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Segunda-feira

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Por: Antonio Couras,

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Apesar de sempre ter me identificado com Garfield, o gato gordo e preguiçoso e com um senso de humor ácido, personagem dos quadrinhos de Jim Davis, ultimamente não venho me identificando com sua inata aversão às segundas-feiras, ou começos de ciclos como um todo. É verdade que finais de semana, feriados e domingos preguiçosos são fundamentais para reestabelecermos nossas forças, pormos em ordem os assuntos da semana etc. Mas, segundas-feiras podem ser tempos revigorantes em que começamos novos ciclos.

É assim que venho me sentindo com a iminente chegada do novo ano. Peço licença ao leitor para escrever mais um texto falando de final de ano (nem eu aguento mais ler sobre isso), mas para mim, meus amigos e família foi um ano de enormes mudanças e de mares tempestuosos. Foram falecimentos, doenças, mudanças, mas também de empregos novos, conclusão de projetos, chegadas de novas vidas e grandes conquistas alcançadas. E por isso que nesta última semana do ano com ares de final de domingo, que eu me sinto animado para essa “segunda-feira” que se iniciará no dia primeiro de janeiro.

A nível humano e global, acredito que todos os anos têm as suas peculiaridades, contudo 2023 foi um ano da realização de inúmeros sonhos e pesadelos da humanidade. De inteligência artificial à um período em que vemos guerras acontecendo na África, Oriente Médio, Europa e, considerando as movimentações venezuelanas em relação à anexação da região de Essequibo na Guiana, até mesmo na pacifiquíssima América do Sul.

Como demonstra o símbolo do Yin e Yang do I Ching, no mal está sempre presente uma partícula do bem, assim como o bem está sempre maculado com uma centelha de sua energia oposta. Muito se debateu esse ano a respeito do novíssimo ChatGPT e suas implicações na sociedade e principalmente no meio acadêmico e político, fazendo com que mergulhássemos em um debate antes só imaginado em um episódio de “Os Jetsons”.

O músico e compositor australiano Nick Cave, em seu blog pessoal em que periodicamente interage com seus fãs, ao ser perguntado por Leon que perguntou: “Eu trabalho na indústria da música e há uma grande animação em relação ao ChatGPT. Eu estava conversando com um compositor de uma banda que está usando o ChatGPT para escrever suas letras, porque é muito mais ‘fácil e rápido’. Eu não podia realmente discutir contra isso. Eu sei que você já falou sobre o ChatGPT anteriormente, mas o que há de errado com fazer as coisas mais fáceis e simples?” Quanto a Charlie, ele simplesmente perguntou: “Algum conselho para um jovem compositor apenas começando?”.

Aqui transcrevo (na minha melhor tentativa de tradutor) a tocante carta:

Queridos Leon e Charlie,
Na história da criação, Deus fez o mundo, e tudo nele, em seis dias. No sétimo dia ele descansou. O dia do descanso foi importante porque ele indica que a criação demandou certo esforço da parte de Deus, que certa forma de trabalho artístico tenha existido. O trabalho é o impulso validador que dá à palavra de Deus seu significado intrínseco. O mundo se torna mais do que um objeto cheio de outros objetos, ao invés, é imbuído com o espírito vital o pneuma, de seu criador.
O ChatGPT rejeita qualquer noção de trabalho criativo, que nossas lutas animam e nutrem nossas vidas dando a elas profundidade e significado. Ele rejeita que há um espírito humano inconsciente, coletivo e essencial sustentando a nós todos através de nossa luta coletiva.
O ChatGPT está transformando o espírito humano em uma comoditie a toque de caixa através da mercantilização da imaginação. Ele transforma nossa participação no ato da criação em atos desnecessários e sem valor. Aquele ‘compositor’ com quem você estava falando, Leon, que está usando o ChatGPT para escrever ‘suas’ letras porque é ‘mais fácil e rápido’, está participando nessa erosão da alma do mundo e no espírito da própria humanidade e, para dizer educadamente, deveria desistir se ele que continuar a ser chamado da porra de um compositor.
O objetivo do ChatGPT é eliminar o processo de criação e os desafios daquele que trilha esse caminho, vendo tais desafios como nada mais que um inconveniente que desperdiça tempo e que fica no caminho da comodidade. Para que lutar? Ele acomoda. Para que se importar com o processo artístico e seus desafios intrínsecos? Por que não deveríamos fazê-lo mais ‘rápido e fácil’?
Quando o Deus da Bíblia olhou para o que Ele havia criado, Ele o fez com um senso de conquista e viu que ‘era bom’. ‘Era bom’ porque requereu alguma coisa d’Ele mesmo, e Seu trabalho imbuiu a criação com uma moral imperativa, em resumo, amor. Charlie, mesmo que o ato criativo requeira um esforço considerável, no fim você estará contribuindo para uma vasta rede de amor que sustenta a existência humana. Existe uma infinita variedade de tentações nesse mundo que consumirão seu espírito criativo, mas nenhuma mais maligna que aquela máquina de desmoralização artística sem limites, o ChatGPT.
Como humanos, nós frequentemente nos sentimos indefesos em nossa própria pequenez, ainda assim nós encontramos a resiliência para fazer e produzir coisas belas, e isso é onde o significado da vida reside. A natureza nos lembra disso constantemente. O mundo é frequentemente posto como um lugar puramente mal, mas ainda assim a alegria da criação se impõe, e conforme o sol se ergue sobre as dificuldades do dia, o Grande Círculo Solar dança sobre a água. É a nossa luta que se torna a própria essência de significado. Esse impulso – a dança criativa – que está sendo tão cinicamente minado, deve ser defendido a qualquer custo, e assim como nós lutaríamos com qualquer mal existencial, nós devemos lutar com unhas e dentes, pois nós estamos lutando pela própria alma do mundo.
Com amor, Nick

E acredito que essa “segunda-feira” que nos aguarda está cheia de projetos em que devemos impor nossa marca. Sejam relações familiares, projetos profissionais ou mesmo o cultivo de uma roseira. Nunca fui adepto da teoria de que “o trabalho dignifica o homem”, mas acredito que lutarmos por aquilo que acreditamos e deixarmos nossa marca, um pedacinho de nós, como contribuição nesse mundo é motivo o suficiente para nos animarmos para o futuro.

Há mais de dez anos sonhava com jacarandás no jardim de uma casa que sequer existia ainda. A casa foi construída, eu mesmo plantei os jacarandás, e hoje além das flores com que me presenteia, atrai um balé de abelhas e colibris que enchem meus dias de alegria, e hoje, na mais bucólica das cenas, um sagui sentava em um de seus ramos e olhava curioso para o meu quarto. Me dei conta que estou colhendo os frutos de sonhos e ações de muitos anos passados. Isso me deu força para continuar sonhando e agindo, e espero que o leitor também consiga olhar para as suas conquistas e ver que o esforço sempre vale a pena. Boa “segunda-feira”

 

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