Neste mês de outubro do corrente ano de 2023, a América Latina realizará o 2° turno das eleições presidenciais em dois importantes países do continente, num clima político preocupante, tumultuado e de muita apreensão.
A primeira das eleições ocorrerá no Equador, um país situado na costa noroeste da América do Sul, vizinho do Peru e da Colômbia. É o segundo maior produtor de petróleo do continente, sendo superado apenas pela Venezuela, país que é calo e o eterno objeto de cobiça e opressão dos Estados Unidos-USA.
Em decorrência dos sobressaltos políticos enfrentados, os equatorianos tiveram de antecipar o processo eleitoral do país e durante a campanha assistiram inclusive, o assassinato de um dos postulantes à presidência da república.
O Equador é um país relativamente novo enquanto estado nacional. Todavia, tem uma longa e tumultuada história política, que se arrasta desde a sua desvinculação com a chamada Grã-Colômbia, até os dias atuais. Nesse período, o país elaborou nada menos do que 20 cartas constitucionais, com o fito de acomodar as incontornáveis divergências decorrentes de um caudilhismo endêmico, que tem sido uma prática comum em alguns países da América Latina.
A mais recente versão, é a carta constitucional elaborada em 2008, e diante de tantas intercorrências institucionais, o noviço Equador já experimentou, pasmem, 55 presidentes da república.
Em janeiro de 2007, foi empossado como seu 53° presidente um economista de ideias nacionalistas, infenso ao receituário neoliberal imposto pelo Consenso de Washington, de nome Rafael Correia. O seu mandato que teve um expressivo apoio popular, transcorreu sob um forte clima de pressões internas e externas, as quais perduraram até o último dia do seu mandato.
Correia, cujo mandato expirou em maio de 2017 e em que pese o apoio popular conquistado junto às classes obreiras e a massa trabalhadora, chegou ao final do mandato com o país dividido no celebre “nós contra eles.” Ou seja, entre a classe dominante a eterna opressora, contra a numerosa classe dominada.
No presente momento e na crista de mais uma grave crise política, o Equador está realizando eleições presidenciais antecipadas, já tendo atravessado o primeiro turno acontecido em 20 de agosto. O segundo turno tem data marcada para o dia 15 de outubro de 2023.
O quadro de violência tem sido tão intenso no Equador que, o país chegou ao ponto de vivenciar uma novidade que se espalha pelo continente sul-americano, que é a interferência política de organizações criminosas ligadas ao narcotráfico. A essas facções é atribuído o assassinato do candidato Fernando Villavicencio.
Como um dos postulantes à presidência da república o inditoso candidato teria como tema dos seus discursos a denúncia continuada contra as ações do narcotráfico e a corrupção reinante no seio da elite política equatoriana.
Na eleição que está em curso, a disputa tem como os principais protagonistas: a candidata Luiza González representante da tradicional esquerda equatoriana, com o apoio de Rafael Correia; Yaku Pérez um ambientalista de centro esquerda; Otto Sonnenholzner candidato de centro; Jan Topic um ex-soldado da Legião Estrangeira de ideias policialescas, entre outros menos votados.
Ao que tudo indica a candidata Luiza González deverá vencer nas urnas e irá precisar de apoio e muita sorte para governar um país tumultuado por uma elite fascista e pelo narcotráfico.
A outra eleição do continente transcorre na nossa vizinha Argentina, a segunda maior economia do continente e o maior parceiro comercial do Brasil. No país portenho o alarme foi aceso por ocasião da disputa das chamadas eleições primárias, que foram realizadas em 13 de agosto de 2023, que ao final deu a vitória parcial a Javier Milei. No presente está em curso a campanha eleitoral para o segundo turno, que acontecerá no dia 22 de outubro próximo.
No elenco de candidatos aparece o nome de Javier Milei que se autodeclara anarcocapitalista. De fato, ele é um ultraneoliberal com viés conservador de extrema direita, que incorpora o fascismo emergente nas entrelinhas do seu programa de governo, tendo como companheira de chapa Victoria Villarruel, com mesmo perfil de extrema direita fascista.
Milei (que se fosse escrito com dois L a pronuncia seria impublicável) é um economista sem maiores referências, além de um professor sub-medíocre. Pelas suas desastradas pantomimas se revela como mais um outsider desses que aparecem vez por outra na política liberal, como surgiram seus sósias políticos Fernando Collor de Melo, Donald Trump e Jair Bolsonaro. Milei para os incautos, é a caricatura de uma figura messiânica e mítica, armado com um motosserra para cortar corrupção, agitando às massas com seus gestos tresloucados, se apresentando como paladino da moralidade. (Qualquer semelhança não terá sido mera coincidencia)
O seu adversário mais competitivo é Sérgio Massa, deputado federal e ministro da fazenda do atual governo do peronista Alberto Fernandez, de quem recebe apoio. Também é apoiado pela ex-presidenta Cristina Kirchner de quem foi chefe de gabinete.
Horácio Larreta ex prefeito de Buenos Aires, é correligionário de Mauricio Mácri e juntos fundaram o partido Proposta Republicana- PRO.
Patrícia Bullrich também faz parte do naipe partidário do PRO de Mauricio Mácri, considerada linha dura que já acena para Milei sinalizando uma junção de ideias.
Os demais candidatos: Juan Grabois, Juan Schiaretti e Myriam Bregman pertencem a agremiações partidárias de esquerda e totalizam em torno de 11% das preferências.
Quanto ao prognóstico eleitoral para o segundo turno, deveremos lembrar que será uma nova eleição em que tudo pode acontecer inclusive nada. Portanto, apesar dos números já apontarem um empate técnico entre os dois primeiros colocados. Aguardemos o resultado da apuração dos votos na esperança de que o exemplo do desastre que se abateu sobre o Brasil sirva para livrar a Argentina da ameaça fascista que é real.
No Equador a candidata Luiza González tem apresentado propostas avançadas e tem afirmado que:
“vai ‘atacar’ as causas da crise equatoriana: Fome, pobreza, falta de emprego, falta de medicamentos nos hospitais, falta de orçamento para a educação” (1)
E completa de forma muito incisiva:
“Não me falem de déficit fiscal, vou falar das vidas que se perdem e é isso que vamos garantir” (1)
Se tiver a sorte de ver eleito um congresso comprometido com o equilíbrio social, talvez venha a ter mais sorte do que o presidente Lula, atualmente às voltas com a pior composição parlamentar da nossa história republicana.
Na vizinha Argentina como já enfatizamos, a disputa envolve um fascismo explicito por parte de dois candidatos anarcocapitalista e as propostas do principal deles, Javier Milei resume mais ou menos a intenção de ambos, vejamos:
“O deputado da Cidade de Buenos Aires baseou sua campanha quase inteiramente em definições econômicas em sua formação profissional nesse campo — algo que tem em comum com Rodríguez Larreta.
Por meio de um plano de três etapas, o economista almeja mudar o país nos próximos 35 anos. Em primeiro lugar, propõe uma redução de impostos seguida de flexibilidade comercial, financeira e trabalhista.
Depois, no quadro de um programa que, segundo ele, iria durar mais de três décadas, promete fechar o Banco Central e dolarizar a economia, no quadro de uma grande reforma que incluiria uma redução acentuada da despesa pública, a privatização de empresas públicas e eliminação de retenções e de qualquer tipo de tributo na importação de insumos.” (2)
Com relação à proposta de Sérgio Massa, no aspecto macroeconômico foi muito lacônica e superficial. Diz ele:
“Com relação ao mundo do trabalho, Massa prometeu um aumento salarial que combata a inflação e que tenha o Estado como estabilizador das relações sociais.
Ao mesmo tempo, propôs a manutenção dos subsídios econômicos como forma de remuneração indireta, sem descuidar do equilíbrio das contas públicas.
Além das medidas que tomou até agora para tentar conter a inflação (ajuste de gastos públicos, acordos de preços, negociação com empresários para acessar o dólar oficial em troca de permanência nos programas de preços etc.), o ministro não se pronunciou sobre um projeto específico para baixar a inflação durante o que seria seu futuro governo.” (2)
Espera-se que não falte lucidez a ambos os povos do Equador e da Argentina do nosso Hermano Cristian Seen um militante valorosíssimo!
Dios guarde Argentina!
Referências:
Conheça os candidatos que disputam as eleições do Equador (poder360.com.br);
Conheça os candidatos da Argentina na eleição de 22 de outubro (poder360.com.br);
Conheça os candidatos que disputam as eleições do Equador (poder360.com.br) (1)
Conheça as propostas econômicas dos principais candidatos à Presidência da Argentina | CNN Brasil; (2)
Fotografias:
Conheça os candidatos que disputam as eleições do Equador (poder360.com.br);
Conheça os candidatos da Argentina na eleição de 22 de outubro (poder360.com.br);
Países da América do Sul: mapa, bandeiras e informações gerais – Toda Matéria (todamateria.com.br);
Rafael Correa nomeou a ex-deputada Luisa González como sua candidata presidencial no Equador – DolarToday;
Pesquisa indica tendência de 2º turno entre Milei e Massa na Argentina – CartaExpressa – CartaCapital;