Por Luís Nassif, do Jornal GGN; Da Redação 18 de agosto de 2024
De repente, surge uma base de dados retirada do WhatsApp do celular de algum assessor do Ministro. A base de dados é entregue a um jornalista da Folha que, antes, trabalhava em publicação amplamente reconhecida como de direita. Entra na parceria o jornalista Glenn Greenwald, que se destacou no episódio da Vaza Jato – a base de dados de conversas dos procuradores da Lava Jato, que liquidou com a operação.
E tudo é transformado em um enorme jogo político, pelo sistema Folha-Uol-PagSeguro, tendo como principal protagonista o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Não se interprete como jogo político a divulgação da base de dados. Jornalisticamente, é matéria de interesse jornalístico. Mas o tratamento dado – tentando criminalizar uma conduta de Alexandre reconhecida por quase todos os juristas como constitucional – foi a demonstração clara da conspiração em marcha.
As conversas divulgadas mostram o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, compartilhando informações com a equipe do Ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral, a respeito de investigações de crimes eleitorais. Em cima de fatos lógicos criou-se uma narrativa bizarra criminalizando o fato de que o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, não formalizou pedidos para que o Ministro Alexandre de Moraes, do TSE, investigasse suspeitos de crimes eleitorais.
Uma piada jurídica, no entanto, foi transformada na ponta de lança de uma ofensiva para neutralizar Moraes.
Quando se tem uma cobertura complexa, com muitas variáveis, em cima dos dados iniciais monta-se uma tese. Essa tese ajudará a dar objetividade à investigação, desde que não se transforme em bezerro sagrado – como na Lava Jato.
Vamos recorrer a esse método para analisar a campanha movida contra o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Peça 1 – O fator Sabesp
Ao entregar a Sabesp aos piranhas financeiros, o governo de São Paulo Tarcísio de Freitas abriu um mundo infinito de possibilidades para o mercado. Teve coragem de protagonizar, sem hesitar, o maior escândalo da história das privatizações, e sair incólume, incensado pela mídia.
A partir dessa falta de limites, Tarcísio colocou no campo das possibilidades, se eleito presidente, a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, talvez do BNDES e a autonomia final do Banco Central.
A partir daí, não haveria limites para o enriquecimento dos grupos financeiros, à custa do desmonte final do Estado. Seria uma argentinização do Brasil, em larga escala. Abriu-se, ali, a possibilidade de retomar o pacto Faria Lima-Bolsonaro, que garantiu quatro anos de negócios obscuros.
Peça 2 – O pacto Tarcísio-Bolsonaro
Semanas atrás correu o boato de que Tarcísio tentava conduzir um pacto com a família Bolsonaro, já que os filhos de Jair não aceitavam nenhuma candidatura que não fosse a dele. O caminho seria uma negociação com Alexandre de Moraes.
Nos últimos meses, houve várias referências à aproximação Tarcísio com Alexandre.
Os rumores davam conta de que haveria uma tentativa de negociação. De um lado, Alexandre de Moraes asseguraria que Bolsonaro não seria preso, mas continuaria inelegível. Em troca, os Bolsonaro passariam a apoiar Tarcísio.
Aparentemente, as negociações pararam em algum momento. Ontem mesmo, Tarcísio abriu baterias contra Alexandre de Moraes, reforçando a hipótese de conspiração armada com a mídia e com o mercado.
Ao mesmo tempo, o ex-Ministro do STF, Nelson Jobim, membro do Conselho de Administração do BTG, foi acionado para aumentar o tiroteio sobre Alexandre de Moraes. Com sua intervenção, aumentou as suspeitas sobre a participação de André Esteves no jogo.
Jobim foi peça central na demissão de Paulo Lacerda da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), no segundo governo Lula, jogada que permitiu a perda de controle sobre a Polícia Federal. Na época, apresentou à CPI um documento falso, de que a ABIN possuía equipamentos de grampear. Mostramos, aqui no GGN, que o documento era uma página copiada de um site que produzia equipamentos.
Peça 3 – A base de dados divulgada
Coautor da denúncia, o jornalista Glenn Greenwald tornou-se um personagem polêmico.
Sobre ele falarei outro dia. Ao contrário da mídia brasileira, e suas jogadas óbvias, Glenn é suficientemente complexo para não ser enquadrado em definições simplistas de esquerda ou direita. O que a reportagem fez foi se valer de sua implicância atual com os liberais progressistas, para utilizar a grife em uma jogada com propósitos políticos.
No dia 9 de abril passado, Glenn já havia feito uma defesa de Musk contra Alexandre de Moraes. E, nos últimos tempos, tornou Alexandre de Moraes seu alvo predileto. Com o endosso à jogada, porém, Glenn transpôs o Rubicão. A narrativa colheu elogios de Elon Musk, o ponta de lança da ultradireita mundial e completou o atual movimento da ultradireita de desestabilização do regime.
Mas a base de dados surgiu de outros canais.
Há semanas, a área de inteligência da Polícia Federal já tinha identificado uma movimentação anormal de bolsonaristas nas redes sociais, indicando uma expectativa incomum em relação a algum fato novo.
Na Polícia Federal a hipótese mais provável para o vazamento dos dados foi a prisão de Eduardo Tagliaferro pela polícia paulista, depois de problemas de violência doméstica. Segundo a reportagem da Folha, as mensagens abrangem o período de agosto de 2022, já durante a campanha eleitoral, a maio de 2023. A prisão de Tagliaferro foi justamente em 9 de maio de 2023.
Seu celular foi apreendido. E a deputada Carla Zambelli foi a primeira a divulgar a prisão.
Peça 4 – A nova aliança mercado x milícias
Volta-se, agora, a uma nova rodada de tentativa de golpe, similar à conspiração do impeachment. A democracia, hoje, depende de dois personagens: Lula e Alexandre de Moraes.
Os grupos de mídia se empenham diariamente em uma guerra de desgaste contra Lula. Agora, investem contra Alexandre de Moraes. Seu enfraquecimento significa deixar a porteira aberta para a invasão das tropas bolsonaristas, agora, comandadas por Tarcísio de Freitas.
E há ainda o fator externo. Todo esse movimento mostra uma articulação internacional da ultradireita. Ontem mesmo, Musk abriu seus canais para uma ampla entrevista com Donald Trump. Nosso analista, Pedro Costa Jr, no programa TV GGN 20 horas de ontem, chamou a atenção para a nova etapa da ultradireita.
Conforme alertou Steve Bannon, o guru da ultradireita, o candidato a vice-presidente de Donald Trump fará o titular parecer um moderado, tal seu nível de radicalismo. No Brasil, começam a surgir novas lideranças, ainda mais atrevidas e violentas que Bolsonaro, visando derrubar o líder que demonstrou fraqueza – movimento previsto por Freud, em seu livro sobre a psicologia de massas, da década de 20..
Como lembrou Pedro Costa Júnior, nosso analista, o Brasil passa a depender diretamente do resultado das eleições dos Estados Unidos. Uma vitória de Trump selará o destino da democracia brasileira. Por isso mesmo, o movimento contra Alexandre de Moraes é apenas o primeiro lance dessa conspirata. E os mesmos grupos de mídia, que atuaram decisivamente para a ascensão de Bolsonaro, repetem o mesmo movimento.