Por: João Vicente Machado Sobrinho;
A primeira revolução industrial e a subsequente revolução burguesa na França, foram dois grandes eventos históricos que surgiram, trazendo à reboque o modelo capitalista liberal burguês. Os postulados da nova doutrina econômica foram concebidos e elaborados, pelo escocês Adam Smith e o britânico de origem judaica David Ricardo. A nova teoria foi consolidada em um famoso livro de autoria de Smith, sob o título A Riqueza das Nações, lançado no século XVIII, veio a se transformar a posteriori, no receituário da economia liberal e as suas variantes.
Esses dois eventos históricos mudaram radicalmente o curso da história da humanidade, estabelecendo o ponto final de um feudalismo moribundo, ensejando a divisão geográfica do mundo em Estados nacionais.
A partir desse marco histórico foi posta em prática uma crescente e ambiciosa aglutinação de diversos países organizados em blocos econômicos, que viria se avolumar a partir do início do século XX.
Foi também desse mesmo século o surgimento inesperado de uma revolução socialista na Rússia. Um país agrário e atrasado, que ousou pôr em prática sob a liderança de Vladimir Lenin, uma filosofia econômica inédita de caráter socialista, de autoria de Karl Marx. Embasada no método do materialismo dialético, por ele idealizado e desenvolvido. A nova teoria colocou o mundo de ponta cabeça.
Foi em decorrência dessa mudança revolucionária que o imperialismo inglês senil e já cambaleante entrou em ritmo de decadência. A Inglaterra, com a pulga atras da orelha, aliou-se ao imperialismo estadunidense surgente, para além de adquirir uma maior sobrevida, construir um projeto político expansionista revigorante que recebeu o nome de geopolítica.
O verbete Geopolítica tem por definição:
“Geopolítica é um termo utilizado para designar tanto a prática quanto os estudos das relações e disputas de poder entre Estados e territórios. Esse campo do conhecimento se dedica aos estudos dos conflitos diplomáticos, políticos e territoriais, das crises, da evolução histórica do ordenamento político do espaço mundial, da articulação entre os Estados nacionais e da atuação das organizações internacionais e blocos econômicos.” (1)
Os Estados Unidos da América do Norte -USAN, que se fortaleceram economicamente a partir da segunda guerra mundial, idealizaram e puseram em prática alguns mecanismos de governança, ainda hoje representados por poderosas organizações internacionais.
Foi desse mesmo período, a fundação da Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN, que na ocasião teve 12 filiados iniciais e veio a ser a sede das operações expansionistas dos USAN.
Inicialmente a OTAN tinha o “inocente” propósito de defender o ocidente “das garras do comunismo” que tinha como representante a União das Republicas Socialistas Soviéticas-URSS, além dos seus raros aliados, no período chamado de guerra fria.
Em função do grande poderio militar que conseguiu desenvolver, os USA passaram a exercer também uma forte influência sobre a Organização das Nações Unidas-ONU, que fora fundada em 1945 e era composta por 193 Estados membros.
A OTAN por sua vez, cresceu e agigantou-se, passando dos 12 filiados iniciais para os 28 atuais. O fato inexplicável é que a organização continuou crescendo e espalhando os seus tentáculos, mesmo depois do final da guerra fria e da extinção do Pacto de Varsóvia, criado pela URSS, de matiz socialista para fazer o contraponto.
Se observarmos com atenção iremos constatar que os USA se cercaram cautelosamente de todos os cuidados necessários para implementar, na sua plenitude, um ambicioso projeto geopolítico expansionista, quer seja pela via do convencimento, quer seja pela via da coerção, ou melhor, da manu militare.
A ONU é uma gigantesca organização que congrega 192 países membros, em que apenas 15 deles, compõem o Conselho de Segurança, e somente 5 países têm direito a veto: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China. É visível a peneira impeditiva, uma verdadeira cláusula de barreira, imposta aos países periféricos?
A partir da década de 1950 até 1991, época em que ocorreu a debacle da URSS e até mesmo nos dias atuais, os Estados Unidos não estabeleceram um paradeiro no seu projeto beligerante de viés expansionista. As intervenções têm ocorrido de forma direta ou mediante influência sobre aliados, em diversos golpes de estado ocorridos em todos os continentes.
Foi assim: na guerra da Coreia entre 1950 e 1953; na Guatemala em 1954; em Formosa (Taiwan) ente 1950 e 1955; no Vietnam entre 1955 e 1964; no Egito em 1956; no Líbano em 1958; no Caribe entre 1959 e 1960; em Cuba em 1962; no Laos entre 1962 e 1975; na República Democrática do Congo em 1964; no Brasil em 1964; no Chile em 1973; no Panamá entre 1988 e 1990, entre outras intervenções ou interveniências não citadas.
O saldo dessa aparente “ajuda humanitária” foram a implantação de 865 bases militares dos USA espalhadas por todo planeta, das quais: 76 estão na América Latina; 200 na Europa; 119 no Japão; 34 na África; 45 ao redor do Irã. Em suma: 95% dessas bases estão instaladas em cerca de 130 países, inclusive no próprio território dos USA, onde estão estacionados 350 mil soldados em pé de guerra.
Diante de tudo isso é obvio que toda “proteção” feita pelos USA a países como a Ucrânia e Israel não é movida por nenhum sentimento de solidariedade e sim por um apurado interesse geopolítico.
Para fazer a leitura dos planos dos USA, basta ver e ouvir as declarações atribuídas a Joe Biden, que é o Xerife de plantão, sobre o massacre covarde e cruel contra os palestinos encurralados na faixa de Gaza.
“No discurso à nação em que comparou o grupo palestino Hamas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, adiantou nesta quinta-feira 19 que pedirá ao Congresso que financie ‘urgentemente’ um novo auxilio à Ucrânia e Israel.
Segundo ele, o novo pacote bilionário “trará dividendos (grifo nosso) para a segurança dos Estados Unidos por gerações” e “ajudará a construir um mundo mais seguro, mais pacífico e mais próspero para nossos filhos e netos.
A liderança dos Estados Unidos é o que mantém o mundo unido. As alianças americanas são o que nos mantêm seguros. Os valores americanos são o que nos tornam um aliado com o qual outras nações querem trabalhar”, prosseguiu. “Os Estados Unidos ainda são um farol para o mundo. Ainda, Ainda.” (2)
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Precisa de mais clareza para entender o discurso de Biden?
Diz ele que o pacote de ajuda solicitado ao congresso “trará dividendos para a política dos Estados Unidos por gerações”
Dá para perceber claramente o verdadeiro significado do substantivo “dividendos”
As atitudes dos USA têm mostrado com muita nitidez que o que move os USA tem um projeto expansionista e que fará tudo quanto for possível para dar curso ao seu ideário possessivo. O maior exemplo foi sem sombra de dúvidas a relação que estabeleceram no final dos anos 1970, com o milionário saudita Osama Bin Laden, conhecido no mundo do islã como The Prince (o Príncipe).
Bin Laden foi o fundador da Al-Qaeda, uma organização terrorista muito famosa, e era visto pelos USA não como vilão, mas sim como um aliado, no sombrio período da guerra fria.
O estreitamento da relação que teve início no governo de Ronald Reagan, tinha por finalidade treinar e financiar o grupo terrorista citado, (terrorismo que hoje condena) para promover a derrubada do governo nacionalista do Afeganistão apoiado pela URSS.
Mutatis mutandis foi a mesma prática de apoio a líderes de diversos países e continentes, tais como: Saddam Hussein, Muammar Gaddafi, Anastásio Somoza. Francisco Franco, Oliveira Salazar, Mohamed Bin Salman, Alfredo Strossner, Augusto Pinochet, Volodomyr Zelensky, Benjamin Netanyaho et caterva.
Ora, a presença dos USA na Ucrânia não é filantrópica como apregoa a mídia venal, nem tampouco um ato de solidariedade ao sofrimento do povo ucraniano. A verdadeira aposta dos USA e em que está jogando todas as fichas, é numa derrota da Rússia. Posteriormente subordinarão a Ucrânia para impor a construção de mais uma base militar estratégica na Europa. Alguém tem dúvida disso?
Já com relação à Palestina, o apoio incondicional a Israel ao nosso ver tem dois motivos.
O primeiro é pela influência econômica e financeira que os biliardários judeus têm e sempre tiveram na economia mundial, notadamente na própria economia interna dos Estados Unidos, sendo muito mais sócios, do que aliados.
O segundo é para atender à pressão da indústria armamentista que precisa de mercado permanente e para eles a guerra deve ser uma atividade permanente dos USA, doa a quem doer.
O maior e atual exemplo é o cruel e covarde massacre que vem sendo praticado por Israel contra uma população sitiada, desarmada, sedenta, esfomeada, doente e desprotegida, tudo com a cumplicidade e o financiamento criminoso dos Estados Unidos.
Apesar de toda essa saga de guerra e diante de toda essa crueldade, o maior e mais pedagógico exemplo de resistência vem de Cuba. Uma ilha atrevida que com forte sentimento de nacionalismo, amor telúrico, coragem e muita fibra do seu heroico povo, um dia rebelou-se e resolveu deixar de ser apenas o cabaré e o cassino dos bilionários dos Estados Unidos, para se transformar num país voltado para os interesses do seu povo.
Cuba era e continua a ser pobre. Uma Ilha do tamanho do Estado de Pernambuco, com recursos naturais escassos, com energia limitada, com produção de alimentos limitada, sem grandes industrias, sem luxo, sem almofadinhas e sem dondocas. Tem apenas uma riqueza imensurável e inegociável que é a determinação, a dignidade, a consciência e a coragem do seu povo, mesmo depois de mais de 60 anos de bloqueio econômico. Cuba dirige o seu parco orçamento para entregar à nação cubana três refeições diárias, a melhor educação e as melhores condições de saúde das três Américas.
Portanto não nos iludamos com a economia liberal onde o real poder é ditado pelo poder econômico. Os nomes e sobrenomes dos diversos presidentes da república que se alternam em qualquer governo liberal são de somenos importância. Para eles o povo não conta e o que realmente conta, é a profunda ambição expansionista inculcada na sua mentalidade influenciada pela cultura imperialista.
Quanto ao restante? Ah, o restante “é conversa flácida para bovino dormitar,” como repetia o saudoso Humberto de Campos de Campina Grande.
Referências:
Geopolítica: o que é, história, importância – Brasil Escola (uol.com.br) (1)
Nações Unidas – ONU Portugal – História da ONU História da ONU (unric.org);
Otan x Pacto de Varsóvia – Guia do Estudante (abril.com.br);
O argumento de Biden para defender a ajuda bilionária dos EUA a Israel – Carta Expressa – Carta Capital; (2)
Fotografias:
A transição do feudalismo para o capitalismo – Pesquisar Imagens (bing.com);
materialismo histórico e dialético – Pesquisar Imagens (bing.com);
criação da ONU em 1945 – Pesquisa Google;
O que é a Otan e por que ela foi criada (poder360.com.br);
Guerra do Vietnã: resumo, motivos e participantes – Toda Matéria (todamateria.com.br);
11 de setembro de 1973 | Esquerda;
Relembrando o massacre israelense contra Gaza de 2021 – Monitor do Oriente;
Trump receberá mais poderoso porta-aviões da história em 2017 – Airway