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Geopolítica uma palavra da moda

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Geopolítica é uma palavra que não é nova, mas está sempre na ordem do dia e passou a ser citada em tudo quanto é lugar. Desde as aulas de ciências sociais e políticas ministradas na academia, passando pela divulgação parcial e tendenciosa da chamada grande imprensa, até chegar às conversas de pé de balcão no botequim da esquina.

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Diante da diversidade de conceitos atribuídos ao verbete, resolvemos procurar uma definição que não se limitasse apenas a traduzir o seu significado, mas que fosse inteligível e útil àquelas pessoas de boa vontade.

Deixemos de lado  apreciações superficiais, muitas delas recheadas com esnobismos oportunistas e tendenciosos que não resistem a meio palmo de aprofundamento. Desçamos às raízes geográficas e sociológicas da geopolítica, para tentar entender melhor a relação entre os estados nacionais e as suas formas de organização.

De antemão devemos informar que, igualmente aos leitores e internautas nós também temos lado. Destarte, procuraremos conduzir a nossa modesta narrativa, com o máximo de imparcialidade. Relembremos por oportuno, um livro que foi escrito pelo político e escritor pernambucano Paulo Cavalcante, sob titulo: O Caso Eu Conto Como o Caso Foi. Da Coluna Prestes À Queda de Arraes. Há um trecho na abertura do livro onde ele escreveu:

“O caso eu conto como o caso foi. O ladrão é ladrão e o boi é boi!”

Mas finalmente o que significa mesmo essa tal de geopolítica?  talvez o mapa abaixo nos ajude a enxergar e entender melhor, o que a rigor é  um complicado e muito disputado  jogo de xadrez político.

Por definição:

“Geopolítica é um termo utilizado para designar tanto a prática, quanto os estudos das relações e disputas de poder entre Estados e territórios. Esse campo do conhecimento se dedica aos estudos dos conflitos diplomáticos, políticos e territoriais, das crises, da evolução histórica do ordenamento político do espaço mundial, da articulação entre os Estados nacionais e da atuação das organizações internacionais e blocos econômicos.”

https://brasilescola.uol.com.br/geografia/geopolitica.htm;

A guerra ora em curso entre a Ucrânia e a Rússia, por mais que queiramos simplificar, tem todas as características para ser classificada como mais uma disputa geopolítica, na acepção da palavra.

Para entender melhor o que se passa entre os dois países, é recomendável que nos voltemos para a genealogia das duas grandes guerras mundiais. É importante rememorar o formato e o desfecho de ambas as guerras, além das consequências decorrentes delas, que tiveram como estuário os tempos quentes da chamada Guerra Fria.

A primeira grande guerra teve como motivação central, a aspiração legitima da Alemanha em conseguir  espaço no mercado de comercialização de bens duráveis. Ela que acabara de inventar o motor à explosão, que viria rivalizar com a máquina a vapor inglesa, constatou que o espaço comercial europeu era de domínio inglês, e se estendia  até o continente asiático.

Voltando o olhar  para o continente africano, a Alemanha novamente constatou que o seu espaço comercial  estava dividido entre a França e Portugal, cabendo à Inglaterra o sul do continente, ou seja, a África do Sul que é  grande produtora de minérios.

Por fim, restava o longínquo continente americano de além mar, já sob o domínio dos Estados Unidos, que se estendia desde o Alasca no extremo Norte, até a Patagônia no extremo Sul, fechando para os alemães  o cheque mate do xadrez geopolítico mundial.

A Alemanha era detentora de uma tecnologia de ponta recém inventada, representada pelo  motor à explosão, muito superior em qualidade à máquina a vapor inglesa. O novo invento  movido através do  óleo diesel derivado do petróleo, revolucionou os meios de transportes existentes: modernizou  a navegação marítima e aposentou o navio a vapor; modernizou as ferrovias e aposentou a locomotiva Maria Fumaça; por fim inspirou os cientistas para a invenção  do avião, inaugurando a navegação aérea, que  foi o embrião dos foguetes usados na corrida espacial.

A Alemanha inicialmente usou a diplomacia para tentar dialogar com a potência da época, no caso a Inglaterra. Procurou sensibiliza-la  no sentido de que fosse reconhecida a sua condição de país emergente e lhe fosse cedido um  espaço no banquete capitalista do mercado mundial. Apesar do esforço, percebeu que todas as portas lhes haviam sido fechadas.

Então, esgotada a via diplomática, a Alemanha tomou a decisão unilateral de redividir o mapa mundi a manu militare, usando naquela época, mutatis mutandis, os mesmos métodos que Estados Unidos ainda hoje usam para dividir o mundo segundo seus interesses, inclusive a Ucrânia.

A Alemanha aliou-se num primeiro momento à: Áustria, Hungria, Turquia e Bulgária, para declarar guerra à Grã-Bretanha, que por sua vez reagiu com o apoio da: França, Itália, Bélgica, Japão, Sérvia, Romênia e da própria Rússia. A história oficial sempre apresentou como causa da primeira guerra o assassinato do príncipe Ferdinando da Áustria-Hungria, e essa informação nunca passou de  uma meia verdade. Os interesses eram outros.

A rigor, a geopolítica foi o pano de fundo do cenário das duas grandes  guerras, e  o assassinato do príncipe austríaco, foi apenas o gatilho do qual necessitava a Alemanha para atear fogo no estopim da primeira guerra mundial. Ao fim da guerra e uma vez derrotada, a Alemanha  ainda teve de indenizar os adversários pelas perdas materiais causadas, sendo arrastada à bancarrota, tornando-se um país economicamente arruinado.

A partir de 1918, com a capitulação da Alemanha, o final da primeira guerra mundial e a Revolução Bolchevique de 1817, a Rússia saia da refrega arrasada economicamente, enquanto aquele país nórdico que tinha um desenvolvimento cultural muito elevado e uma memória tecnológica fantástica, começou imediatamente  ensaiar e preparar a revanche belicosa que viria a acontecer em 1939 com a segunda grande guerra.

O Ovo da Serpente | Site do João Vicente Machado

Foi nesse intervalo de tempo que foi chocado o ovo da serpente nazista de que fala no seu filme o cineasta Ingmar Bergman. O ovo eclodiu por volta de 1923 e dele surgiu a figura de Adolf Hitler que não apareceu por obra do acaso como muitos pensam.

Hitler foi uma criatura alimentada e nutrida por grupos econômicos e religiosos alemães, que enxergaram nele um Führer (líder) com liderança e capacidade suficiente para lavar a honra da Alemanha, que saíra da guerra desmoralizada e falida.

A primeira atitude de Hitler foi no sentido formar um partido de massa, movido por ideais nacionalistas conservadoras, de extrema direita, que ficou mundialmente conhecido como Partido Nazista. Identificou-se e, mais do que isso, aliou-se ao fascismo nascente do  italiano Benito Mussolini, para compor conjuntamente com a Espanha do ditador e auto denominado generalíssimo Franco, o chamado Eixo Roma-Berlim. Atraiu ainda o reforço do Japão, com ideologia e aspirações convergentes, que também aspirava por  um lugar ao sol  no mercado internacional.

O Führer lançou-se à disputa eleitoral partidária e, de vitória em vitória alcançou o poder político em 1936, através do auto – denominado Partido Nacional Socialista Alemão, que de Socialista só tinha o nome. Gradualmente foi conquistando os espaços políticos de que necessitava, utilizando uma máquina de propaganda ainda hoje imitada para eletrizar as massas. Com um discurso que o povo queria ouvir, bravateava e pregava um acerto de contas necessário para lavar a honra enxovalhada da Alemanha. Tornou-se um fenômeno de liderança interna e isso fez com que presumisse subjugar o mundo.

Consciente das limitações energéticas do seu país, um fator limitante do desenvolvimento, Hitler lançou o olhar sobre a energia fóssil oriunda do petróleo e identificou o local onde poderia  encontra-la: a Rússia. Na sequência, invadiu a Polônia em 1939 e tomou posse do chamado corredor polonês que liga a Europa à Ásia. Passou então a dirigir seus esforços de guerra para a frente oriental, de olho no petróleo do Cáucaso, ensaiando uma marcha batida em direção à Rússia.

O povo russo sabia que o seu país seria a bola da vez. Além disso reconhecia as suas fragilidades resultantes de sequelas deixadas pela primeira guerra mundial e pela revolução de outubro de 1917. Mesmo assim e simultaneamente aos fortes indícios de invasão por parte da Alemanha, os russos ainda tinham de enfrentar as forças contrarrevolucionarias internas, numa guerra civil desgastante, remanescente ao período da revolução socialista de 1917, da qual saiu vitorioso.

Esse foi o batismo de fogo do Exército Vermelho organizado por Trotsky.
E importante frisar que a Rússia, fortemente ameaçada pela segunda guerra mundial e sem as mínimas condições financeiras de enfrentar um inimigo tão poderoso, sem dispor de armamento adequado que lhe permitisse rechaçar os alemães, teve de se haver sozinha e  sem nenhuma ajuda.

Joseph Stalin, o governante maior da Rússia, habilmente celebrou um pacto de não agressão com a Alemanha. Ele precisava ganhar tempo para fabricar armas e mobilizar  o seu povo para a guerra de resistência ao inimigo, que com certeza viria, como de fato veio. O acordo que foi também chamado Pacto Germano-Soviético ou Pacto Ribbentrop-Molotov, foi firmado em 1939.
Em 22 de junho de 1941 a Rússia foi invadida pela Alemanha que, ignorando e passando por cima do pacto, arrastou os soviéticos ainda despreparados materialmente para a guerra, na qual eles tiveram que se fritar na sua própria banha, sem ajuda de nenhum país.

O general Gueorgui Jukov, um militar e político soviético, o mais condecorado na história da União Soviética, foi o grande estrategista que comandou o exército vermelho. Os soviéticos sabiam tanto do perigo que pairava sobre a Rússia e sobre a humanidade, que passaram a tratar o conflito como a grande Guerra Pátria, na qual perderam, mais ou menos 26 milhões de vidas.

Jukov como grande estrategista que era, adotou a conhecida tática já  adotada pela  própria Rússia  contra o exército de Napoleão Bonaparte e as suas forças agressoras. Através de um grande recuo, atraiu  os alemães  desde a fronteira com a Europa Ocidental, até o centro-norte do país. Tirando  proveito do clima,  no recuo foi destruindo a água e  os alimentos,  se apropriando das armas dos soldados alemães mortos em combate ou que se tornaram prisioneiros. Finalmente estacionou a sua armada  em Stalingrado para travar a batalha final e a mais sangrenta de toda II guerra mundial, que foi disputada de casa em casa.

Com um heroísmo inigualável e diante de um inimigo poderoso, mas já combalido e desmoralizado, o exército vermelho  encetou a contra ofensiva. Na marcha que empreendeu em direção a Europa Ocidental, se as forças aliadas até então indiferentes, não tivessem se apressado  em tomar chegada, o exército vermelho teria ido até  Portugal.

Contudo, por onde o exército vermelho foi passando na  contraofensiva libertadora, foi libertando os presos politicos e fechando os campos de concentração e de extermínio em massa. Além disso, libertaram do jugo e das atrocidades nazistas, todos os países da Europa Oriental, inclusive a Ucrânia.

E durante o desenrolar da  guerra na frente oriental, por onde estiveram “os aliados” auto decantados em verso e proza como a forças aliadas?

Estavam assistindo de camarote a carnificina da frente oriental, vendo a Rússia e a Alemanha se consumirem como desejavam, para livrá-los de dois problemas: o Nazismo de Hitler e o Comunismo de Stálin.

Cometeram um grande  erro histórico de avaliação e, finda a guerra que fora vencida pela Rússia, procuraram o  equilíbrio  de forças e resolveram se aglutinar sob a batuta dos USA, em tratados militares como foi o caso da OTAN.

Finalmente, toda essa trama se desenvolveu baseada em que? na tal da geopolítica sim senhor!

A mesma geopolítica que ainda hoje está mais viva e ambiciosa do que nunca, com pontos estratégicos em mais de 40 países que foram invadidos pelos Estados Unidos depois da segunda guerra. Portanto o tabuleiro de xadrez em que a Ucrânia está jogando não é uma exceção.

Os Estados Unidos, diante da criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS, passaram a alimentar a guerra fria e a disputar com a URSS o espaço geopolítico. Espalharam pelos continentes e ilhas diversas, inúmeras bases militares e por último, com o assentimento do governo da Ucrânia pretendem instalar um base militar justo na fronteira com a Rússia.

Será que se a China entendesse de instalar uma base militar no Deserto de Sonora na fronteira  com o México, os Estados Unidos iriam permitir?

O posicionamento diplomático do presidente Lula, recebeu da extrema direita brasileira uma saraivada de criticas, mesmo diante da posição de neutralidade por ele assumida na questão da guerra da Ucrânia. As criticas aconteceram em duas vertentes a saber: em primeiro lugar com relação a sua  viagem à China para dialogar com o nosso maior parceiro comercial e para assistir à posse  da presidenta Dilma à frente do Banco Central dos  BRICs.  Na ocasião foi anunciada uma nova moeda, que foi criada, para permitir as transações comerciais sem a necessidade de aquisição do dólar, eliminando um atravessador e tornando os nossos produtos de exportação mais competitivos.

Choveram criticas em defesa da moeda estadunidense que foram rapidamente abafadas  pelo coro de pedidos de acesso  de vários países aos BRICs, acordes com a proposta e dispostos a adota-la. Para decepção dos porta vozes  da síndrome viralatista, contrários à  decisão tomada, os Estados Unidos ao invés de uma esperada  represália, dobraram  os recursos destinados ao Brasil através do Fundo Amazônia de Proteção Ambiental. Para desespero deles, o lance diplomático serviu para  consagrar  o Presidente Lula como liderança internacional.

Com relação à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, todo mundo parece  desejar a paz, exceto  os Estados Unidos e os seus aliados  que continuam a usar a OTAN para alimentar a postergação do conflito. Até hoje ninguém tomou conhecimento sobre a decisão do  sr. Zelesnky, presidente da Ucrânia com relação as atividades do  Regimento Azov de Infantaria Mecanizada, uma conhecida  milicia paramilitar fundada por neonazistas e que está participando do conflito. A propósito das intenções dos USA, encerramos esse artigo com uma frase da professora Maria Luiza Alencar Feitosa:

“EUA e Europa não querem paz. Querem a desistência integral de Putin para declarar a vitória da Ucrânia e lá instalarem a base militar da OTAN. Miram, no médio prazo, a Rússia e a China.”

Deu para entender o jogo de xadrez da geopolítica, ou alguém ainda prefere continuar acreditando em fadas, duendes e lobisomens?

Lembrem-se:“nesse convento não existem freiras  e sim vetustas madames cortesãs!”

 

 

 

Referências:
Geopolítica: o que é, história, importância – Brasil Escola (uol.com.br);
Livro-Os sete Pilares da sabedoria: Terence Eduard Lawrence;
Livro: A Segunda Guerra Fria: Luiz Alberto Moniz Bandeira;
Geopolítica e identidade: dimensões do conflito russo-ucraniano – GEDES – Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (gedes-unesp.org);

Fotografias:
Geopolítica: o que estuda e importância – Mundo Educação (uol.com.br);
13 curiosidades sobre a Primeira Guerra Mundial que você talvez desconheça – Mega Curioso;
REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS (suportegeografico77.blogspot.com);
Primeira Guerra Mundial – Toda Matéria (todamateria.com.br);
O Ovo da Serpente | Site do João Vicente Machado (joaovicentemachado.com.br);
O fascismo é o inconsciente da burguesia sem amarras ou rédeas – Movimento Marxista 5 de Maio (mmarxista5.org);
Herói soviético da Segunda Guerra, Júkov enfrentou Stálin e combateu culto à personalidade – Russia Beyond BR (rbth.com);
Batalha de Stalingrado: resumo, mapa e curiosidades – Toda Matéria (todamateria.com.br);
Rússia envia milhares de soldados à fronteira com Ucrânia (poder360.com.br);
A tomada do Reichstag — e do relógio (uol.com.br); 

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