeza ele também tinha fome.
E aquela mãe-médica que chora a morte de seus nove filhos, vítimas das bombas lá no Oriente Médio, lançadas por uma nação que perpetra uma mortandade sem precedentes aos palestinos? Qual o tamanho de sua dor? Terá ela o coração dilacerado por tantas perdas violentas e sanguinárias? Logo ela que trabalha salvando vidas?
O que dizer da maldade alheia falsamente em “nome de Deus”, matando indiscriminadamente crianças, mulheres e outros civis idosos? O que dizer da cruel supremacia de países e de pessoas que se acham acima dos demais mortais ou de outras nações classificadas como “pobres”?
Até onde e até quando suportaremos essas dores, tanto nossas quanto de outros a quem amamos ou a quem entendemos terem os mesmos direitos que nós, à vida, à dignidade, às oportunidades, ao conforto, à educação, à vida, à saúde, à segurança, à civilidade, ao direito de ir e vir bem como à cidadania reconhecida e também ao amor?