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Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz

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Devo admitir que nunca fui uma pessoa muito afeita a seguir dogmas religiosos. Fiz a primeira comunhão mais como um rito que deveria ser cumprido do que propriamente a confirmação do meu batismo. Lembro-me das aulas, da professora, do livrinho de orações e tudo mais, mas, sinceramente, nunca entendi muito bem do que se tratava.

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Confissão comunitária com o padre fazendo “perguntas de sim ou não”, compra da vela e por fim o milagroso momento de simbiose com o corpo e sangue de cristo: um biscoitinho meio molenga embebido em vinho que grudava no céu da boca. Não senti nenhuma comunhão ali. Aliás, o que eu deveria sentir?

Agora nesta época em que nos encontramos, me veio a velha lembrança “Jesus morreu na cruz para nos salvar”, bem, mas nos salvar de que, exatamente? Estaríamos todos condenados sem o Nazareno? Acho que sim. Então já que o cordeiro de Deus se sacrificou e purgou todos os nossos pecados dali em diante, viramos todos filhos do Pai, livres de pecado. Jesus subiu à cruz, foi morto e sepultado, e ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus. Certo?

Então como é que Jesus subiu aos céus com corpo e tudo? Elevador? Balão? E Pai, Filho, e Espirito Santo não eram uma coisa só? Como é que um está sentado ao lado do outro no paraíso rodeado de anjinhos gorduchos? Deveria ter prestado mais atenção no catecismo…
Vamos lá, devo me lembrar de alguma coisa. Jesus passou a vida pregando uma filosofia neoplatônica mais simplificada e fácil de compreender, pregou amor e caridade. Até aí tudo bem. Mas o motivo da morte do coitado continua sem fazer muito sentido, além do que sacrifício de sangue, que é pavoroso por si só, tem mais cara de paganismo do velho mundo que de novo testamento, ainda que transformado metaforicamente em pão e vinho.
Mas saindo dos detalhes técnicos de milênios atrás, a data não deveria, como nos antigos hebreus, ser comemorada como nossa libertação? Não dos grilhões da escravidão faraônica, mas de um mundo em que cada pobre alma vivia uma vida atormentada com a possibilidade de ser condenada ao fogo do mais profundo poço infernal? Jesus se foi e selou nosso destino. Irmãos e filhos do Pai celestial salvos pelo sacrifício de Jesus. Mensagem bonita. Jesus se sacrificou para que o seu pai (que é ele mesmo?) perdoasse eternamente a espécie humana. Fomos perdoados, afinal, não sabemos o que fazemos

Mas sobram umas perguntas, o inferno fechou as portas? Será que está lá hoje com os caldeirões de óleo fervente frios, os espetos sem uso… aquele salão enorme vazio… Será que não dava para reformar, transformar em conjunto habitacional… uma coisa útil? E que será que anda fazendo o diabo? Nos últimos anos anda aparecendo muito na TV. Sempre possuindo alguma criatura desafortunada que precisa de um pastor para expulsá-lo do corpo do coitado. Pudera, sem um pecador nesse mundo, todas as almas redimidas com o sacrifício do Nazareno, o coitado de Satanás está desempregado e sem ocupação há mais de dois mil anos, fica procurando uma moradia. Capaz até de ter virado Uber ou estar fazendo entrega de comida.

Deixando Deus e o Diabo de lado, vamos aos mortais. Me perdoem a ignorância no tema, mas acho que é exatamente nos temas que desconhecemos que devemos insistir. Jesus passou uma vida pregando sua mensagem de amor, se entregou ao calvário para que todos nós fôssemos salvos dali em diante. Então por que até hoje nos ameaçam com o fogo do inferno? Racionalmente falando, a criação de um inimigo é o jeito mais fácil de se arrebanhar seguidores, inúmeros autores falam disso. Judeus, comunismo, capitalismo, a burguesia degenerada, a juventude degenerada, imigrantes, pobres, pretos, indígenas, defensores dos direitos humanos, homossexuais, transexuais… a lista de inimigos é infinita. O fato é: um inimigo comum já é meio caminho andado para um movimento se estabelecer. Mas como criar um inimigo se o próprio Diabo foi derrotado e todos nós já estamos salvos de antemão?

Nas esferas políticas e sociais, inimigos são fáceis de serem criados, o “outro” pode ser decidido à escolha do freguês. Libertinagens que ameaçam a família tradicional, Ideais que ameaçam o sistema econômico posto, depende apenas da criatividade do intelectual da vez.

Desconheço as idiossincrasias de países não cristãos. Desconheço como islâmicos, budistas, tauistas, hindus e tantas outras abordagens religiosas que são maioria em tantos países lidam com seus inimigos. Mas em se tratando de um país majoritariamente cristão como o Brasil, não entendo como o discurso da necessidade de se “aceitar Jesus”, ou se seguir as empoeiradas letras do velho testamento que o próprio Nazareno tanto lutou contra ainda encontra tantas orelhas dispostas a ouvi-lo. Não entendo como uma filosofia que tem em sua base um lema como “ama o teu próximo como a ti mesmo” pode, ainda hoje, ser usada para pôr filhos na rua por suas orientações sexuais ou de gênero. Não entendo como uma filosofia, que tem como preceito a negação de normas retrógradas, pode servir de alimento para o conservadorismo.

Enfim, são muitas as coisas que não entendo, talvez por ser um religioso desatento, mas nesse domingo de páscoa, seja na abordagem judaica em que o anjo da morte passa pelo Egito e cumpre a última parte das dez pragas que levou à libertação do povo judeu, seja na cristã em que comemoramos a ressurreição de Cristo e sua ascensão aos céus, tenhamos em mente o que significa essa data: os tempos maus ficaram para trás, e, à nossa frente, se estende um caminho de felicidade e união.

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