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Cachorro Velho

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Por:Antonio Henrique Couras;

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Os ingleses têm um ditado que afirma que sempre é possível ensinar novos truques a um velho cão, se referindo à capacidade que temos de aprender coisas novas independentemente da idade. O que é a mais profunda verdade.

Em casa tenho um grande exemplo disso. Minha mãe fez seu mestrado depois da aposentadoria. Na pandemia fez palestras virtuais para pessoas de todo o país.

Cotidianamente lida com as novas tecnologias de aplicativos de bancos, processos e tudo mais. Aliás, ela sempre foi mais apta com tecnologias do que eu.

Eu, por meu lado, sempre sofri com as novas tecnologias. Me parecem complicar demais coisas que são simples. Hoje relógios medem batimentos cardíacos, passos, recebem e enviam mensagens e até mostram as horas. Eu continuo com o meu relógio de ponteiro. Inclusive tenho um relógio à corda que bate as horas pendurado na parede da sala.

Escrevo (só isso um hábito jurássico que remonta à invenção da escrita) com caneta tinteiro, que a cada tantas páginas precisa ser reabastecida. Me visto com roupas que se mesclariam bem em 1910, vou ao alfaiate, tomo chá em um aparelho de porcelana…

Enfim, não faltam exemplos da minha casmurrice temporal, contudo (sempre tem um contudo) sou grande adepto da tecnologia em outros aspectos.

Compro tecidos, louças, calçados e até comida pela internet. Sou muito feliz em ter um pequeno disco voador varrendo a casa, máquinas que lavam minha roupa e a louça que sujo. Acredito que em se tratando de tecnologia, devo me valer de um outro ditado: água mole pedra dura, tanto bate até que fura.

Por mais que deteste mudanças elas sempre vêm
Escrevo esse artigo baseado em algumas vivências que passei nos últimos dias. Depois de anos e anos traçando um caminho em minha carreira, decidi que esses planos não fazem mais sentido na minha vida atual. Assim, decidi que era hora de mudar de caminho.

E como toda mudança, essa não está sendo algo simples. Apesar de estar trabalhando com algo que goste e acredite ser importante, ainda assim o esforço é incontornável. Voltei à sala de aula depois de quase uma década afastado delas. Não mais presencialmente, depois de quase uma hora sacolejando no carro, mas em meu escritório, na minha casa, muitas vezes vestindo pijamas.

Nesse soluço de quase uma década muita coisa mudou no mundo e em mim. Assistir aulas com pessoas espalhadas pelo mundo, com o professor do outro lado do país é algo que não seria possível meros 5 anos atrás. Hoje posso conversar com pessoas que estão em outros países, fazer cursos que não existem na cidade em que moro sem sequer pensar em logística mais complexa que pentear os cabelos.

Contudo, e esse contudo me pegou de calças curtas, eu também mudei nesses últimos anos. Durante a escola e faculdade, em que eu estava mais interessado em apenas ser aprovado nas matérias e conseguir o meu diploma, hoje, além de, claro, querer minha certificação, busco o aprendizado. E aprender é algo muito peculiar.

Poucas foram as vezes em que aprendi algo apenas assistindo a aulas. Normalmente preciso de um método de descoberta em que busco o autor que melhor “fale” comigo, vejo e revejo as instruções. Vou e volto mil vezes como uma bobina de tear. Assim, voltar ao velho hábito de frequentar uma sala de aula, ainda que virtual, está sendo um desafio que sequer lembrava que existia.

Hoje assisto à aula, participo, pergunto, anoto… Todavia, preciso reassistir as gravações, fazer metodicamente minhas anotações e depois ainda pesquisar sobre o assunto. Não sei se o que aconteceu nesses últimos foi que aprendi a aprender, a estudar, ou se os anos já cobram sua cota com a redução da plasticidade cerebral, essa capacidade de nosso cérebro de se readaptar a novos contextos.

Ainda me valendo de outro ditado, contra fatos não há argumentos. Preciso aprender novos truques, acessar novos conhecimentos nem que isso seja um processo longo, penoso e dolorido. E assim o farei.

Cientistas afirmam que essa tal plasticidade cerebral também pode ser aumentada com o exercício. E que exercício melhor para o cérebro que o aprendizado? Exercitemos!

Traço essas linhas porque acredito que para muitas pessoas, assim como eu, o processo de mudança pode ser algo impensável. Mudar de hábitos, carreira, amigos e até começar uma nova família pode ser algo impossível, mas acredite, é muito possível.

Na minha primeira aula, ao abrirem-se as câmeras surgem algumas dezenas de jovens rostos recém saídos de suas graduações, com conhecimentos frescos em suas mentes, e isso me deu a sensação que aquele espaço não me pertencia. Entretanto, no primeiro silêncio sepulcral depois de uma pergunta feita pela professora, me manifestei. Ali percebi que ser “macaco velho” mais do que uma desvantagem é uma vantagem enorme.

A esta altura, as preocupações, valores e medos que tinha dez anos atrás desvaneceram. É verdade que não aprendo mais com a facilidade que tinha dez ou quinze anos atrás, contudo, aprendi a aprender, a perguntar, a estudar, a buscar. Me conheço infinitamente melhor e, assim, apesar das pernas um pouco mais cansadas, sei trilhar melhor o caminho.

Acredito que eu não seja o único. Se algum dos leitores que me acompanham sentem esse medo da mudança, do novo, eu lhes digo: não é fácil, mas melhor vivermos cansados buscando o que queremos do que vivermos infelizes com o que temos.

 

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