fbpx

Site do João Vicente Machado

Acreditar

- PUBLICIDADE -

Por:Antonio Henrique Couras,

- Publicidade -

Não é novidade para ninguém que me acompanha nesse espaço que eu sou um voraz consumidor de conteúdos diversos. O conteúdo que vem se mostrando o mais pungente na minha vida nos últimos anos tem sido o da egiptologia. O estudo sobre o famoso tempo dos Faraós, mais especificamente.

Atualmente, depois de algumas semanas debruçado sobre os feitos e acontecimentos de dois famosos Faraós da décima oitava dinastia, que reinaram há aproximadamente três mil e quinhentos anos, Akenaton e Tutancâmon, um ponto me pareceu bastante importante.

Antes, para o leitor que não conhece as especificidades desse período, um dos mais conhecidos períodos da história Egípcia, Akenaton, originalmente chamado Amenhotep IV, reinou aproximadamente entre 1353 a.C. e 1336 a.C. Seu reinado é particularmente notável por uma das mais radicais transformações religiosas da história egípcia.

Akenaton promoveu uma mudança profunda na religião egípcia ao introduzir o monoteísmo, uma adoração exclusiva ao deus Áton, o disco solar. Essa mudança foi uma ruptura drástica com o tradicional politeísmo egípcio, onde uma vasta gama de deuses era adorada, sendo Amon o principal deles.

Imagem: Divulgação

Para consolidar essa nova fé, Akenaton mudou seu nome de Amenhotep IV (que significa “Amon está satisfeito”) para Akenaton (“Servo de Áton”) e transferiu a capital do Egito de Tebas para uma nova cidade hoje conhecida como Amarna, dedicada exclusivamente ao culto de Áton.

O motivo de tal mudança é até hoje amplamente discutido na comunidade acadêmica. O que motivou Amenhotep IV a tal radical reforma em uma instituição tão antiga e poderosa como a religião egípcia?

O que me chamou a atenção nesse movimento foi como a comunidade acadêmica contemporânea trata um assunto que até para o mais leigo dos interessados é uma questão de cunho religioso. Muito se fala em como os templos e sacerdotes dos mais variados Deuses serem um estamento extremamente poderoso dentro da sociedade egípcia e de como o Faraó teria feito tamanha mudança, ganhando, inclusive, a alcunha de “herege”, apenas com fins políticos e econômicos.

Ainda nos meus tempos de universidade, aprendi que não podemos olhar o passado com os olhos (e os valores) do presente. E nesse caso acredito que é o que acontece na comunidade científica que se dedica a estudar esse período da história africana.

Apesar de as reformas implantadas por Akenaton terem se dado logo nos primeiros anos de seu reinado, por muito tempo, apesar de todas as mudanças, o culto aos velhos deuses não era perseguido. É verdade que o benemérito da coroa não agraciava mais uma miríade de templos como outrora, mas não havia um esforço ativo para a proibição do culto, templos ou sacerdotes dos antigos deuses.

Imagem: Divulgação

Por volta do seu quinto ano de reinado, acontece o movimento que deu ao rei a sua alcunha de herege. Então, o rei mandou que fossem removidos dos templos os símbolos e o nome do deus Amon, o rei dos deuses. Muito se discute a motivação para tal ter ocorrido, mas fato é que não se sabe ao certo o que motivou o rei a tanto.

No mesmo diapasão, após a morte de Akenaton, depois de cerca de 17 anos de reinado, há uma breve sucessão de monarcas. Inicialmente ascendem ao trono um ou dois corregentes, Smenkhkare, que ninguém sabe ao certo quem era, podendo ser filho, genro ou mesmo sua esposa Nefertiti que teria mudado seu nome e ascendido ao trono não como rainha consorte, mas como rei; e a própria Nefertiti.

O que se sabe é que a sucessão ao trono depois da morte de Akenaton não foi um negócio simples. Contudo, um traço comum a todos os seus sucessores é o fato de, independentemente de quem tenha sido pôs-se fim ao monoteísmo imposto por Akenaton.

E aqui mais uma vez traz-se uma miríade de motivos sociais, econômicos e políticos para a volta da corte à Tebas e o restabelecimento do culto aos antigos deuses. Contudo, pouco é discutida a possibilidade da fé.

A essa altura o leitor já deve ter percebido que eu perdi o juízo e o bom senso há muito. Não vou negar que meus parafusos nunca foram muito justos, mas prometo que esse texto é, sim, uma crônica, aguente firme.

Tal discurso parece ser um lugar-comum nas discussões acadêmicas hoje em dia. Desde as discussões em torno dos feitos de um rei egípcio há mais de três mil anos como os estudos em volta das curas realizadas em terreiros, centros espíritas ou das mais prosaicas e milagrosas pílulas de frei Galvão.

Na antropologia, a o se realizarem escavações e se encontrarem os mais diversos objetos que têm seus usos desconhecidos pelos pesquisadores, lhes é dado a alcunha de ritualísticos. O que, inclusive, já se tornou até uma piada entre antropólogos e historiadores. Aparentemente, quando a ciência encontra curas as quais não podem explicar, lhes dão como motivo o efeito placebo da fé.

Acredito que, talvez, a nossa ciência ocidental, ao se deparar com os famosos milagres de Jesus descritos na bíblia, ou as prosaicas ervas de uma rezadeira que curam quebranto e mal olhado, não consiga perceber que há, como disse Hamlet “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia” (mais uma vez a arte anos luz à frente dos cientistas)

A mesma postura pode ser observada quando pensadores mais progressistas tentam explicar o fenômeno do crescimento da porcentagem de evangélicos na América Latina e no Brasil. Milhares de argumentos surgem: os evangélicos crescem porque o seu discurso mira a situação de dificuldade socioeconômica, a presença das igrejas nas comunidades mais pobres e o seu papel de fornecer os mais básicos víveres à uma comunidade a quem tudo falta. Até o discurso de que a religião é uma forma de se criar vínculos comunitários e criar um sentimento de pertencimento nas comunidades é utilizado, mas parece que se esquecem de algo que parece ser imutável no ser humano: a fé.

Talvez Akenaton tenha feito sua revolução religiosa porque ele realmente acreditava que a divindade residia, de fato, no círculo solar, Aton. Talvez o número de evangélicos cresça porque as pessoas realmente têm fé no que pregam e vivem.

Talvez, em pleno século 21 devamos nos lembrar que o ser humano é o mesmo há milênios e que a fé é uma parte incontornável da nossa condição humana.

Imagens : Divulgação

 

Relacionados

Reencontro

Resignação

Tlamatini

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ajude o site João Vicente Machado

spot_img

Últimas

Mais Lidas

error: Conteúdo Protegido!