Já há alguns dias não escrevo. Veio esse período de final de ano, época feliz de Natal e proximidades do Ano Novo, tempo de reflexões. Um tanto de gente pega seus carros e saiu vagando mundo afora. Reúnem as famílias nas salas de janta e, juntos, cantam cantigas de alegria face aos momentos que surpreendem pelos sentimentos que parecem dominar a realidade. Os humanos são assim diante das emoções, cheios de amabilidades e surpresas Certa vez vi um filme da Segunda Guerra que mostrava cena de noite natalina face à luta entre soldados alemães e russos e, ao instante em que comemoravam o nascimento de Jesus, suspendiam o fogo e se confraternizavam quais irmãos que sejam.
Época assim, de saudades fortes, ausências de não ter tamanho dos entes queridos que o passado carregara. Horas que sumiram nas dobras dos caminhos, de lembranças intensas.
Circulam nos ares esses fiapos de presenças que regressam, rodopiam e desaparecem, deixando no peito apertos de distâncias e nunca mais. Entre esses cascalhos de abandono das idades alguns insistem permanecer grudados no manto das sombras, quais fantasmas de histórias antigas. Sopram aos ouvidos o hálito perfumado de amores longe.
Mesmo jeito que chegam, as flores deixam seu perfume entranhado na gente e chafurdam as águas desse todo universal que somos nós, insistências de viver. Trabalham a matéria prima do desejo de continuar vagando nessas ruas solitárias, cheias de cenas e visagens que regressam aos bastidores do teatro à busca de novas ocasiões de machucar a sensibilidade que ainda não dorme outros 365 de todo ano. Espécie de abismo intransponível abrirá, pois, o chão e depositará os desejos de solidariedade que mexem no coração das pessoas. De vez em quando, no entanto, ferverá em si a vontade poderosa de seguir o Mestre Divino e conhecer da esperança que renova esse espírito natalino das criaturas humanas.