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Quais são os pilares da sabedoria?

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O título ao artigo faz lembrar  um dos livros mais interessantes que tivemos a oportunidade de ler. De autoria de Thomas Eduard Lawrence, o Lawrence da Arábia. O livro é um tratado de sociologia e antropologia, vivido na prática do cotidiano do autor, período  da I guerra mundial, entre os anos de 1917 e 1920.

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Durante dois anos Lawrence organizou os árabes e os  induziu à luta armada frente a Turquia, numa missão de estado que lhe foi confiada pelo governo inglês.

O objetivo era impedir a adesão do Império Otomano, às forças belicosas dos países do eixo Roma Berlim que, em acontecendo, seria muito desfavorável aos interesses dos britânicos e poderia desequilibrar a correlação de forças na ribalta da guerra.

Tal como o coloca o autor logo no arranque, “a história não é a do movimento árabe, mas da minha participação nele. É uma narrativa da vida quotidiana, de acontecimentos mesquinhos, de gente pequena. Não há aqui lições para o mundo, não há revelações que choquem as pessoas.”

Ora, qual seria então a proclamada sabedoria contida nos sete pilares idealizados por Lawrence? Vejamos:

01-O tempo
02- A experiência da vida reflexiva
03-Dar sentido à ambiguidade
04-Decidir com bom senso
05-Viver a vida com pragmatismo
06-Ser empático
07-Ter maturidade emocional

A ideologia da qual Lawrence estava impregnado nessa missão, era a ideologia  do poder dominante à época que era a Inglaterra e para tanto era preciso  fazer valer a qualquer custo os propósitos do império Inglês, preservando sob seu controle e  domínio a geopolítica e a hegemonia mundial.

No epílogo é perceptível a angustia e o arrependimento de Lawrence por ter abusado e traído a confiança e a boa-fé dos árabes. Há até quem diga que a sua morte misteriosa ocorrida em maio de 1935, num acidente de motocicleta, teria fortes indícios de assassinato. Todavia, até hoje não se sabe ao certo a  quem a sua morte poderia interessar.

Dizia ele:

“Todos os homens sonham: mas não do mesmo jeito: aqueles que sonham de noite nos recessos empoeirados de suas mentes acordam no dia seguinte para descobrir que os seus sonhos eram vaidades: mas aqueles que sonham de dia são homens perigosos, pois sabem atuar em seus sonhos com os olhos abertos para torna-los realidade.”

Recorremos ao exemplo da participação de Lawrence na I Guerra, para compara-la à luta da classe trabalhadora,  no esforço libertário de  alguns países, para livrar-se  dos  grilhões do capital. Foi assim na Rússia revolucionaria  em   1917; na revolução  chinesa que terminou vitoriosa em 1948; na vitoriosa revolução cubana no século passado e na guerra do Vietnam. Todas elas  foram revoluções  vitoriosas que  aconteceram de forma muito  planejada, sem espontaneísmo nem improvisações. Para o êxito alcançado, colocaram em prática o pensamento filosófico  de Karl Marx e fizeram uso de uma teoria materialista para   orientar  a estratégia de luta, além do uso de  um método materialista, o materialismo dialético.

Para arrematar, estiveram sempre sob o  comando de uma  vanguarda revolucionária de luta, composta por  nomes como: Lenin, Trotsky, Stalin, na Rússia; Mao Tsé Tung, Chu En Lai e Lin Piao na China; Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos em Cuba;  Ho Chin Min e Giap no Vietnam. Essas vanguardas lideraram e deram  rumo à ação revolucionária vitoriosa.

A fundamentação teórica do materialismo nasceu do pensamento de  Karl Marx. Na aurora da sua vida acadêmica ele desenvolveu primeiro  um embrião pouco conhecido e que está presente no seu primeiro escrito: A Filosofia do Direito de Hegel, (colocar link do meu artigo) no qual  desafiou o pensamento filosófico de  de Hegel , que era  embasado no pensamento filosófico idealista, amplamente majoritário na época.
Depois, mais maduro e vivido, editou o Manifesto Comunista em 1848, cujo conteúdo foi uma bomba de efeito moral no ideário liberal burguês, talvez até pela contundência da frase inicial: “Um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo….”

Finalmente, em 1867 Marx publicou o primeiro volume de O Capital em parceria com Friedrich Engels.

Lançou o segundo volume em 1885 e finalmente o terceiro volume, foi publicado por Engels em edição póstuma no ano de 1894. Os três volumes de O Capital mesmo depois de 128 anos, teve e continua a ter, um impacto tão contundente que o tornou a  obra mais polêmica da história da humanidade.

Na sua obra prima que foi O Capital, Marx consolidou a teoria materialista que ainda hoje provoca pesadelos e comichões na burguesia.
Por definição:

“O Materialismo dialético é uma corrente filosófica que utiliza o conceito da dialética para entender os processos sociais ao longo da história. Se opõe ao idealismo, cujos pensadores acreditam num ambiente e numa sociedade, com base no mundo das ideias. São criações divinas seguindo as vontades das divindades ou de outra força sobrenatural.”

Essa teoria revolucionária exposta por Marx, é um caminho para a libertação da classe trabalhadora, uma luz no túnel para alumiar   a mobilização e a organização das massas obreiras através de uma vanguarda que lhe dê  um rumo libertário.

Esses são os pré requisitos que a classe trabalhadora mais necessita  como fundamentação teórica para  enfrentar a teoria liberal burguesa e instrumentalizar a luta de classe. Vivemos um momento  sombrio, de tempos muito  difíceis, com o aprofundamento da exploração  que tem como consequência o desemprego, a fome e a miséria da classe trabalhadora, contrastando com o aumento do número de bilionários, um projeto de subordinação mundial e muito agravado  no Brasil.

As condições objetivas de que necessitamos como motivação para materializar a nossa luta já temos em abundância e são elas: concentração de renda, recessão, desemprego, fome e miséria. A nós, povo, cabe construir as condições subjetivas ditadas pela consciência de classe, para encontramos a ponte que nos conduzirá à travessia libertária.

As eleições que se aproximam, mesmo organizadas segundo os ditames do liberalismo burguês, é uma grande oportunidade de avançarmos na correlação de forças  e aumentando  a nossa inserção e participação, tanto nos governos estaduais, como nas casas legislativas nas três instâncias.   Uma nova composição que nos seja mais favorável que nos  assegure  avançar nas conquistas, que nos nos permita   acumular forças para a darmos  continuidade ao processo de luta histórico.

Sabemos que mesmo com a vitória do companheiro Lula, pela qual iremos lutar, o máximo onde poderemos chegar é a um governo reformista de coalizão. Portanto, depende de nós e mais ninguém, através do nosso voto,  tornar essa coalizão menos draconiana e garantir a governabilidade.

Poderemos obter algumas  vantagens e avanços que nos propiciem em primeiríssima hora resgatar 40% da nossa população que se encontra abaixo da linha da miséria, e conceder-lhe  o mais elementar dos direitos fundamentais do homem que é comer. Comida para todos; escola para todos; saúde para todos; terra para que todos que nela trabalham  e dela vivam possam trabalhar. A partir daí iremos a procura do restante que nos é devido há séculos.

Contudo, a dimensão e a magnitude das nossas conquistas, serão diretamente proporcionais ao tamanho das bancadas parlamentares que consigamos eleger nas três instancias. Precisaremos  delas para fazer o contraponto parlamentar com as forças da reação e garantir a governabilidade ao futuro governo do presidente Lula e aos futuros  governadores que iremos eleger.

O nosso fortalecimento teórico fará com que o nosso raciocínio se transfira do estomago para a cabeça e esse é o grande medo das oligarquias. O despertar do povo para a sua capacidade e o seu poder, tira o sono do conservadorismo e das forças vivas da reação. Tudo quanto eles não querem é um povo  consciente!

No momento atual  temos uma economia em frangalhos, vivemos a pior das recessões que é a estagflação.  A consequência direta  é  um alto índice de desemprego e subemprego, com  uma economia informal crescente, sem nenhuma seguridade social.
O cenário atual não nos acena com nenhuma perspectiva de recuperação, sequer a longo prazo. Além disso se somam aos efeitos da recessão permanente, cominando com uma investida fulminante contra nos direitos sociais dos trabalhadores. Direitos que são  subtraídos nas madrugadas legislativas,  disfarçadas pelos bois de piranha frequentemente jogados ao rio pelo inominado.

A divisão do trabalho de forma draconiana tem alargado o uso da inteligência artificial que vai causar ao mundo do trabalho as mesmas sequelas que a automação provocou ao mundo fabril. Em ambos os casos o aprofundamento da mais valia absoluta concentrará a posse do capital cada vez mais no topo da grande pirâmide social.

A macropolítica econômica praticada por esse governo, voltada para os interesses do grande capital, tem operado no sentido de promover a retirada do estado da economia, nos reduzindo a  mero  exportador  de comodities. É  o retorno ao estagio da republica velha, a chamada república de bananas.

A alienação do patrimônio público nacional tem sido feita através de um programa oportunista de privatização que vem  reduzindo a nossa perda de identidade como nação e já nos coloca  no 12° lugar economia mundial, nós que no governo Lula fomos o 6°lugar.

A nossa autoestima está sendo a cada ano reduzida à rés do chão, pela ação de um projeto ideológico de dominação de classe violento e cruel.

A politica educacional alienante que vem sendo posta em prática riscou da grade escolar o estudo das ciências sociais, com o fito de aprofundamento ainda maior da alienação.

Pilares científicos da sabedoria como a Filosofia, Sociologia, Antropologia, Ciências Sociais, Pedagogia, História e Economia Política, foram banidos,  enfraquecidos e retirados  da grade escolar tanto do ensino público como privado.

Entidades públicas ou privadas de ensino parecem obedecer a uma pedagogia de dominação vinda da catedral do capitalismo. As disciplinas malditas e “comunistas”, algumas  umas foram banidas definitivamente  e outras permanecem com uma carga horaria irrisória de apenas  uma aula a cada 15 dias.

Para nós e os nossos interesses, esses são os sete pilares da sabedoria, mundialmente reconhecidos que eles querem implodir a todo custo  por puro medo de que despertem no povo a ideia de libertação.

Personagens insignes do campo das ciências sociais, a maioria brotada do meio do povo, são esteios culturais nacionais  nos quais  nos apoiamos: Caio Prado Junior, Josué de Castro, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire e o pai da sociologia crítica das três américas que é o mestre Florestan Fernandes.  Hoje  são demonizados, e alguns deles  secundarizados e reduzidos  na sua real importância  numa tentativa solerte de desconstruí-los,  apagando as suas histórias.(aqui)

O exemplo da bela história de vida e de luta do mestre Florestan Fernandes, por ser talvez  o mais sofrido de todos eles,  sempre estará presente nas nossas mentes como um forte exemplo de perseverança, determinação, estoicismo e coragem.

Os seus preciosos ensinamentos sociológicos,  nos despertam uma enorme esperança na aurora de um novo tempo e, nos instiga a seguir na luta, cada vez com mais intensidade, com mais determinação e  fé.

Florestan Fernandes é o patrono da sociologia brasileira e foi reconhecido como tal, pela Lei 11.325, de 24 de julho de 2006. Foi deputado federal constituinte pelo PT de São Paulo e deu uma valiosa contribuição para constituição de 1988, a qual o doutor Ulisses Guimarães denominou constituição cidadã,  que as forças da  reação e do  conservadorismo tentam a todo custo rasga-la.

Filho de mãe solteira, ele não chegou a conhecer o pai e foi criado numa casa de família abastada em São Paulo  por ele mesmo definida assim:

“O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de Dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina.” “na casa de minha madrinha, uma senhora da família Bresser que falava francês tocava piano…. Lá aprendi a ler.”

Até esse exemplo Florestan nos deu: demonstrou ele que a limitação econômica a que foi submetido na infância, não foi um grilhão suficiente para aprisiona-lo e conte-lo. Nem mesmo  o seu nome, Florestan, foi uma iniciativa do limitado ciclo familiar restrito a ele e à mãe.  Foi inspirado no nome do motorista alemão da sua madrinha, a rica Hermínia Bresser, que era amigo da mãe dele.

Resumindo: Florestan que estudou até o seu encantamento, tornou-se, professor emérito, escritor famoso, autor de uma produção literária robusta, ou seja, tornou-se o maior sociólogo critico das três Américas. Destacamos três obras da sua vasta produção:

A integração do negro na sociedade de classes, Dôminus Editora 1965;

Capitalismo dependente e Classes Sociais na América Latina, editora Zarar, 1973;

Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana, TAQ,1979.

Marxista convicto, ele era incisivo: “Sou um marxista que acha que a solução para os problemas dos países capitalistas está na revolução.”

Por ironia do destino de professor, foi orientador dos estudos de Fernando Henrique Cardoso. Porém nunca  poderá  ser responsabilizado pelo rumo neoliberal e o desvio de rota tomado por  ele.

FHC, quando   se ajoelhou diante do neoliberalismo, chegou a pedir que esquecessem tudo quanto ele houvera dito e escrito antes, numa deplorável capitulação ideológica.

Ao contrário do aluno FHC, o mestre Florestan certa vez ao ser indagado por um repórter sobre os rumos a tomar em mais uma das crises cíclicas do capitalismo liberal burguês,  respondeu:
Vá ler o manifesto comunista!”
O repórter insistiu:
“mas o manifesto comunista tem mais de 140 anos!” (completado em 1988)
Florestan completou:
“o estado ainda é o mesmo de 1848 e carrega com ele as mesmas mazelas capitalistas. Portanto o manifesto comunista é mais do que atual, ele é pós moderno!”

Portanto nesse momento sombrio que atravessamos, devemos procurar inspiração nos sete pilares da sabedoria representados pelo pensamento  lutadores pelas causas do povo que  nos antecederam. Que tenhamos a capacidade de enfrentar os mecanismos de exploração com a consciência de classe na mente e a história na mão. Tenhamos a convicção de que esse discurso pasteurizado de fim da história que querem nos impor é um engodo para nos conduzir ao desalento e nos afugentar da luta. Aqui usamos uma frase que o nosso pai Joaquim Vicente Machado sempre repetia:
“O medo começa quando a coragem termina!”

Ou repetindo Charles Chaplin:

“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que pareciam impossível.”

Portanto, nas eleições de outubro próximo vamos para as urnas, não em nome da esquerda ou da direita, mas em nome da vida. Mais do que nunca precisamos nos superar para nao fenecer.

Como é possível relativizar uma contradição dessas, no centro da capital industrial e financeira do Brasil? em sã consciência é possível achar a cena da fotografia que se segue um fato banal e normal?
Será que o contraste entre essas duas realidades diametralmente distintas  não diz nada!

“Nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus!”

“Ainda hei de ver a justiça de Deus na terra dos homens!”
Amós.

 

 

 

Consulta:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Florestan_Fernandes;
Materialismo dialético – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org);
https://www.magazineluiza.com.br/livro-manifesto-do-partido-comunista:
https://istoe.com.br/lula-anuncia-que-esta-de-volta-e-lanca-ofensiva-contra-bolsonaro;

Fotografias:https://www.google.com/search?q=lawrence+da+arabia; https://www.google.com/search?q=marx+e+engels;
https://extensao.claretiano.edu.br/catalogo/palestra-on-line/8pvqXV2yaz/de-anisio-teixeira-a-darcy-ribeiro-paulo-freire-e-florestan-fernanandes
Florestan Fernandes – Quem foi? Biografia e Principais Obras (gestaoeducacional.com.br);
https://carolinazevedoliveira.medium.com/boca-do-lixo-como-imp%C3%A9rio-cinematogr%C3%A1fico-dos-anos-60-virou-a-cracol%C3%A2ndia;

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