Por: Neves Couras;
Sei que nestes últimos artigos, tenho abordado alguns temas não muito leves ou palatáveis. A morte ou o morrer ainda são temas que não são abordados com naturalidade, contudo, neste artigo, que eu espero ser o último da “série”, trataremos do luto.
Achei importante abordar esse tema, pois pude perceber que cada um enfrenta esse momento da partida de algum ente querido à sua maneira. Minha primeira experiência com essa ausência, ou pós-morte, se deu quando eu era muito pequena, e, o que entendia como luto era apenas as pessoas vestidas de preto.
Posteriormente, fui passando por várias ausências, contudo, demorou muito até eu ter a experiência da ausência de alguém que convivi tanto e com quem partilhamos tanta coisa juntos.
Quando os Evangelistas falam que no casamento cada um deixará sua casa, seu pai e sua mãe e começará uma nova família, não temos a dimensão real do que isso significa. Não é apenas uma solenidade e, depois dessa, os dois se mudam para uma nova casa. É um aprendizado que ali se inicia. São coisas que precisamos abrir mão para juntos, recomeçar novos costumes e novos sentimentos. É compreender, por vezes, é reclamar e não aceitar, por outras.
Depois vêm os filhos, e quando cada um que nasce, temos que reaprender uma série de coisas. Afinal tem um novo morador naquela casa e também precisamos nos adaptar a ele, depois a eles… enfim deixamos de ser dois para sermos dois, três… e assim quantos novos moradores que chegam em nossa vida, resultante de uma convivência de amor ou, às vezes, já sem tanto, mas é uma vida que já se instala.
É uma “empresa” que precisamos administrar, e a cada problema ou a cada alegria, alguma coisa muda naquela “empresa”: nossa casa. Um lugar para onde se convergem tantas energias, tantos novos modos de ser. São energias não só dos moradores da casa, mas das famílias de cada um que vai se agregando.
Esquecemos que da mesma forma que começamos, vamos terminando. Como a vida é bela! Quanta sabedoria tem o nosso Pai, o grande planejador de nossa existência. Quando um filho casa, muda algumas coisas em nossa casa, outro se vai, e, assim, vamos nos adaptando àquela nova forma de existir. Não se separa para sempre, ou apenas se muda de casa, mas quando alguém se muda para outra dimensão, e esse alguém fez parte da construção de inúmeras vidas, inclusive da sua, é a hora de você viver e reconhecer o que é verdadeiramente o luto.
Não estou abordando apenas uma vida em comum, mas a ausência de uma pessoa que deixa em cada canto da casa, seu lugar à mesa, seu modo de cortar as frutas, seu jeito de caminhar pela casa, suas brincadeiras, ou mesmo a “a cara feia” de vez em quando, tudo isso é o luto.
É o tempo necessário para deixar uma energia que existia, e recomeçar. Recomeçar como tudo antes dele. Os filhos também passam pelo luto, mas em tudo isso, preciso dizer que só precisa existir saudade, não lembranças de um tempo que não volta mais.
Vamos passar a nos lembrar apenas do que ficou de bom. Mas que agora, em nova dimensão ele estará bem, e se foi porque cumpriu sua missão aqui. Agora, cabe a nós continuarmos de novo jeito, a nossa vida.
Que cada um que deixa esse planeta, possa passar para uma dimensão onde possa viver do bem que aqui plantou. Aos que ficam, vamos sentir saudade, mas a vida continua. Continuemos unidos e com o amor que sempre cultivamos uns pelos outros