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João Pessoa

A amizade

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A amizade é um tema muito antigo, vem da Grécia. Esse tema é abordado nos trabalhos do grande filósofo Sêneca, chamado “As Relações Humanas” que trata das cartas de Sêneca a Lucílio, seu maior amigo. Antes, contudo, vamos falar desse homem que foi capaz de desenvolver um sentimento tão belo por um verdadeiro amigo.

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Sêneca é contemporâneo do nascimento do Cristianismo. Nasce em Córdoba no ano quatro antes de Cristo e morre em Roma em 65 depois de Cristo. Quem não lembra, Sêneca foi chamado por Agripina para educar seu filho Nero, que foi um grande imperador enquanto aceitou as orientações de seu Mestre. Mas quando não aceitara mais suas orientações, Nero se torna o que já sabemos: um tirano, louco e atroz que acaba matando seu próprio Mestre.

Adianto que para àqueles que compartilham a ideia de que a filosofia é uma disciplina que não precisa constar do Curriculum escolar de nossos alunos, esse artigo será extremamente inconveniente, mas como ao contrário, entendo que a filosofia é onde encontramos vários caminhos para uma sociedade justa e moralmente bem formada, resolvi trazer essa pequena contribuição neste artigo.

Sêneca foi um grande escritor, advogado e intelectual.

Considerado um gênio do pensamento romano. Para conhecermos o quão são verdadeiras as qualidades atribuídas a Sêneca, em uma dessas cartas a Lucílio, Sêneca diz: “O filosofo deve ser o pedagogo do gênero humano” . Esses ensinamentos seriam a grande dificuldade que hoje a humanidade mais necessita, que é aprender a viver como ser humano.

Durante um certo período de minha vida achei que era redundância essa colocação, mas com o passar do tempo, percebi que em todas as áreas do conhecimento, essa é uma necessidade urgente. Esta semana, tive a oportunidade de, como espírita, falar em um ato ecumênico na formatura de uma turma de medicina em João Pessoa. Na minha fala, enfatizei essa necessidade. Estamos perdendo a oportunidade de cumprirmos com a nossa missão, determinada por Deus, e reforçada quando da vinda de Jesus, que é o Amar.

Platão já dizia que o homem tem por objetivo formar seu caráter, sua índole humana, e todas os outros ensinamentos viriam depois. Imaginemos Platão vivendo nos dias atuais, com o caráter e a índole do ser humano, sendo exposto diariamente nas mídias sociais e nos meios de comunicação, e, mesmo assim, a sociedade, por também não conhecer esses atributos, não percebe o perigo do homem que não detém caráter e boa índole.

Quando o homem produz uma base moral sólida, o conhecimento que ele adquire, jamais será utilizado para o mal. Se formos olhar para os grandes tiranos da história, identificamos homens altamente preparados intelectualmente falando. Adolf Hitler, por exemplo. Talvez seja essa a causa da crise que humanidade passa neste momento. A falta de formação de um caráter sólido.

Voltando as cartas de Seneca a Lucílio, personagem que não sabemos quem é, nem se realmente existiu, mas Sêneca já as escreve na fase final de sua vida e são chamadas, na verdade, de Cartas das Relações Humanas e dedica a esse personagem a quem ele amava profundamente.

Em uma dessas cartas ele fala uma frase que acredito marcar a todos que têm a oportunidade de lê-las, diz: “Sim meu caro Lucílio, reivindica a propriedade de teu ser”. Esta frase é de uma profundidade para quem está vivendo momentos difíceis, quando muitas vezes teríamos a vontade de abrir mão de nós em função do outro, isso por inúmeras razões. Essa frase, vem nos afirmar que precisamos reivindicar, assegurar, todos os momentos, todos os episódios de nossa vida.

As cartas de Sêneca a Lucílio sobre a amizade são verdadeiros ensinamentos, que nos servem de roteiro para que não escolhamos ou adotemos algum “amigo da onça”. Neste sentido, Sêneca nos orienta:

“Reflete por muito tempo para saberes se deves escolher alguém como amigo. Mas uma vez tomada a decisão, ama-o do fundo do coração: conversa com ele livremente quanto contigo mesmo”.

Esse conselho, é de uma beleza extraordinária. Realmente, como bem diz a música “A Lista” de Osvaldo Montenegro: “Faça uma lista dos grandes amigos…”. Será que seguindo este conselho de Sêneca, teríamos uma lista de grandes amigos? Aqueles que conseguiríamos abrir nosso coração para eles, contando nossos segredos, nossas falhas, sucessos e grandes amores, nossos sonhos as vezes meio absurdos, nossos amores escondidos que não podem se concretizar?

Temos amigos que os amamos tanto quanto a nós mesmos, que faríamos todo sacrifício que tivesse ao nosso alcance para que eles fossem felizes e tivessem bem estar assim como nós? Amigos verdadeiros são aqueles de quem não dependemos em nenhum momento, mas ao mesmo tempo, queremos dar tudo de nós, queremos que ele esteja junto a nós porque queremos que ele cresça à medida que crescemos.

Para mim, esse amigo teria que todas essas qualidades e, ainda, amar a natureza, amar a humanidade… tem que ser uma pessoa de brios, de valor, de caráter. Não posso ser meio amigo, não posso confiar mais ou menos. Amigo é aquele ao qual entregamos nossa vida e nossos sonhos. Não podemos considerar um amigo aquela pessoa que nos esquivamos de falar certos assuntos com ele, esse, certamente não é um amigo. Numa amizade sincera, não pode existir restrição. Outra grande orientação de Sêneca:

“(…) é um erro não confiar em ninguém, bem como confiar em todos. Diria que, em um caso, nós agimos da forma mais segura; no outro, da maneira mais honesta. O certo seria confiar em ambos.

Necessitamos ter um amigo daqueles que é capaz de ao ver nosso desenho, assim como aconteceu no livro o pequeno príncipe, e possa identificar o que queríamos desenhar, porque só um grande amigo é capaz de ver, nas profundezas de nosso coração, o que queremos dizer, mesmo que não seja visível aos olhos. Porque o essencial só é visível ao coração. E só é capaz de ver e sentir o nosso coração, aquele que é o verdadeiro amigo, aquele que não foge da tentativa de descobrir o que você não consegue transmitir, seja pela falta da linguagem apropriada, ou porque está escrito, mas só ver quem tem os olhos voltados para pureza e a beleza das coisas do coração.

Após conhecer um cisco do conhecimento de Sêneca, posso compreender com mais profundidade a música de Milton Nascimento:

“Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do Coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver seu amigo partir.”

Dedico esse artigo a todos que possuem um “amigo que conversa com ele livremente quanto contigo mesmo”. E que possa decifrar o desenho de um elefante dentro de uma cobra, mesmo quando pareça um chapéu. Se você possui esse amigo, ame-o com todo seu coração e guarde-o “debaixo de sete chaves”. Amigo é coisa rara. Cultive, cuide!

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