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Luizinho

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Por: Antonio Henrique Couras;

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Curioso lembrar quantos anos se passaram desde que o nosso atual presidente ocupou a cadeira presidencial pela última vez. Seu último dia como presidente foi o dia 31 de dezembro de 2010. Temos a impressão que isso não foi há muito tempo, mas desde então se passaram 14 anos… Lembro-me de um personagem do humorístico “A Praça é Nossa”, interpretado por Moacyr Franco, talvez impensável nos dias atuais, o Jeca Gay, apesar do duvidoso bom gosto de tal personagem, era recorrente sua iniciativa de, ao chegar no famoso banco, pedir ao velho amigo que lhe fizesse a gentileza de escrever uma carta ao Presidente da República, a qual sempre começava da mesma maneira: Luizinho…

Me valendo dessa memória, pensei em algo a declarar aqui nesse espaço que pudesse prevenir o presidente sobre alguns de seus deslizes nos últimos tempos. Talvez uma carta aberta fosse apropriada, talvez uma receita de bolo mais ainda (se é que o leitor consegue entender a deixa). Mas acredito que com a atenção de beija-flor que venho tendo nos últimos tempos não conseguiria ser coeso e coerente o suficiente para me dirigir ao presidente de uma das maiores economias do mundo, o maior da América Latina. Assim, preferi manter a coerência e seguir escrevendo, incoerentemente, meus traços por aqui da forma que sempre faço.

Já é conhecido que, nesse terceiro mandato, o mundo e o governo são completamente diferentes daqueles de uma década e meia atrás. O presidente não é mais tão unânime como foi outrora, seu governo não é mais tão atual como já fora, e os deslizes que foram cometidos não serão perdoados hoje. Mas vamos aos bois: o presidente, em entrevista recente, afirmou que as questões da ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, ficaram no passado. Bem, aqui terei que ser didático e aproveitar esse meu espaço para dizer que, Senhor Presidente, mais do que nunca os fantasmas da ditadura militar nos assombram cotidianamente.

Acredito que sua colega, e atual presidenta do Banco dos Brics, Dilma Roussef, também concorde comigo. Como ela mesmo sempre disse, a dor da tortura nunca passa. E é por existirem depoimentos como o dela, e de tantas outras pessoas que, por 21 anos, foram perseguidas, mortas e torturadas no nosso país que não posso me omitir nessa data em que celebramos o aniversário de seis décadas do golpe militar dado em 31 de março de 1964 (apesar de eu preferir a vertente histórica que defende que o golpe foi dado em primeiro de abril. Engradece enormemente a piada que é a história brasileira).

Apesar de compreender as ações que o presidente vem tomando em relação às forças armadas, na tentativa de reduzir a chamada “polaridade” que vem assolando o país, discordo totalmente delas.

O comandante-em-chefe das forças armadas (conhecidas pela sua necessidade de serem acéfalas, e receberem e cumprirem as ordens que lhes são dadas) precisar se justificar e manter um relacionamento com as Armas baseado em rapapés não fica nem bem. Ao invés de passar uma imagem de conciliador, passa a postura de governo fantoche das repúblicas de bananas tão conhecidas no nosso continente.

Cá entre nós, não temos mais tempo nem idade para isso. Melhor logo ressuscitarmos um generaleco de óculos escuros e fardão, ou de sunga, como preferia Costa e Silva, que dizia que o cheiro do seu cavalo é melhor que o cheiro do povo. Se é para sermos uma ditadura, governo fantoche, que o façamos bem.

Acredito que nem todos tenhamos esquecido a tragédia que se passa nos territórios Yanomami. Sim, passa, verbo no presente. A tragédia não passou. Crianças continuam morrendo de desnutrição, os garimpeiros estão de volta… tudo não passou de um soluço.

Sabe por que? As forças armadas preferem não se manter na questão indígena. Cestas básicas foram compradas, mas as forças armadas não conseguem se organizar para distribuí-las. O garimpo voltou porque a aeronáutica não intercepta os aviões dos garimpeiros nem a instalação de pistas de pouso, nem tampouco a marinha bloqueou o acesso fluvial à área.

Agora me diga se tem cabimento forças armadas acharem o que quer que seja? O pior é o presidente, com medo de uma reviravolta política (o medo não é infundado, devo admitir), de, ao pôr força e impor o seu governo sobre as Armas, entregar de bandeja o governo para a oposição. E aqui nós sabemos que a oposição não é mais um monte de liberais almofadinhas, são golpistas antivacina que cantam hino para pneu e acreditam que extraterrestres trocaram o corpo do ex-presidente com o do atual (gostaria que isso fosse piada, mas não é. Realmente nesse país a piada vem pronta).

Enfim, como aparentemente é impossível fugirmos da piada pronta, o governo se tornou aquela anedota do menino, do velho e do burro, que ao caminharem por uma estrada e escutarem os conselhos de todos pela estrada, terminaram por não agradar ninguém e até a carregar o burro nas costas. O governo, ao não se render a lamber os coturnos nem, de fato, mandar neles, não agrada a base nem a oposição. Não resolve o problema e acaba se tornando parte dele.

Então, para encerrarmos, deixo meu recado ao querido Luizinho: Senhor Presidente, faça o trabalho para o qual o senhor foi eleito para fazer. Faça com que as Forças Armadas atendam suas ordens ou demita quem as gere e ache alguém que o faça. Acredito que deve haver um ou outro general não inteiramente bolsonarista ou golpista perdido em um quartel, ou sevando na reserva, que seja capaz de fazer chegarem cestas básicas a crianças que definham de desnutrição em terras da União. O Senhor é o Presidente da República, e se o Senhor não for capaz de resolver essa questão, ninguém mais será. Não permita que o povo brasileiro, sessenta anos depois daquele fatídico golpe, ainda precise se preocupar com golpes de estado e milicos reacionários.

E aos queridos leitores digo, nunca fechemos nossos olhos para as injustiças do mundo, nem nos calemos diante delas. Lembremos de tudo que tivemos que passar, como povo, para que pudéssemos estar hoje aqui. Sessenta anos depois ainda estamos aqui falando de golpes de estado e militares. O passado continua invadindo nosso presente. Lutemos.

 

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