A extrema proximidade que existe do poder com a posse dos bens ocasiona as contradições do espírito público. Outro dia, escrevi quanto à espera de um estadista autêntico, isso no mundo inteiro. Houve tempo em que grandes líderes se impunham pelas qualidades morais e senso de responsabilidade em nome de todos. Hoje, no entanto, tal virou avis rara e o comando das nações envolve milhares de outras fragilidades que sejam, além do bem comum. Nisso, a política equivale a grupos econômicos, facções ideológicas, lucros, negociatas, transferência de capitais, fome de lucro, violência, sucessões, etc.
Digo hoje por ser agora que presencio mais de perto. No entanto, a História demonstra esse enquadramento séculos a fio. Civilizações inteiras conquistam povos menos afeitos à guerra, transações entre aliados, sacrifício da juventude nos campos de batalha, armamentos sofisticados, sendo só um painel de longas batalhas e tristes resultados nenhuma fraternidade.
O sentido prioritário da política, portanto, significa o jogo de poder entre os donatários dos botins, nesta fase qual nunca antes vista. Outros instrumentos pesam nas costas das populações anônimas, a dita massa de manobra. As filosofias da evolução do pensamento significam apenas o resumo das teses de Nicolau Maquiavel (O homem esquece mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio).
Conquanto existam centenas de grandes pensadores a defender fraternidade, compreensão, harmonia social, justiça, solidariedade, progresso, paz, o que resta de prática efetiva são as atitudes brutais das hordas humanas em sua aventura pelo domínio coletivo.
Qual quem há de resistir a tudo e vencer o teste da sobrevivência, vive-se um eterno pós-guerra em preparação a novas escaramuças. Desde criança observo essa realidade catastrófica. Em minha casa, havia uma coleção das Seleções do Reader’s Digest que tratava sobremodo da Segunda Grande Guerra. Cresci ouvindo notícias da Guerra da Coréia, da Guerra do Vietnã, das lutas entre árabes e judeus, das guerras do Oriente Médio, das invasões de países à conquista de reservas de petróleo, e mais recentemente a Guerra da Ucrânia, no meio de tantas e tantas. Persistem as organizações de paz, porém de poucos resultados.
Os projetos políticos vivem na imaginação de todos, porém são raros seus frutos. É de se perguntar a função dos ideais de humanidade que somem face aos arcaicos desejos daqueles que obtêm a delegação de comandar as sociedades.