Por: Cristina Couto;
Durante anos a história da Povoação de São Vicente das Lavras, da Vila de São Vicente das Lavras, da Cidade de Lavras e de Lavras da Mangabeira foi contada em muitas versões. Esta oralidade transmitida por séculos foi sendo esquecida ou abafada com a chegada da mídia televisiva que tirou a população das calçadas, dos terreiros e das rodas nas praças.
Em 1984, a Cidade de Lavras comemorou seu centenário e o nosso pesquisador, historiador e na época, Secretário de Cultura do Estado do Ceará, Joaryvar Macedo, nos presenteou com um livro de sua autoria com o titulo de São Vicente das Lavras. Rico em conteúdo narra datas e fatos importantes para nossa história. Pretendo com este texto narrar o começo de tudo, ou de como, e, em que data surgiu nossa terra.
Como a história é longa e bela, hoje, vamos nos debruçar no principio, lá no comecinho mesmo. Vamos viajar no tempo, naquele tempo que por aqui era só uma grande floresta habitada pela Tribo Kariri, e aqui, no Médio Salgado ficou denominada de Tribo Calabaças, por causa do seu dialeto. Toda a Horda era Kariri ficando dividida pelo dialeto. Assim, como no Alto Salgado habitavam os Icozinhos e Jucás.
Segundo, o historiador e pesquisador cearense, Antônio Bezerra, foi concedida no dia 28 de fevereiro de 1702, uma data de sesmaria compreendendo, em sua área, tratos do Cariri e região do Médio Salgado. Foi nesta data que o capitão-mor Gil Ribeiro (governador da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, em 1702), concedeu a Gil Miranda e Antônio Mendes Lobato a referida sesmaria constando terras da Cachoeira, Emboscadas, Morro Dourados, Tropas e Ingazeiras.
Quando chegaram aos sertões do Médio Salgado os primeiros desbravadores, aqui encontraram nas margens deste rio os nativos, primitivos donos deste solo, pertencentes ao Grupo Cariri: Icozinhos e Calabaças. Assim, escreveu o historiador.
Só foram verificadas as concessões de sesmarias, na zona do Médio Salgado, a partir do século XVII, é certo que aqueles que se consideravam descobridores, ao chegar aqui, encontraram criadores de gado nas terras que se apossaram, o que se conclui haver anteriormente moradores. Nesse caso, a concessão seria apenas a oficialização de uma posse já existente.
A vida rotineira das atividades pastoris foi quebrada quando chegaram os primeiros mineradores. Impulsionados por uma história antiga de haver ouro no Sul do Ceará muitos aportaram por aqui. Segundo o historiador João Brígido, no ano de 1690, o governador da Capitania de Pernambuco, Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho, recebeu ordens de Portugal para descobrir as minas dos Cariris Novos. Em 1711, correu um boato na região de jazidas de ouro nas adjacências do Araripe. Logo, em 1753 era grande a movimentação de aventureiros nos terrenos do Salgado.
Em 1752, o Capitão-mor Dourado viajou ao Cariri em busca de conhecer as minas de ouro que diziam existirem naquele território, que depois, passou a pertencer ao Munícipio de Lavras. Um ano depois, o Governador de Pernambuco deu ordens para iniciar a exploração da mineração do ouro nos Cariris Novos, e fazer ali a divisão de terras pelas pessoas que se dispunham a explorar as minas, devendo elas se sujeitar o pagamento da 5ª parte do que extraísse para Fazenda Real, e a proibir a ida de qualquer pessoa sem licença por escrito do comandante do lugar, evitando assim, a acumulação de inúteis.
Os trabalhos começaram e depois de quatro anos de buscas e escavações, somente em 1756, foram encontradas as lavras do Morro Dourado, em seguida descobriram as lavras de um lugar chamado Lagoa Seca, entre as Fazendas do Juazeiro e da Pendência dos Carmelitas de Goiana, hoje, localizada no Distrito de Amaniutuba. Depois encontraram mais lavras nas terras dos Monges Beneditinos de Olinda, entre a Fazenda Juiz e a Várzea Redonda e nuns morros chamados de os Altos do Garrote entre a Fazenda Boqueirão, de Afonso Albuquerque, e da Fazenda Mangabeira do Padre Antônio Gonçalves Sobreira.
Somente cinco anos depois das explorações das Minas de São José dos Cariris, foi descoberta as Lavras de São Gonçalo, chamada Mangabeira, muito provavelmente, por ser o nome da Fazenda que pertencia ao Padre Sobreira. Durante todo o ano de 1757 se teve noticias de extração e remessa de ouro das Minas das Lavras, mesmo enfrentando as dificuldades das enchentes dos rios, as minas foram visitas e se deu noticias de haver boas pintas de ouro em toda bateia (utensilio usado na extração de pequenas quantidades de metais nas margens dos rios) Nunca se tirou uma bateia que não pintasse sinais de ouro.
No ano seguinte, em 1758, mais precisamente, no dia 2 de setembro, chegou uma Carta Régia proibindo a extração do ouro no Cariri, na Mangabeira e nas mais minas da Capitania. Uma das explicações para tal decisão foi não haver vantagens para o erário público, outros pesquisadores dizem que o ouro das minas dos Cariris Novos era muito profundo, o que levava muito tempo e trabalho demasiado, por esse tempo, já havia descoberto o ouro nas Minas Gerais em maior quantidade e a flor da terra, além de ser mais perto do Rio de Janeiro, lugar onde ficava o porto para a mercadoria seguir para Portugal. Outro pesquisador diz que devido o pagamento da 5ª parte para a Coroa que nada fazia e nem tinha nenhum trabalho, os mineradores começaram a esconder o ouro extraído e prestar conta de uma parte menor que a realidade, por isso, Portugal proibiu a exploração no Cariri e em toda Capitania.
Mesmo com a exploração suspensa, os mineradores não abandonaram as terras e passaram a se dedicar a agricultura e pecuária, permanecendo na grande Fazenda Mangabeira, já núcleo de uma povoação, denominado de Arraial de São Gonçalo, depois, se chamou Sitio das Lavras da Mangabeira do rio Salgado e Sitio da Mangabeira das Lavras. O tempo passou e o lugarejo foi registrado como Povoação das Lavras da Mangabeira, Povoação da Mangabeira, Povoação de São Vicente Ferrer ou Ferreira das Lavras da Mangabeira, Povoação de São Vicente Ferrer ou Ferreira das Lavras, Povoação de São Vicente Ferrer ou Ferreira das Lavras da Mangabeira, e por último, Povoação das Lavras, pertencendo ao Termo do Icó até 1816.
Fontes: Documentos do Barão de Studart.
Ceará Homens e Fatos de João Brígido.
São Vicente das Lavras de Joaryvar Macedo.