Por: João Vicente Machado Sobrinho;
Os Biomas brasileiros, são ecossistemas riquíssimos em diversidade, e exibem características tipicamente sui generis, de cada um deles. Segundo a classificação do IBGE, os nossos biomas são em número de seis, e estão espalhados por todo nosso espaço territorial, em consonância com o clima. São eles:
1-Amazônia, ocupa 49% do nosso território.
2-Mata Atlântica, ocupa 13% do nosso território.
3-Cerrado, ocupa 24% do nosso território.
4-Caatinga, ocupa 10% do nosso território.
5-Pampa, ocupa 2% do nosso território.
6-Pantanal, ocupa 2% do nosso território.
O bioma da Mata Atlântica, pelo fato de abrigar aproximadamente 60% de toda população brasileira, é entre os nossos biomas aquele mais agredido, aquele mais ameaçado. A despeito disso, sua área atual está reduzida a apenas 27% do que foi originalmente.
A Mata Atlântica se estende, ou melhor, se estendia no ano da invasão colonizadora de 1500, por toda nossa costa atlântica, indo desde o Estado do Rio Grande do Norte, até o Estado do Rio Grande do Sul, como é mostrado no mapa que se segue. O inventário da sua biodiversidade feito pelo IBGE, está expresso em resumo no icográfico que se segue:
Se Verificarmos o que de fato aconteceu com o Bioma da Mata Atlântica, desde a invasão do Brasil em 1500 até o ano de 2010, iremos perceber claramente a cronologia da devastação.
O colonizador português ao desembarcar no Brasil, não desembarcava imbuído do mesmo espirito operoso dos pioneiros que colonizaram os Estados Unidos da América do Norte-USAN. É recomendável ler as informações do advogado, jornalista e acadêmico Vianna Moog no seu livro Bandeirantes e Pioneiros.
Os pioneiros ingleses que desembarcaram do navio Mayflower nos USAN em 1620, vieram com o firme propósito de se estabelecer e construir o futuro das suas famílias. A mentalidade do bandeirante ao contrário, era voltada para o extrativismo desregrado, mesmo que fosse à custa do extermínio dos povos originários, para a devastação florestal e para a pilhagem de minérios e riquezas naturais. O imediatismo de posse que lhes caracterizava, vedou-lhes a visão, a ponto de ignorar a presença aventureira e concorrente dos batavos, dos espanhóis, dos franceses e até dos ingleses.
Destarte, perceberam que para usufruto imediato, haviam disponíveis pedras preciosas e a madeira de qualidade. Assim sendo e de machado em punho, (não havia motosserra) deram início à farra devastadora. Para tanto utilizaram mão de obra escravizada tanto dos povos originários, quanto dos pretos escravizados desde a África, e adquiridos por eles.
Eram extrativistas obcecados pelo lucro fácil, que para extração da “madeira de lei” e de pedras preciosas, passavam por cima de tudo e de todos, nem que para tanto tivessem de exterminar os povos originários que resistiam heroicamente.
“Madeira de Lei é uma expressão que nasceu quando nosso país ainda era uma colônia de Portugal. “No início da exploração lusitana, esse termo foi criado para designar as madeiras que só podiam ser derrubadas se a Coroa portuguesa autorizasse – ou seja, o corte dependia da permissão por lei”, afirma o biólogo João Batista Baitello, do Instituto Florestal de São Paulo. Na época, a primeira árvore a ser classificada como madeira de lei foi o pau-brasil, numa tentativa de impedir que ela fosse contrabandeada por navios espanhóis, franceses e ingleses que aportavam na costa do país.
Mais adiante, madeiras como o jatobá e a peroba também foram incluídos nessa categoria. “Depois da independência, as regras da Coroa deixaram de ter validade, mas a expressão continuou a ser usada no dia a dia.
Hoje, ‘madeira de lei’ indica madeiras duras, resistentes e de alto valor comercial”, diz João Batista. Com essa definição mais ampla, espécies como o ipê, o mogno, o cedro e o jacarandá passaram a integrar esse nobre Time.” (1)
Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-madeira-de-lei-2
O pior em tudo isso, foi o legado cultural devastador do colonizador que permanece na mente do nosso povo. Foi essa mentalidade destruidora que deu sequencia à devastação, reduzindo o bioma da mata atlântica a 24% do que era originalmente.
A despeito disso, um exemplo edificante e pedagógico da possibilidade de recuperação de quaisquer biomas nos vem do município de Aimorés no Vale do Rio Doce no estado de Minas Gerais. Vejamos o que fez o casal Lélia e Sebastião Salgado:
“Sebastião Salgado é um fotógrafo brasileiro radicado em Paris considerado um dos mais talentosos fotojornalistas do mundo transformou, junto da esposa, a fazenda da família Em Aimorés, leste de Minas Gerais, o famoso fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e sua esposa arquiteta e ambientalista Lélia Salgado reflorestaram uma área de mais de 600 hectares, o projeto iniciou em 2000.
O que chama a atenção é que a terra devastada, que sequer pasto crescia, tornou-se uma floresta fechada da Mata Atlântica em pouco mais de 20 anos de trabalho. Sebastião, um dos maiores e mais respeitados fotógrafos do mundo, nasceu no município de Aimoré, no interior de Minas Gerais, em 8 de fevereiro de 1944. Com um olhar único, a sua fotografia documental muitas vezes promove uma denúncia social e dá a ver cenários desconhecidos do grande público. O fotógrafo foi internacionalmente reconhecido e recebeu praticamente todos os principais prêmios de fotografia do mundo como reconhecimento por seu trabalho.
Na época, a propriedade estava praticamente deserta, desmatada, sem vida, como podem ver na primeira foto. Com a ajuda de voluntários e funcionários, revitalizaram a propriedade, plantando 2,7 milhões de mudas de árvores de várias espécies, foram usadas árvores nativas da Mata Atlântica.A Fazenda Bulcão foi reconhecida como RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e o casal fundou a ONG Instituto Terra no local, voltado para a restauração ambiental e o desenvolvimento rural sustentável do Vale do Rio Doce. A região habitada por mais de 1,7 milhão conta com a bacia do rio Doce, gigante de mais de 83 quilômetros. Mesmo com esse privilégio, a população sofre com as consequências do desmatamento, como erosão do solo e a escassez de água.
Anos depois, o esforço e dedicação em recuperar área teve com efeito o ressurgimento de uma densa floresta, como podem ver na segunda foto. O que antes era uma terra sem vida, conta hoje com 293 espécies de plantas, 172 espécies de pássaros e 33 espécies de animais, alguns até, em ritmo da extinção. Um exemplo incrível, com resultado espetacular.” (2)
Leia mais em: ‘Da água pro vinho’: Casal transforma fazenda em 20 anos
Sempre que vemos os registros fotográficos dos inúmeros palácios e castelos espalhados pela Europa, ficamos a imaginar quanto da flora brasileira e africana estão ali presentes em forma de “madeira de lei,” satisfazendo “o discreto charme” da nobreza colonial.
Na nossa Paraíba, ainda nos resta uma área significativa desse bioma que vez por outra sofre um atentado aqui, uma mutilação acolá, decorrentes da especulação imobiliária, que as vezes é beneficiária da indiferença dos governantes.
Um exemplo bem atual vem ocorrendo na Avenida Beira Rio onde está sendo erguida uma construção residencial na margem esquerda do Rio Jaguaribe, numa zona de amortecimento da mata do Buraquinho, um santuário de mata atlântica autêntica e original.
Chega! É hora de parar, consensual ou coercitivamente, para salvar o que ainda nos resta. A catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do sul revelou de forma clara, os erros e omissões sucessivas de vários governos. O cenário se agravou no governo Bolsonaro onde o ministro Ricardo Salles rasgou todas as normas e Leis ambientais, para segundo ele: “deixar passar a boiada!”
“Na natureza, não existem recompensas nem castigo. EXISTEM CONSEQUENCIAS.”
Robert. C Ingersoll
O vídeo que se segue é optativo e pedagógico:
Referências:
Biomas brasileiros | Educa | Jovens – IBGE;
O que é madeira de lei? | Super (abril.com.br); (1)
‘Da água pro vinho’: Casal transforma fazenda em 20 anos — CompreRural;
Fotografias:
Biomas brasileiros | Educa | Jovens – IBGE;
AJUDA PFVRR Matéria: Iniciação científica Quais são suas impressões ao comparar o mapa da Mata atlântica – brainly.com.br;
‘Da água pro vinho’: Casal transforma fazenda em 20 anos — CompreRural; (2)
Sala De Madeira Com Mobília No Palácio De Versalhes, França Foto Editorial – Imagem de luxo, tradicional: 47528561 (dreamstime.com);