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Até onde a vista alcança

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Desde o Século 18, um conjunto de tribos que habitam as florestas tropicais da África central, conhecidas como “Pigmeus”, despertaram a curiosidade dos Europeus que tinham contato com esses povos. Conhecidos pela sua estatura baixa, esses povos caçadores-coletores, como tantos outros postos sob o olhar estrangeiro dos europeus, carregaram, durante séculos, inúmeros estigmas e mitos relacionados à sua realidade. Ainda hoje, estudos genéticos são conduzidos para tentar entender a sua estatura e outros aspectos de sua constituição que pode, inclusive, elucidar alguns aspectos a respeito da evolução humana a partir da África.

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Entretanto, o que me vem à mente quando ouço falar desses povos é o que eu li em um romance de Júlio Verne há muitos anos. Era um livro sobre exploradores (como são a grande maioria dos livros do autor francês), que sobrevoavam as densas florestas da África tropical em um balão de ar quente. E me lembro que no livro dizia-se que esses povos eram incapazes de verem objetos a longas distâncias devido a uma adaptação milenar em seus olhos devido ao ambiente em que viviam.

De certa forma, como os seres humanos foram perdendo a melanina de sua pele conforme migravam rumo ao norte menos ensolarado, dizia-se que esses povos perderam a capacidade de enxergar objetos distantes devido a viverem num ambiente em que a densa vegetação lhes impedia de ver qualquer coisa que estivesse mais distante que a copa das árvores.

Foto: História e Cultura. Os Pigmeus

Ainda nesse diapasão, recentemente surgiram pesquisas que viram no vocabulário de inúmeros povos um sinal para suas biologias peculiares. Povos que vivem em ambientes com uma exuberante vegetação tem uma quantidade substancial de palavras para descrever diversos tons de verde e, concomitantemente, a capacidade de enxergar ditos tons, que passariam completamente despercebidos para pessoas acostumadas a uma vida urbana como eu ou você.

O mesmo se repetia em povos que tem sua vida intimamente relacionada ao mar, em que existem uma quantidade enorme de palavras para descrever a cor azul ou o próprio oceano. A língua escocesa, por exemplo, tem mais de 100 palavras para descrever a chuva. O que não é de se espantar devido ao eterno tempo chuvoso do norte das ilhas britânicas, mas mais importante que as palavras, isso demonstra que os escoceses são capazes de reconhecer mais de 100 tipos diferentes de chuva, enquanto um brasileiro comum se limitaria a um chuvisco neblina, garoa e toró.

Ainda passeando pelos lugares comuns, é famosa a frase de Walt Disney que dizia que “se você é capaz de imaginar, você é capaz de fazer”, pode ter uma verdade científica por trás. A capacidade de “visualizar” é fundamental para que possamos transformar essa mera refração da luz nas coisas em formas em conceitos. Mais do que a capacidade de fazermos coisas a partir de um simples pensamento, infelizmente, também somos limitados em nossa imaginação pelo que podemos ver.

Assim, entendi a dificuldade de compreensão que conceitos como sustentabilidade podem ter no ser humano comum. E nesse grupo incluo a mim mesmo. Até outro dia, na minha cabeça, sustentabilidade era algo invariavelmente atrelado a boas práticas ambientais, quando na verdade é algo muito mais complexo que isso. O aspecto ambiental da sustentabilidade é apenas um de vários pontos essenciais para esse tema. Elaborarmos um sistema produtivo sustentável nos força a imaginar um mundo em que claramente não viveremos.

Precisamos imaginar, desenvolver e pôr em prática um sistema que continuará funcionando daqui a 100, 200 ou 500 anos. E isso é algo que vai muito além da capacidade humana comum.

Hoje, diz-se que o desenvolvimento de um determinado país se pautar em extrativismo não é sustentável porque, seja pau-brasil ou petróleo, recursos naturais são finitos. Assim, economias fundamentalmente baseadas na extração e comercialização de petróleo, como a dos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, que saíram de meros grupos nômades do deserto para riquíssimas cidades-estados, como Dubai e Abu Dhabi, a partir dos anos 1970 com a explosão das crises (e dos preços) do petróleo, hoje compreendem que além de suas fontes serem finitas, o modelo energético global baseado em petróleo está com os dias contados. Seja nos próximos 10 ou 100 anos.

Foto: Internet

Economias que colapsam depois de porem todos os seus ovos em uma cesta só, são antigas conhecidas nossas. É famoso o caso das economias ibéricas que, depois da descoberta do Novo Mundo e do enorme influxo de metais preciosos, tiveram suas economias completamente destruídas pela inflação, já que depois das toneladas e toneladas de ouro e prata que vinham das Américas, o preço dos metais no continente europeu simplesmente despencou. Para além, desmontando toda a estrutura produtiva, principalmente na Espanha, que, agora inundados de dinheiro, não viam mais a necessidade de manter estruturas básicas como a da produção de alimentos, que passaram a ser facilmente importados.

Sustentabilidade é a capacidade de um modelo econômico, de desenvolvimento ou de negócios se manter por longos períodos de tempo. Assim, ainda que a questão ambiental e climática não fossem questões urgentes, o desenvolvimento econômico como se dá atualmente é insustentável por se basear, fundamentalmente, em um recurso finito. Talvez os estoques globais de petróleo durem mais 50 ou cem anos, mas e depois?

O modelo energético brasileiro é fundamentalmente movido em energias renováveis, principalmente a hidroelétrica, mas também eólica e solar. E o modelo energético é um ótimo exemplo da diferença entre sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Hidroelétricas, tem em sua construção um impacto ambiental descomunal, como vimos em Itaipu, Belo Monte e tantas outras, que inundam áreas enormes, destroem florestas, cidades, destroem quedas d’água (o famoso caso de Sete Quedas que hoje está submersa no lago de Itaipu) isola grupos de animais que passam a ter seus padrões migratórios e reprodutivos alterados, etc. Contudo, a partir do momento em que as turbinas começam a girar, e enquanto houver água, um produto totalmente renovável, haverá a produção de energia sem a necessidade de mais impactos ambientais. Enquanto houver sol, água e vento, o Brasil terá sua produção energética mantida.

Mas para transformarmos recursos naturais em recursos econômicos e, consequentemente, em recursos humanos e sociais, há a necessidade gritante de novas formas de tecnologia, exploração e desenvolvimento. E o Brasil, felizmente, se mostra capaz disso há décadas. No caso de nossa agricultura e agronegócio que são os carros-chefes da economia nacional, apesar do impacto ambiental e social que vemos cotidianamente causado por grileiros que invadem terra públicas, pessoas que derrubam a floresta ou promovem queimadas; desde 1990 a área agricultável no país aumentou 103% enquanto a produção agrícola aumentou estrondosos 447%. E isso só foi possível graças a um grande acréscimo em tecnologia.

Foto:Foca na Folga

Os desafios que se mostram no nosso futuro não são pequenos, contudo, por mais complexo que possam ser o tempo mostrou que somos capazes. Entretanto, não há tempo nem possibilidade de errarmos. Cientistas já estimam que apenas a redução das emissões de gases do efeito-estufa não serão mais o suficiente, precisaremos efetivamente capturar esses gases da atmosfera a e prendê-los no solo ou na água. E isso para que tenhamos uma chance de, por exemplo, de continuar a produzirmos alimentos como o fazemos hoje. Somos intimamente dependentes do clima, de regimes de chuva para produzirmos de alimentos a energia. E frearmos o colapso climático se mostra fundamental também na esfera produtiva e econômica. E a nós, só nos resta agir.

 

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