Por: João Vicente Machado Sobrinho;
Até a última década do século XX, o Brasil era um país bem mais industrializado do que a China e do que os chamados Tigres Asiáticos.
As bases da industrialização pesada que foram lançadas no período de governo do presidente Getúlio Vargas, foi de fundamental importância para dar suporte à planta industrial brasileira emergente.
A despeito disso, o nacionalismo do presidente Getúlio Vargas teve de enfrentar o mau humor do imperialismo estadunidense inconformado com a ousadia brasileira, notadamente no seu segundo governo. A opressão das forças externas encontrou guarida, apoio e cumplicidade por parte de alguns grupos políticos e econômicos entreguistas tupiniquins.
A primeira metade do século XX caracterizou-se por um auspicioso crescimento da indústria de base nacional, tendo como consequência positiva o consequente crescimento do nosso Produto Interno Bruto-PIB, a geração de emprego e renda e a melhoria da qualidade de vida do nosso povo. Esse estado de bem estar social, provocou uma inquietadora apreensão no gigante imperialista do hemisfério norte das Américas. Os USAN nunca aceitaram o surgimento de uma nova potência econômica no hemisfério sul, que viesse ameaçar a sua hegemonia e o seu poderio no continente.
A ideia de repaginação do velho liberalismo econômico surgiu em contraponto às ideias de John Maynard Keynes e floresceu ainda mais com o adubo da chamada escola austríaca que teve em Friedrich Hayek e Ludwig von Mises os seus expoentes.
A teoria rediviva de Hayek foi apropriada por Milton Friedman e o corpo acadêmico da vetusta escola de Chicago, devidamente adaptada para dar origem ao velho novo liberalismo econômico. A ideia era torná-lo mais moderno e charmoso, adicionando-lhe ao nome, o radical latino neo, ficando com a grafia neoliberalismo.
No que concerne à América Latina, o neoliberalismo teve como laboratório o Chile do mega ditador Augusto Pinochet. Foi maquiado pelos Chicagos Boys e depois de alguns anos, a miopia da burguesia latino-americana que se hospeda em hotéis de cinco estrelas, passou a considerar o Chile como a uma Suíça tropical.
Resultado: a gota d’agua da opressão transbordou para as ruas das grandes do Chile, numa convulsão social que continua em banho maria e obrigou o governo conservador de plantão a mudar de rumo.
“NÃO PERMITIREMOS UM NOVO JAPÃO AO SUL DO EQUADOR.” (1)
“Essa frase foi proferida pelo secretário de estado dos Estado Unidos da América do Norte-USAN Henry Kissinger que exerceu o cargo de forma ininterrupta entre 1953 e 1977. Nesse período ele foi artífice da derrubada das principais democracias latino-americanas.
Ao fim da II guerra mundial, o mundo foi dividido entre os vencedores ficando os USA com as Américas, A Europa com a África e a União das Republicas socialistas-URSS com o Leste europeu e parte do Oriente Médio.
A deposição de Vargas em 1945 e a tentativa de impedir sua posse em 1951, a ‘novembrada’ contra Juscelino em 1955, a tentativa de golpe em 1962 e enfim a derrubada de João Goulart em 1964. Tudo isso revela a ação sistemática de um mesmo grupo na consecução da tomada do país, todas elas orquestradas e subvencionadas pelos EUA.
O marechal Castelo Branco, o principal artífice do golpe, era amigo pessoal de Vernon Valters, adido militar estadunidense no Brasil, com o qual cooperou na operação Brother Sam, chegando a convencionar a:
‘entrega clandestina de armas não estadunidense (para impedir identificação e evitar acusações de intervencionismo) a serem repassadas aos cumplices de Castelo Branco em São Paulo, bem como a operação de um porta-aviões, um porta helicóptero, um posto de comando aerotransportado, seis contratorpedeiros, (dois equipados com mísseis teleguiados) carregados com cem toneladas de armas (inclusive um gás lacrimogênio para controle de multidões, chamado CS agent) e quatro navios-petroleiros que traziam combustível para um eventual boicote das forças legalistas.
Os arquivos de Estado dos USAN demonstram em detalhes a intervenção dos USAN no Brasil via aliciamento da cúpula das forças armadas.” (1)
No dia 22 de janeiro de 2024 o presidente Lula anunciou o lançamento de um programa que chancelou com o nome sugestivo de Nova Industria Brasil-NIB, apresentando metas e ações que pretende estimular a nossa reindustrialização até o ano de 2033.
“A expectativa é de que, colocadas em prática, essas medidas resultem na melhoria do cotidiano das pessoas, no estímulo ao desenvolvimento produtivo e tecnológico; e na ampliação da competitividade da indústria brasileira, além de nortear o investimento, promover melhores empregos e impulsionar a presença qualificada do país no mercado internacional.
As metas estão agrupadas em seis missões, cada qual com suas metas. A primeira – cadeias agroindustriais – pretende garantir segurança alimentar e nutricional da população brasileira. A meta é chegar à próxima década com 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar mecanizados. Atualmente, este percentual está em 18%, segundo o governo.
Além disso, 95% dessas máquinas devem ser produzidas nacionalmente, o que envolverá a fabricação de equipamentos para agricultura de precisão, máquinas agrícolas para a grande produção, ampliação e otimização da capacidade produtiva da agricultura familiar “para a produção de alimentos saudáveis”, explicou o Planalto.
O segundo grupo de missões é o da área da saúde, e tem como meta ampliar de 42% para 70% a participação da produção no país, no âmbito das aquisições de medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, entre outros. A expectativa é de o Sistema Único de Saúde (SUS) seja fortalecido.
O terceiro grupo de missões – bem-estar das pessoas nas cidades – envolve as áreas de infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis. Ele tem como metas reduzir em 20% o tempo de deslocamento das pessoas de casa para o trabalho. Atualmente esse tempo é, em média, de 4,8 horas semanais no país, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE.” (2)
A notícia é por demais alvissareira e no nosso entendimento, se vier a acontecer, vai reafirmar a posição do Brasil em defesa do meio ambiente e de um desenvolvimento sustentado; vai fortalecer as ações de saúde e do SUS, e vai credenciar o país e a nossa soberania no nosso reingresso nos BRICS.
Porém não nos iludamos! Os grupos internacionais que enxergaram o Brasil um mau exemplo naquela época como uma ameaça à sua hegemonia não estão mortos. Pela narrativa anterior, com certeza irão reagir sabotando ou cooptando os grupos entreguistas nacionais para colaborar no serviço sujo.
A iniciativa do presidente Lula, mais do que nunca, vai necessitar de apoio que deveria ter brotado das lutas populares e não da sabotagem oportunista dos patriotas de fancaria.
Referências:
Ressurreição Nacionalista: “Não Permitiremos um Novo Japão ao Sul do Equador”. (ressurreicaonacionalista.blogspot.com);
Fotografias:
OPINIÃO | A mídia burguesa e os ataques do imperialismo norte-americano – A Verdade;
CSN, de Vargas à privatização | Acervo (globo.com);
La escuela de Chicago versus la escuela austriaca | Instituto Mises;
História Mundi: Imagens Históricas 14: Castello Branco (histormundi.blogspot.com);
O retorno do Brasil aos Brics – Pesquisa Google;