A Semana Santa me transporta aos tempos idos da nossa infância/adolescência na querida cidade natal de Lavras da Mangabeira no sertão do Ceará. É uma cidade tão grande que não sabemos se é ela está dentro do Ceará ou se é o Ceará que está dentro dela.
Fomos nascido num lar cristão, rodeado de irmãos católicos, batizado e crismado na igreja monumental em estilo gótico que, como é a igreja da nossa aldeia, para nós rivaliza com a catedral de Notre Dame em Paris.
Desnecessário dizer que a nossa ética é cristã e que o nosso ateísmo foi uma convicção que o tempo, a leitura, a reflexão e a lógica nos legaram. Todavia, nunca afrontamos a religiosidade de ninguém. Respeitamos todas as crenças e opiniões, mesmo não concordando com elas.
Fomos ajudante do virtuoso Padre Alzir Sampaio e como coroinha participávamos das celebrações religiosas.
Adorávamos ouvir os sermões do Monsenhor Pedro Rocha, o maior orador sacro que conhecemos. Isso agradava muito à nossa mãe de criação e mãe de fato, Maria Lina Machado.
Na fase de reflexão já citada e por curiosidade histórica decidimos ler a Bíblia que, ao nosso ver, é o único Livro escrito que registrou uma parte da história ocidental, ainda que pela ótica da crença e da religiosidade.
Foram pelo menos três leituras completas, do Livro do Gênesis até o Apocalipse, afora as leituras pontuais quando a polemica se instala. Chegamos à conclusão que o Antigo Testamento é mais amplo e necessário, por revelar a história de um povo, enquanto isso o Novo Testamento é mais específico e narra a história de um homem.
Descobrimos algumas contradições que não vamos enumerar nesse espaço por pertencerem à nossa idiossincrasia, porém podemos entender a importância do Livro como um todo, com as lições das passagens parabólicas da narrativa, além da antropologia das sucessivas gerações. Com relação ao dia a dia da Semana Santa, pesquisamos o rito sequencial que passamos a relatar, começando pelo Domingo de Ramos e indo até o domingo seguinte, também chamado Domingo da Ressurreição.
1-Domingo de ramos: registra a chamada entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e é o marco inicial da também chamada semana maior.
Os ramos são galhos de palmeiras ou outros arbustos da região, usados como tapete pelo povo pobre que O seguia para forra-Lhe o chão por onde pisava. Óbvio que não dispunham de tapetes que à época ornava os palácios da elite religiosa de então, e a residência dos imperadores.
Jesus ia montado no lombo de um jumentinho, muito conhecido por nós com o nome popular de jegue. O jegue substituía a liteira que carregava os nobres e poderosos em lombo de escravos e ainda servia para reafirmar a simplicidade e a humildade do Cristo.
O cortejo revelou mais uma vez a grande empatia do Cristo com os descamisados que o seguiam, mas teve também o condão de atrair a curiosidade e o ódio dos centuriões, escribas e sacerdotes que viam nele, como ainda hoje acontece de modo geral, uma ameaça ao poder que detinham.
A aglomeração em torno de Jesus despertou também a curiosidade dos representantes do Império Romano opressor, que apesar de não enxergar Nele uma ameaça como o que pode parecer, assistiam a tudo à distancia como um conflito entre judeus.
Outros olhares, como os dos zelotes Judas e Barrabás, enxergavam em Jesus a liderança de massa de que precisavam para agitar as massas para o enfrentamento contra os romanos, sem perceber a profundidade da sua missão terrena.
Ao entrar na cidade Jesus ingressou no templo que estava ocupado por mercadores em todo seu interior, chamados à época de vendilhões. Eles comercializavam livremente seus produtos, alimentando a febre do consumo que já existia naquela época e ainda hoje existe na Semana Santa e o chocolate é a prova.
Tomado de uma ira sagrada, o Cristo improvisou um chicote e os expulsou do templo, quebrou suas mesas, derramando o dinheiro apurado e bradando: “A casa de meu Pai é uma casa de oração e não de negócios”.
2-Segunda-feira Santa: Jesus se retira para a cidade da Betânia, onde foi visitar os irmãos: Lázaro, Marta e Maria que eram seus amigos, já consciente do agravamento da crise e pressentindo o seu desfecho.
3-Terça-feira Santa: é o dia em Ele pressente as polêmicas traições de Pedro e Judas e a nosso ver tenta fazê-los enxergar melhor a conjuntura e a reação dos poderes supremos da igreja, consumidos pela inveja e pelo medo da consagração irreversível da Sua Pessoa.
4-Quarta-feira Santa ou de Trevas: marcou o encontro entre Maria e Jesus, mãe e filho, hoje simbolizado pela procissão do encontro da Virgem das Dores com o Senhor dos Passos, chamado dolorosos que é celebrado na via sacra. Entendemos que a referência às trevas quer fazer menção ao momento sombrio que antecedia a grande injustiça e o grande erro da condenação e crucificação do Cristo.
5-Quinta-feira Santa: foi um dia de agenda cheia começando pela unção dos óleos, em seguida a cerimônia do lava pés e da ceia larga que na ocasião instituiu a da eucaristia. Os óleos citados são aqueles usados na crisma, na catequese e na unção dos mortos, prática do cotidiano da igreja ate os nossos dias.
A cerimônia do lava pés é a ocasião em que o Cristo lava os pés dos apóstolos e de Maria Madalena, que sempre esteve presente em todos os momentos de Jesus, como a purifica-los para a caminhada que a partir de então iriam palmilhar sozinhos.
Na ceia larga, em que foi instituída a eucaristia, houve a partição do pão e a comunhão do cálice. Pela narrativa é nesse instante em que se dá o polêmico afastamento de Judas que vai à procura dos soldados romanos, enquanto Jesus se recolhe à meditação.
A igreja atualmente entra em vigília eucarística, o sacrário permanece exposto, as imagens são cobertas de roxo e os sinos dos campanários das igrejas e as campainhas são substituídos pela matraca.
6-Sexta-feira santa ou da paixão: é o dia do julgamento sumário sem o sagrado direito de defesa, da tortura covarde, da exibição e humilhação pública como se fora um troféu, do séquito em direção ao monte calvário e por fim da crucificação e a morte, que era o castigo dado a presos políticos como O Cristo.
7-Sábado de aleluia: foi um dia de vigília ao sepulcro, principalmente por parte das irmãs Marta e Maria Madalena, enquanto os apóstolos ficaram reclusos, e finalmente:
8-Domingo Pascal ou da Ressurreição: a igreja considera o dia mais importante da semana em que Jesus vencendo a morte ressuscita.
Finalizando devemos dizer que a humanidade esta distante de muitos dos ensinamentos que Ele deixou. Solidariedade, altruísmo, desapego material, comunhão, pacifismo e generosidade, esta distante para muitos.
Mamon (o dinheiro) preside tudo e tudo gira em torno dele, a avareza cega às pessoas, inclusive muitas delas ditas Cristãs. Até quando Senhor Jesus!
“Não podereis servir a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo!”