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O Amigo da Onça voltou

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Por: Flávio Ramalho de Brito

    A revista semanal O Cruzeiro foi um dos maiores sucessos editoriais do Brasil. Criada em 1928 pelo jornalista paraibano Assis Chateaubriand (Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, 1892-1968) chegou a ter uma circulação de 300 mil exemplares, quando o País tinha cerca de 50 milhões de habitantes. O Cruzeiro era o mais importante veículo do império de comunicação construído por Chatô, o Rei do Brasil, como o denominou em sua biografia o jornalista Fernando Morais. A partir de meados dos anos 1940, a principal atração da revista não eram as suas reportagens sensacionalistas, ilustradas pelas fotos de competentes fotógrafos como Jean Manzon e Luiz Carlos Barreto, mas a última página da publicação onde era inserida uma charge tendo como protagonista uma figura que, pela sua empatia com os diversos tipos de leitores, incorporou-se, de imediato, à galeria dos tipos nacionais.

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O personagem da caricatura foi criado, em 1943, por um desenhista pernambucano de 19 anos, recém-chegado ao Rio de Janeiro, chamado Péricles de Andrade Maranhão. Segundo o grande pesquisador e escritor cearense Raimundo Magalhães Junior o nome do personagem, Amigo da Onça, havia sido tirado de uma piada de curso popular:

“A expressão nasce da história de um caçador mentiroso, que referia que, sem armas, fora acuado por enorme onça, de encontro a uma rocha, ao lado da qual não havia uma árvore, em que subisse, nem um pau ou pedra com que se defendesse. Contudo, escapara, dando um grito tão grande que a onça fugira em pânico. Um circunstante declarou que isso não poderia ser verdade e que, nas condições descritas, ele teria sido inevitavelmente devorado. Donde a pergunta indignada do mentiroso. Afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?”

O Amigo da Onça, feio, baixinho, vestido num impecável summer jacket branco, obteve tanto sucesso que foi transformado em bibelôs, pinguins de geladeira, quadros afixados em botecos com sua conhecida frase “Fiado só Amanhã” e com suas charges sempre deixando alguém em situação difícil. Virou uma instituição nacional. Nenhum dos grandes caricaturistas brasileiros (J. Carlos. Klixto, Nássara, Millôr, Ziraldo, Henfil) conseguiu atingir com seus desenhos a aceitação popular que Péricles conseguiu com o Amigo da Onça. A locução “amigo da onça” está registrada, atualmente, como verbete em todos os dicionários, como o Houaiss, significando “amigo falso, hipócrita, infiel”. Dois exemplos da “atuação” do Amigo da Onça:


No último dia de 1961, Péricles fechou as portas e janelas do seu apartamento, abriu a torneira do gás e suicidou-se. Deixou na entrada um bilhete: “não risquem fósforos”. Mas, se hoje vivo fosse, o cartunista talvez desenhasse uma charge do Amigo da Onça, na casa de um “amigo” mostrando a porta da rua, com a seguinte legenda:
– Pode ir, isso é só uma gripezinha, brasileiro mergulha no esgoto e não acontece nada.



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