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A fascinante oportunidade de recomeçar

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Há muitos anos, aproximadamente 38, por insistência de meu marido em função de sua ligação com a terra, pois havia nascido e se criado “no sítio” como comumente dizemos no interior, compramos uma área próxima à capital. Nos seus sonhos ou devaneios, essa terra daria à nossa família a possibilidade de uma vida tranquila e possivelmente, na velhice, teríamos além da aposentadoria uma renda que melhoraria sensivelmente nossa qualidade de vida.

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Finalmente chegou o dia de pisarmos pela primeira vez naquela área, nada tinha, ou melhor, tudo tinha para a própria terra, não para qualquer habitante dela. Muitas plantas ainda oriundas da Mata Atlântica, alguma embaúbas que certamente serviam de abrigo aos saguins, que demoramos a ver, alguns cajueiros nativos, que por sua espécie, não nos servia como alimento.

Bem, o que me levou a tratar desse assunto, foi uma outra forma que, hoje, vejo o nosso pequeno lugar. Nunca serviu para o que inicialmente planejávamos, apesar da insistência em se plantar inhame, macaxeira, abacaxi… nada chegou a dar o retorno financeiro esperado. Quando muito, acredito, o que se retirava dava para pagar as dívidas. Aconteceu, inclusive, de a terra ser hipotecada pelo Banco do Nordeste, pois um pequeno empréstimo contraído para se comprar um conjunto de irrigação, por conta de uma abusiva política de juros, se tornou uma dívida tão grande que se vivêssemos 3 encarnações sucessivas, não poderíamos pagar. A dívida montava mais de dez vezes o valor da propriedade.

Essa situação não era “privilégio” nosso, aconteceu com vários produtores em todo Nordeste. Após 25 anos de “peleja” e muita luta dos produtores e associações, o Presidente Temer baixou uma Medida Provisória que retirava grande parte dos juros da dívida e, mesmo tendo de vender até o carro da família, conseguimos saldar o referido débito. Hoje moramos aqui. O que nuca imaginamos acontecer. Vendemos um pedaço da terra para que pudéssemos contribuir com o bem estar dos filhos, e assegurar o futuro dos netos.

Contei esta pequena história para dizer que meu olhar sobre a terra, nunca foi, e nem será voltado para o retorno financeiro. Outro dia, caminhando pelo meio da mata que temos aqui, posso dizer que é uma graça de Deus ter como companheiras de jornada as árvores que plantamos. Os pássaros que vem nos agraciar com seus cantos repetidas vezes, para que os identifiquemos e passemos a tê-los como vizinhos permanentes.

Esse sentimento, pode parecer bobagem, mas lembro de um depoimento que ouvi de uma hanseniana que dizia que as mangueiras da Colônia onde ela vivia eram os únicos seres vivos que podia abraçar. Lembrei, durante essa caminhada, do mistério que envolve uma floresta, e vi um certo companheirismo estre elas. Umas protegem as outras, as raízes das mais altas alimentam as mais baixas, e como uma grande comunidade, a floresta fala. Fala de suas dores quando vemos que está mal tratada, quando são cortadas, além da dor sentida por aquela que está sendo cortada, a mãe se estiver por perto, assim como suas amigas, devem chorar de tristeza. Tristeza essa que o homem diante de sua desconexão com a Natureza não percebe.

Como seria bom se cada um de nós percebesse, que sem as plantas e sem a Terra que precisa ser respeitada como o “ser vivo”, que seria de nós? O que teríamos em nossa mesa, se não fosse a Terra para produzir nosso alimento. De que nos alimentaríamos? Em minha janela, tenho um pequeno móvel que cultivo 6 orquídeas, que estão comigo todo tempo. O jardim, que é cuidado como terapia pelo meu filho, está sendo construído com tanto amor e respeito, que ele tem respondido com tantas flores e rosas… Já me referi aqui de uma pitombeira que temos na frente da casa, que só nos presenteia com suas perfumadas flores, não produz frutos.

Pude ver nesta caminhada, parece estranho que todas elas estão aqui a tanto tempo, mas nossa “comunicação” só foi possível esta semana, porque foi exatamente nesta semana que meu coração e meu olhar estavam abertos para perceber o valor delas. Quantas vezes, nesta pandemia, que foi o período que deixamos a cidade e viemos morar aqui, que minhas melhores amigas foram essas plantas. Quantas tristezas elas compartilharam comigo, quantas alegrias minha família partilha com elas há tanto tempo…

Ao pisar no solo de onde recebo a energia da Mãe Terra, da bioenergia de cada plantinha que nasce porque precisa nascer, precisa estar aqui conosco, descobertas arqueológicas falam da “Deusa do Sol nas terras de Canaã, Anatólia, Arábia e Austrália, e as deusas do Sol dos esquimós, japoneses, e do povo Khasi, na Índia, que eram acompanhadas por irmãos subordinados representados pela Lua” (pag.30) Desde esse tempo percebe-se que a Mãe Terra aceita pacificamente a semente, enquanto o Céu era inerente e naturalmente masculino, intangível, simbolizando a suposta exclusividade dos homens de pensar em conceitos abstratos.

A terra, assim como a mulher, recebe a semente para com seu ato de amar, gerar um filho para entregar à Natureza. A Terra, que como mãe, assim como gera seu filho, se preocupa em gerar o remédio para dele cuidar. Ela também, como Mãe, nos houve nos acolhe com seus braços repletos de folhas que retiram de nós as energias da tristeza e nos devolvem de carinho e bem estar.

Oh Mãe Terra, como o homem tem sido ingrato com você, não percebe que você foi nossa primeira mãe e o será até acolhê-lo em seus braços pela última vez. O corpo que ela receberá e devolverá para juntamente com outros filhos, tornar-se-á o elemento primordial da criação.

Que possamos ser gratos e cuidadosos com essa Mãe tão generosa e tão cheia de amor. Ela também se revolta com os maus tratos, com falta de retribuição por tudo que ela oferece.
Pensa homem! Pensa, como seria nossa vida sem ela? Quando é retirado o seu teto, é a ela que você recorre. Quando você tem sede, é a ela que você recorre para matar sua sede, é nas suas águas que banha todo seu corpo! Pensa Homem, que seria de você se não fosse nossa Mae Terra!

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