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A morte do amor

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Por: Neves Couras;

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Desde crianças, antes mesmo da explosão dos hormônios da puberdade, já ouvimos a história da princesa resgatada pelo seu príncipe. Ela indefesa, presa numa torre ou amaldiçoada por uma bruxa, e ele bravo em sua armadura brilhante. Depois dos percalços da luta, um lindo beijo e um “felizes para sempre”.

A minha geração, e as que vieram antes de mim, lotavam as salas de cinema para assistirem e delirarem com as grandes histórias de amor. Líamos os mais famosos livros que só eram adquiridos porque contavam a história de um grande amor. O sonho do primeiro beijo, do primeiro amor, as serenatas na janela, os bilhetes trocados nas festas da padroeira, o namoro, que tinha início numa festa. O homem que você sonhava para ser seu grande amor, certamente estava na festa. O pedido para dançar era a oportunidade de sentir o corpo dele ou dela junto ao seu. As palavras ditas ao ouvido, que nos levava aos arrepios, quantas coisas que para a geração atual pode parecer bobagem. Talvez fosse bobagem, mas posso garantir que muitos grandes amores nasceram de situações como as que acabei de relatar.

Os tempos mudaram, eu sei. Os meios utilizados para a paquera são outros, o namoro talvez comece já no primeiro encontro em uma cama de motel. Ou mesmo em seus apartamentos. Mas ainda acreditamos no amor, mesmo mudando as formas os casais, os locais. Talvez não identifiquemos a música que ao tocar lembra a nossa história. A nossa história de amor. Tudo mudou, mas ainda queremos um grande amor. Ainda queremos ser amadas, amados. Claro! Faz parte de nossa natureza humana.

Quantas histórias lindas de amor ainda se completam com o nascimento dos filhos, dos netos, da conquista de uma profissão, da primeira casa, do primeiro carro… Talvez eu seja sonhadora, mas acredito que mesmo que as formas de amar tenham mudado, ainda existe o amor. Ainda quero dançar com aquele homem que sonhei, quero sentir seu calor, seu corpo junto ao meu ainda quero tudo isso. E para concretizarmos esse sonho, resolvemos nos casar e juramos ser um para o outro um só.

Casa-se, e inicia-se uma nova fase neste amor tão sonhado, tão vivido em toda sua intensidade. As juras de amor, as palavras repetidas; respeito e cuidado até que a morte nos separe durante a cerimônia do casamento, vai ficando para trás. Assim, como algo que desejamos muito, e ao conseguirmos, perde sua importância. Como acontece com um brinquedo que a criança deseja muito enquanto está exposto na loja, mas brinca um pouco e logo em seguida perde o encanto.

Um dia desses li em uma dessas mídias sociais, algo assim:” por que antigamente os casamentos duravam mais?” Logo em seguida vinha uma resposta: “Porque somos de uma geração que aprendemos a consertar o que se quebra a comprar um novo”. Será mesmo que isso é verdade? Será que os casamentos ditos “de antigamente” duravam mais porque sabíamos consertar?

O que consideramos “o que se quebra”? Quando se quebra uma taça de cristal em minha casa, por mais carinho e significado que ela tenha tido para mim, não consigo consertar. E mesmo que o fizesse, nem conseguiria usá-la novamente. Eu poderia até, juntar seus pequenos ou grandes pedaços, colar, mas nunca, tornar a usá-la. Por que então dizer que em matéria de casamento, isso seria possível?

Acontece que, para alguns, sua parceira (principalmente no caso do homem. A mulher também tem, às vezes, o mesmo sentimento, mas após algumas decepções) que foi tanto desejada, perde seu encanto ou sua beleza assim como os móveis da casa, a roupa usada repetidas vezes. O sentimento que os unia, a vontade de estar juntos já não são mais os mesmos. Ele acha que aquela mulher, agora, tem a obrigação de cuidar de casa, dos filhos, e acontece, ainda, quando ela também vai para o mercado de trabalho, que se torna sua concorrente.

Mesmo que a família represente um troféu. Em algum momento parece que tudo já foi conquistado. Aquele amor jurado, descobre-se que foi apenas uma paixão. Aquela atração física era atração por algo que, depois de desfrutado perde o encanto. Não existe mais amor, companheirismo, a admiração por aquele que um dia nos apaixonamos. Mas isso não acontece por acaso.

Então o que ele faz? Busca uma nova conquista, um brinquedo novo. E como o primeiro, o segundo, o terceiro, todos eles, o satisfazem uma vez, ou algumas vezes, mas assim como o seu primeiro desejado brinquedo, não o satisfazem mais. Não importa que seu primeiro sonhado e desejado amor ainda o tenha como seu Príncipe. Certo dia, ela descobre os brinquedos que estão sendo desejados fora de casa. Os horários de trabalho se tornam mais longos, seu humor em casa começa a mudar, o interesse por ela já não é mais o mesmo.

O respeito pelo seu primeiro amor se acaba. Com o passar dos anos ele percebe que o corpo dela mudou, mas o seu, parece não mudar. A carga de trabalho de sua mulher, companheira está muito pesada, mas ele não procura ajudá-la. O seu brinquedinho novo que ele pode encontrar fora, está sempre bonita, elegante, sem cansaço. Ah! Esta sim.

Esta, ou estas, são agora seu novo amor. O seu antigo amor, agora já não desperta mais seu interesse. Ainda existe aqueles que dizem: “rapaz, comer feijão todo dia ninguém aguenta”. Ele esquece que o feijão servido é para os dois, mas só ele se queixa da rotina que por capricho e por falta de caráter, respeito e outros atributos, precisa de outro prato. Pode até parecer vulgar esta forma de me colocar, mas é assim mesmo.

O amor está quebrado. Algumas mulheres tentam juntar os cacos de um casamento (e acredite, só as mulheres tentam consertar o que está quebrado) querendo manter a chama que um dia já queimou seus corpos. Mas o seu companheiro não sente mais nenhum calor, muito menos a “chama” que pudesse aquecer aqueles corpos novamente. Inicia-se aí, um grande processo de decepção, de dor, de quebra de confiança. Aquele Príncipe se torna um pesadelo em sua vida.

Mas ela tem filhos, tem uma sociedade que cobra que ela deve procurar manter o casamento. E na maioria das vezes, ela não tem forças para recomeçar. Foi ensinado a ela que é difícil recomeçar. Que ela não tem mais atrativos para conquistar um novo amor, nem mesmo que ela pode ser feliz sem aquela parte que ela imaginava que a completava, ou se apenas se acostumou com ele.

Novamente a sociedade, a família, exige dessa mulher que ela mantenha o casamento, e, para algumas, pelo tempo de casamento, o fazem para manter as aparências. E por causa dessas aparências, o casamento antigamente durava mais alguém pode dizer. Não! Decisivamente, não durava, nem dura. Não existe mais casamento, nem amor, respeito nem tão pouco amizade. Tudo acabou. Morreu o amor.

A maioria das “lindas histórias de amor” acaba com ele envelhecendo e doente. E como está velho, sem atrativos, de tanto procurar brinquedos novos, ele adquiriu enfermidades, mas suas companheiras de brincadeira, não quer aquele velho. Onde então ele procura amparo e uma âncora? Em seu primeiro amor, que nada mais tem de amor, mas ela o aceita. Em situações opostas na maioria das vezes, a mulher é abandonada ou trocada por outra mais nova, é claro. Volta para casa não mais como companheiro de outrora, mas como alguém que nem amigo seu é. Mas como é o pai de seus filhos, ela o aceita, não vai jogar na rua alguém que ela um dia amou, e como pai de seus filhos, o acolhe para não o deixar morrer na rua. Novamente a família, a sociedade que nada sabe do grande amor que viveu, mas que por uma série de razões o amor simplesmente morreu. Mas continua às vistas da sociedade que aquele casamento é duradouro e aqueles velhinhos, são muito felizes.

Alguém parou para pensar no que se tornou o grande sonho com o príncipe encantado? O que ocorre depois do “felizes para sempre”? Olhe no rosto e na alma daquela mulher, que um dia foi bela, olhos encantadores e brilhantes? É possível que em algumas, por razões diversas, manteve um grande amor. O amor por si mesma. Esse sim! É o grande amor que devemos cultivar. Jamais pense que você está sendo egoísta e não se sinta culpada. Afinal, nascemos para sermos felizes. Essa felicidade não deverá depender de alguém. Apenas de nós mesmas.

 

 

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