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“Não precisa explicar, eu só queria entender”

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Por: João Vicente Machado Sobrinho;

Nos idos dos anos  de 1970 foi exibido um interessante programa humorístico de televisão, comandado por Agildo Ribeiro e Jô Soares com grande sucesso de audiência. Era denominado  Planeta dos Homens e nele, o personagem central era o Macaco Sócrates, interpretado pelo ator Orival Pessini que nos deixou recentemente. Sócrates   repetia com frequência um bordão que se tornou a coqueluche e o modismo da época.

Sempre que  se deparava com alguma insensatez por parte dos humanos, Sócrates pedia explicações ao seu interlocutor e, mesmo antes de ter a resposta ele já disparava o bordão: “Não precisa explicar, eu só queria entender.”

Um outro personagem coadjuvante arrematava: “O Macaco tá certo!”

Mutatis mutandis, ocorreu algo parecido no conflito armado que contrapôs dois ex aliados, a Rússia e a Ucrânia. Quem tem um mínimo de informação, está plenamente ciente de que a questão de fundo na verdade, é uma mera disputa geopolítica entre a Rússia e os Estados Unidos da América do Norte-USAN, duas potências bélicas.

 

A Ucrânia se desvinculou do bloco de aliados da extinta URSS, logo que aconteceu o debacle da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS, quando a guerra fria perdeu o seu sentido e objeto. Em seguida, os governantes da Ucrânia se aproximaram dos Estados Unidos da América do Norte-USAN e ensaiaram a filiação do país ao Tratado do Atlântico Norte-OTAN.

Mesmo perdendo a essência depois da guerra fria, a Ucrânia que é um grande produtor de alimentos passou a ser apenas o um apêndice ideológico, estratégico  e bélico dos USAN.

Por sua vez, os USAN que nunca deram ponto sem nó e sempre alimentaram o sonho de instalar uma base militar no leste europeu, encontraram na Ucrânia o endereço ideal. Por seu termo a Rússia que faz fronteira com a Ucrânia, nunca aceitou essa ideia de alinhamento aos USAN  por uma questão  geopolítica decisiva.

Mutatis mutandis imaginemos que o México, que é um país fronteiriço com os USAN entendessem de permitir que a Rússia instalasse  uma base militar no seu território, mais precisamente no deserto de Sonora na fronteira com o Arizona.  Qual deveria ser a reação dos USAN? um doce para quem adivinhar!

Foi exatamente nessa parte do conflito que se prenunciava, que entrou em cena um ator, comediante por profissão  chamado  Volodymyr Zelensky,  , que acabou virando presidente da Ucrânia. Como artista e prestidigitador,  Zelensky fez uso da sua arte para vender ao mundo ocidental a ideia de que, uma vez apoiado financeira e materialmente ele iria vencer a guerra contra a Rússia.

Os USAN  por conveniência e interesse próprio,  dispenderam com a Ucrânia mais de U$ 5 bilhões em dinheiro, além do fornecimento de um verdadeiro arsenal bélico. Em troca de tudo isso,  Zelensky só entregou um amontoado de escombros em que a Ucrânia vai se transformando, na medida em que a guerra perdura.

Descrente das afirmativas de  êxito bélico por parte  de Zelensky, o ex secretário da OTAN no período entre 2009 e 2014, Anders Fogh Rasmussen propôs integrar a Ucrânia na aliança militar à fórceps, mesmo sem a posse dos territórios ucranianos atualmente ocupados pela Rússia.

Vejamos o que diz a matéria publicada na revista Carta Capital, edição do dia 13 de novembro de 2023:

“A Ucrânia tem como de seus pilares de política externa uma adesão à Otan. Mas a entrada na aliança esbarra na atual guerra de agressão da Rússia contra o país, e dos seus territórios ocupados. Para contornar isso, um ex-secretário geral da aliança militar apresentou uma proposta para que a Ucrânia finalmente se junte à Otan: só que sem os territórios atualmente ocupados pela Rússia, segundo uma reportagem do jornal The Guardian;
Após deixar a chefia da Otan, Rasmussen trabalhou auxiliando diferente governos ucranianos. Mais recentemente, ele atuou auxiliando um conselheiro do presidente Volodymir Zelensky, especialmente antes da última cúpula da Otan em Vilnius, que ocorreu neste ano, e que terminou sem nenhum convite de adesão para a Ucrânia;
Rasmussen afirmou ao jornal The Guardian que uma adesão da Ucrânia à Otan não pode ser adiada novamente na próxima cúpula. “Chegou a hora de dar o próximo passo e estender o convite para que a Ucrânia entre para a Otan. Precisamos de uma nova arquitetura de segurança europeia na qual a Ucrânia esteja no centro da Otan (grifo nosso)”; (1)

Para sustentar uma guerra que se prenuncia perdida, o mundo ocidental investiu uma verdadeira fortuna, tanto com relação ao fornecimento do arsenal de armamento pesado, quanto com os custos do  apoio militar e financeiro. O jornalista Jamil Chade na sua coluna publicada em noticiasuol.com.br edição do dia 23/02/2023 traz algumas informações importantes acerca do custo da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Diz ele na manchete do citado artigo da sua lavra:
“Apoio do Ocidente para a Ucrânia é 3 vezes maior que combate à fome no mundo.”

Em seguida ele completa a notícia no corpo da matéria, acrescentando:

“Às vésperas da guerra na Ucrânia completar 1 ano em 24 de fevereiro de 2023, os números revelavam que as potências Ocidentais haviam destinado quase U$ 120 bilhões em entrega de armas e ajuda financeira ao governo de Kiev.”

Em 1° de maio de 2023 os gastos globais militares com a guerra, atingiram a cifra de US$ 2,24 trilhões com T de Touro. A guerra  ampliou substancialmente  o mercado da indústria bélica estadunidense e fez com que o volume de vendas aumentasse em 14%.

Números fantásticos  como estes, sem um comparativo referencial para explicá-los, tornar-se-ão um tanto quanto abstratos. Nesse sentido, vejamos o que afirmou o presidente Lula sobre o astronômico volume de recursos usados para matar e desabrigar pessoas na guerra ucraniana:

“O mundo gastou, desde 2022 até agora, US$ 2,224 trilhões em armas de guerra. (grifo nosso) Isso é gasto. Porque o benefício que você traz é morte de outros. O benefício que isso traz é destruição de outros. Agora, você imagina se a gente pegasse US$ 2,224 trilhões para investir em alimentação, a gente acabaria com a fome dos 735 milhões de pessoas que estão passando fome, segundo a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] “(2)

https://www.poder360.com.br.

Invoquemos um outro exemplo bem didático: Se considerarmos que 150 milhões de pessoas no mundo atual vivem desabrigadas e se confrontarmos esse passivo social com os gastos com a guerra da Ucrânia, seria possível construir 20 milhões de habitações dignas, para abrigar 80 milhões de pessoas, ou seja mais da metade dos desabrigados do mundo.

Alguém deve estar a se auto  indagar: porque será que diante de tantas evidências, tanto o problema da fome e da miséria quanto a questão da moradia ainda não foram resolvidas? um outro, com certeza irá responder: por falta de prioridade política. Simples assim!

Diante de uma resposta um tanto quanto simplória e analógica como essa, a dialética com certeza nos empurrará para a realidade, gritando alto e bom som: “porque a história da humanidade até os dias de hoje é a história da luta de classes!” como bem nos ensinou Karl Marx.o nosso mestre da FIOCRUZ Frederico Simões Barbosa de saudosa memória, com certeza complementaria dizendo: “o capital não existe para fazer filantropia! O capital existe para multiplicar o lucro da classe dominante!”

Ora, a classe dominante é composta por uma  minoria esmagadora de  burgueses, os quais  se autoproclamam como o setor produtivo da sociedade, como se fosse a salvadora da pátria. O modo de produção de que falam e no qual preferem investir e preservar, é a causa maior da fome, da miséria e da morte, em detrimento da classe dominada e da vida humana. Destarte, pela visão politicamente embaçada e  pela lógica do lucro fácil, ela se livrará tanto do fantasma da consciência, como de um problema por ela mesma criado que é o surgimento de uma enorme massa de famélicos e de párias que Marx qualificou como  lumpemproletariado.

Imaginem os leitores, internautas e assinantes, o turbilhão de recursos que está sendo despejado por Israel na Faixa de Gaza, para promover um massacre genocida contra a indefesa população palestina, aí incluídos: idosos, mulheres, crianças, enfermos, médicos e paramédicos.

A solução? Só há uma que é a mais poderosa e eficaz de todas elas: a organização, a unidade e a reação do povo oprimido!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:
Ex-chefe da Otan defende adesão parcial da Ucrânia no bloco – Mundo – Carta Capital (1)
Com crescimento de 640% na Ucrânia, gasto militar mundial bate recorde (uol.com.br);
Dinheiro gasto com guerra poderia acabar com a fome, diz Lula (poder360.com.br);

Fotografias:
https://cartaodevisita.r7.com;
https://br.pinterest.com;
https://www.bbc.com/portuguese/internacional;
https://www.folhape.com.br/noticias/zelensky-agradece-a-biden;
https://www.cartacapital.com.br/mundo/o-balanco-terrivel-de-um-ano-de-guerra-na-ucrania;
https://www.google.com;

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