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Bençãos a todos

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Por: Antônio Henrique Couras

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Hoje famílias em todo país se reunirão ao redor de mesas fartas, pesadas com travessas das melhores comidas, as melhores louças e travessas sairão de seus armários, talvez até os cristais sejam usados. Se trocarão presentes, roupas novas serão usadas pela primeira vez…, mas será que o verdadeiro protagonista da festa se fará presente?

Acredito que, dificilmente, as casas mais ricas, mais decoradas e mais suntuosas receberiam aquele casal montado em um burrinho e daria guarida ao Salvador que nasceria naquela noite.

Milênios se passaram, mas o ser humano, em muitos aspectos, permanece o mesmo. O pobre, o desvalido, e todos aqueles que vivem à margem da sociedade continuam sendo rechaçados das grandes casas iluminadas e cercadas de seus altos muros. Jesus não poderia entrar em nenhuma delas, como sua palavra de amor ao próximo também não se faz presente nas maiores mesas.

Jesus, o amor encarnado, passará essa noite junto daqueles que mais precisam de suas bênçãos. Passará essa noite tão especial, e tão dolorida para muitos, nas ruas frias, nas casas pobres, ou ainda nos suntuosos lares, onde aqueles que ali vivem mais precisam dele. O Salvador passará a noite em que se comemora o seu nascimento junto daqueles que estariam junto a ele quando esteve na Terra.

Meu convite, neste dia, é para que nós façamos de nossas casas um lugar em que Manuel, como diz Ariano Suassuna em sua obra, possa se fazer presente, ou que um de seus filhos possam ser acolhidos como aquele casal de Nazaré não foi. Mas que, principalmente, vivamos uma vida em que esse convite não seja necessário, pois sua palavra de amor está viva em todos os nossos sentimentos e ações.

O cristianismo tem de suas idiossincrasias, uma delas é exatamente essa data que hoje celebramos. Demorou-se quatro séculos para que o cristianismo passasse de uma religião perseguida pelo poder vigente, passando a ser aceita como uma das religiões do império e, por fim, passando a ser a religião oficial do Estado. Nesse meio tempo, as especificidades da vida do Cristo foram ou perdidas, ou manipuladas, ou, simplesmente, mal compreendidas. Assim, ainda hoje não sabemos ao certo muitos detalhes de sua vida, incluindo neles a data e o local do seu nascimento. Entretanto, acredito que passados vários séculos querermos mudar a data do natal por um preciosismo histórico é quase uma maluquice digna de um vilão de história infantil.

A data de fato em que o Cristo nasceu é quase irrelevante. Que continuemos celebrando seu nascimento nas cercanias do solstício de verão (aqui no hemisfério sul), que celebremos a esperança trazida por ele ao nosso mundo com seu nascimento seja celebrada no dia mais longo de nossos verões cada vez mais abrasadores. Que celebremos a esperança de que, como pede minha alma nordestina, o ano vindouro traga boas chuvas, muita comida e saúde.

Contudo, como sempre disse Rita Lee, não vamos deixar que o Papai Noel roube a festa do Menino Jesus. Essa celebração é sobre comunhão, é sobre amor e esperança. Não sobre presentes e banquetes. Celebremos o amor, ainda que seja doído fazê-lo.

Recentemente o Papa Francisco, líder da igreja católica, autorizou que sacerdotes abençoassem a união entre pessoas do mesmo sexo, seguindo o diapasão de comentários anteriores sobre a inclusão de casais homossexuais e pessoas trans na vida e nos ritos da igreja feitos pelo pontífice. É verdade que ainda é um pequeníssimo passo para que essas pessoas realmente sejam acolhidas pela sua igreja e suas comunidades, contudo, a mais longa caminhada começa com o primeiro passo. Ainda mais se considerarmos um gigante milenar como a igreja católica, que não pode se dar ao luxo de se apegar demais a um tempo, visto a possibilidade de seu status de “eterna” ser perdido ao se tornar contemporânea.

O que quero trazer com isso é que, o Papa, ainda que dentro de uma estrutura milenar, conservadora, e que traz em sua história processos como a inquisição e a escravidão, foi capaz de se posicionar a favor daqueles que mais precisam de sua mão. Uma atitude verdadeiramente cristã, na qual o amor foi o diapasão e em que o exemplo foi dado.

Não sei se o leitor é católico, cristão ou mesmo se acredita em alguma divindade, mas acredito que isso é irrelevante quando se fala em um bom exemplo a ser seguido. Eu mesmo não posso afirmar que Deus existe, que o Cristo veio à Terra ou mesmo se o santo que me empresta seu nome fez algum dos feitos que lhes são atribuídos, contudo, a filosofia cristã, aquela simples que nos ensina que o fiel da balança moral somos nós mesmos quando diz que só devemos fazer ao outro aquilo que queríamos que fosse feito a nós mesmos; a filosofia revolucionária que pôs fim à lei de Talião quando disse para virarmos a outra face; a filosofia que prega que não podemos julgar quem quer que seja pois nós mesmos somos cheios de pecados, enfim, a filosofia que nos propõe uma vida pautada no amor. Uma filosofia de esperança, acredito, seja uma filosofia pela qual valha a pena pautarmos nossa vida.

Que sigamos o exemplo daquele que celebramos hoje e estendamos a mão ao nosso próximo, que as famílias deixem de lado querelas irrelevantes, que não vejamos mais filhos distantes de seus pais por amarem quem lhes apraz, que nenhum jovem seja jamais expulso de casa por não concordar com o gênero que lhe foi designado ao nascer, que nenhum idoso seja esquecido ou posto de lado por não ser mais quem foi um dia, enfim, que pelo menos por essa noite possamos nos juntar àqueles tão próximos de nós e que ainda assim parecem ser tão distantes.

O amor não pede explicações. A mensagem no Cristo e do natal é a mensagem de amor. Que amemos sem restrições, ainda que não compreendamos, ou concordemos, mas que amemos, acolhamos e que vivamos a comunhão do cristo que é celebrada hoje e deve ser lembrada em todos os dias do ano.

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