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Geografia da Fome

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O pernambucano Josué de Castro é o autor do best seller que nos serviu de inspiração para ilustrar o título deste escrito. Josué, que tinha um rico, vasto e invejável curriculum vitae foi: médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político, escritor e um grande ativista brasileiro no combate à fome. Era, portanto, um nome  conhecido, respeitado e laureado mundialmente.

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Se nada mais Josué  tivesse feito em sua útil passagem terrena, o seu livro Geografia da Fome teria sido suficiente, como uma valiosa contribuição socioeconômica, de inestimável valor para o Brasil e para o mundo. No livro ele consegue a proeza de apreciar em detalhes a questão da fome, além de analisá-la de maneira dialética e com os devidos questionamentos.

Uma síntese da Geografia da Fome:

“A Geografia da Fome revela a associação harmoniosa da capacidade de argumentar com segurança científica. Um novo modo de pensar e de agir frente a realidade alimentar e nutricional e também uma abordagem pioneira do dimensionamento da fome coletiva, como um fenômeno geograficamente universal.” (1)

O modelo de produção capitalista é capaz de fazer com que uma parte do gênero humano seja submetida à fome e à miséria, contrastando com uma outra parte que vive na opulência.

Essa prática excludente   transformou-se  em um grande desafio para os estudiosos, e a eles cabe a responsabilidade de fazer uso dos conceitos do materialismo dialético para entender e decodificar as causas do desequilíbrio dos binômios: fome x produção alimentar; fome x exportação de alimentos; produção de alimentos x IDH.

Todos esses axiomas são de uma contradição abissal, a começar pelo primeiro deles que relaciona a fome com a produção de alimentos.

Ora, como entender essa lógica excludente e cruel que preside as ações econômicas dos 04 maiores produtores de alimentos do mundo? O modo de produção e apropriação que eles adotam, expõe um inexplicável contraste sempre escamoteado pela mídia, quando coloca na berlinda e frente a frente, um grande volume de produção de alimentos, em contraste flagrante com um enorme contingente de famélicos.

Essa verdade insofismável que os donos dos meios de produção e/ou do capital financeiro insistem em dissimular, pode ser facilmente comprovada através do Índice de Desenvolvimento Humano-IDH que é divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-(Penud)

Tomemos o exemplo mais  próximo e que nos é mais íntimo, ou seja, a forma de produção e de apropriação de alimentos no Brasil. Como iremos justificar que o nosso país, que é o 4° maior produtor de alimentos do mundo, possa conviver indiferente com 34% da população em insegurança alimentar, com 40% da população situada abaixo da linha da pobreza, dos quais 20% vive na miséria absoluta?
Vejamos o contingente populacional dos quatro maiores produtores de grãos do mundo em 2022, os quais foram pela ordem:

. A China com 1,411 bilhão de pessoas.

. Os Estados Unidos da América do Norte-USAN com 334 milhões de pessoas.

. A Índia, com 1,428 bilhão de habitantes.

. O Brasil com 214 milhões de pessoas.
Contraditoriamente, esses mesmos países que são campeões de produção de grãos, exibem uma bisonha classificação  no tocante ao IDH:

Se apreciarmos os IDHs dos países campeões em IDH, iremos encontrar nos quatro primeiros lugares, algumas surpresas em termos econômicos. Vejamos:

1. Noruega: 0,957
2. Suíça: 0,955
3. Irlanda: 0,955
4. Hong Kong: 0,949
5. Islândia: 0,949
6. Alemanha: 0,947
7. Suécia: 0,945
8. Austrália: 0,944
9. Holanda: 0,944
10.Dinamarca: 0,940

Pela listagem acima é muito fácil perceber que nenhum dos países que ocupam as 10 primeiras colocações em IDH, têm uma suficiente  produção de alimentos. Não nos foi possível obter os números referentes à produção de alimentos dos países acima citados, que exibem os  maiores IDHs. Todavia, não é difícil  perceber que a área territorial diminuta, que a geomorfologia territorial e que  as questões climáticas desses países,  sugere uma precária produção de alimentos, sendo portanto, todos eles, países dependentes da importação de alimentos.

A única razão plausível para justificar a gritante contradição,  só pode ser a opção politica que fez o seu povo, em abdicar  da riqueza em prol da salubridade e de uma boa  qualidade de vida coletiva.

Países como o Brasil, que optaram por uma política econômica que além de liberal é ortodoxa, priorizaram o sistema financeiro que nada produz, além de promover a  reprodução do capital pela via da usura. O discurso é o da política do estado mínimo, do teto de gastos que impede o investimento público, de congelamento de investimentos públicos por 30 anos, de  limite de responsabilidade fiscal, e da venda desastrada  de ativos públicos.

A insistência nesta política econômica ortodoxa, arrastou o país para uma cruel concentração de rendas, para uma prática injustificável de juros altos, e para o comprometimento de mais da metade do orçamento da União com o pagamento de uma  divida pública crescente que deveria no mínimo ser auditada.

Nos tempos atuais  é sabido até pelo sorveteiro da esquina, que o que desequilibra as nossas contas públicas não são as despesas com: agricultura familiar; com educação; com saúde; com habitação; com saneamento ambiental; com infraestrutura, com mobilidade urbana; com desenvolvimento tecnológico; ou com segurança pública  entre outros. 

O grande problema das nossas contas públicas está no sistema financeiro.

Não enxergamos outra alternativa a não ser a opção política por um modelo econômico mais inclusivo, o que  não será possível com a insistência neste modelo econômico liberal ortodoxo, agravado pela pandemia ultraneoliberalista que se alastrou e a essas alturas já é démodé para o próprio capitalismo.

 

 

Referências:

SciELO – Brasil – “Geografia da Fome”: da lógica regional à universalidade “Geografia da Fome”: da lógica regional à universalidade; (1)
IDH: Brasil cai cinco posições no ranking da ONU com estagnação na educação – Jornal O Globo;
Fotografias:
IDH: Brasil cai cinco posições no ranking da ONU com estagnação na educação – Jornal O Globo;
EMEF Prof. Josué de Castro: Quem foi Josué de Castro? (emefjosuedecastro.blogspot.com);
Imagens devastadoras em lixão dão rosto à fome no Brasil | Metrópoles (metropoles.com);
Produção Mundial de Alimentos x Fome Mundial | XIV Encontro de Ciências Sociais (wordpress.com);
▷ ¿Qué país tiene un sistema de economía mixta? | Updated noviembre 2023 (entrenarfutbol.es);

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