As mudanças climáticas que estão em curso atualmente, são reais e inegáveis. Elas vêm causando impactos ambientais diversos e não têm poupado nenhuma das regiões do planeta terra. A princípio, era até possível imaginarmos que as regiões tropicais mais próximas da linha equatoriana, sempre mais sensíveis às longas estiagens, estivessem mais susceptíveis a essas alterações.
Todavia, a mãe natureza sempre é muito isonômica e implacavelmente justa nas suas respostas às agressões sofridas. Além disso ela não se queixa, se vinga!
As respostas da natureza às mudanças climáticas têm sido cada vez mais intensas, frequentes e universais. Na sua grande maioria elas respondem aos danos causados pela mão humana e vêm acontecendo de modo a atingir os continentes e os mares, desde as regiões polares mais frias até as regiões tropicais mais quentes. O balanço dos prejuízos decorrentes das alterações do clima, tem sido contabilizado em todas as regiões do planeta terra, assumindo as formas mais diversas.
É fato que, mesmo que o animal humano ainda não se fizesse presente na face da terra, as mudanças dos diversos climas já aconteciam de forma espontânea. As alterações da geomorfologia terrestre que aconteceram sempre em ritmo lento e gradual, foi a forma encontrada pela natureza, de propiciar a adaptação das mais diversas espécies e assegurar-lhes a sobrevivência. Nesse passo, as espécies que melhor se adaptaram conseguiram sobreviver, enquanto aquelas que não o conseguiram foram extintas, como ocorreu com os dinossauros e outras espécies de vida.
Notícias recentes e frequentemente repetidas, ainda sujeitas a uma confirmação cientifica mais consistente, dão conta de uma possível divisão natural do continente africano, com o consequente surgimento de um outro continente e um outro oceano. A ser verdadeira essa hipótese, a causa mais lógica aponta para o fenômeno da movimentação natural das placas tectônicas do manto terrestre. Aliás esse fenômeno já aconteceu há milhões de anos passados, provocando a separação entre a África e as Américas.
Hoje trataremos de uma mudança climática atual que se revela através da seca milenar que vem se abatendo de forma silenciosa e ameaçadora, afetando regiões inteiras do hemisfério norte e de um modo particular, o Sudoeste dos Estados Unidos e o Norte do México.
A grande vítima dessa seca preocupante é o famoso Rio Colorado, um curso d’água que tem uma extensão total aproximada de 2.300Km. Ele nasce nas Montanhas Rochosas, local que em grande parte do ano está coberto de neve e desagua no golfo do México.
Aquele importante curso d’agua, do qual dependem 40 milhões de pessoas, vem tendo a sua vazão gradualmente reduzida ao longo do tempo, causando grande apreensão aos cientistas e estudiosos do clima. A consequência maior de um possível colapso do Colorado, afora o suprimento humano e animal, é o prejuízo socioeconômico decorrente dessa iminente catástrofe que poderá penalizar dois países, México e Estados Unidos-USA.
Ao longo do curso do Rio Colorado, mais precisamente nas proximidades de Las Vegas e já na divisa entre os estados do Arizona e Nevada, foi construída por volta de 1936 a Barragem Hoover, cujas águas formam o Lago artificial Mead.
A barragem Hoover é uma bela obra da engenharia, construída toda ela em concreto armado, para armazenar 35 bilhões de metros cúbicos de água e vem a ser o maior lago artificial dos USA.
O reservatório tem utilidade múltipla e possibilita a retirada de 11m3/s para abastecimento e usos diversos, além de ter a capacidade de gerar 20.080 megawatts em energia elétrica.
Em um estudo feito por Ferdinando de Sousa e publicado em 19/06/2018 ele afirma que:
“O Rio Colorado é responsável pelo abastecimento de 40 milhões de pessoas em sete estados estadunidenses e quase 90% do total das suas águas é desviada para fins de irrigação em 2 milhões de hectares, o que torna a sua bacia hidrográfica uma das mais aproveitadas do mundo. Várias cidades importantes dos Estados Unidos como Los Angeles, Las Vegas, San Bernardino, San Diego, Phoenix e Tucson utilizam sistemas de abastecimento que captam água do Rio Colorado.”
A agricultura irrigada, é uma das formas de uso da água onde há o maior consumo, sobretudo quando a tecnologia usada não é adequada, resultando num uso perdulário. Esse é o caso da irrigação feita através do processo de inundação, ou aspersão com o uso dos chamados canhões hidráulicos.
Pelo que podemos deduzir da figura acima, o grande consumo de água acontece na agricultura irrigada, que sozinha consome 70% de toda água disponível em um planeta cada vez mais povoado e com crescente demanda de alimentos. A indústria, por sua vez é o segundo maior consumidor de água e representa 22% do consumo total. Enquanto isso, para o uso doméstico, incluídas a dessedentação humana e animal o consumo representa 8% do total.
O consumo elevado de água; a redução da precipitação pluviométrica; a morte das nascentes; o assoreamento da calha do rio; a elevação das temperaturas que prejudicam a formação de neve, além dos maus tratos causados pelo bicho humano, são fatores que conspiram contra a vida do Rio Colorado. Esse leque de fatores contribui conjuntamente para a redução da vazão do Rio e se reveste de ameaça grave à população que é direta ou indiretamente dependente da sua água.
O jornal O Globo, na edição do dia 16/08/2022, traz uma matéria informando as providências restritivas adotadas pelo governo dos USA, para evitar uma catástrofe iminente. Diz a manchete chamativa:
“EUA vão reduzir a distribuição de água do Rio Colorado em meio a ‘colapso catastrófico’ causado por seca histórica.”
Prossegue no corpo da matéria:
“A distribuição de água do rio no estado de Arizona cairá 21% em 2023, enquanto Nevada receberá 8% menos. A participação do canal que chega ao México será reduzida em 7%. A Califórnia, a maior usuária da água do Rio e o estado mais populoso dos USA, esse ano não está sendo afetada.
A água subterrânea é fundamental por alimentar os córregos e riachos que abastecem o rio e permitir manter o fluxo do Colorado fora do período de chuvas, do qual dependem hoje, cerca de 40 milhões de pessoas.
No melhor cenário, mais quente e úmido, o volume de água subterrânea pode aumentar 6% até 2030, mas depois decai ficando 3% abaixo do nível atual em 2080. No pior cenário, quente e seco, as águas subterrâneas podem diminuir 23% até 2030 e até 33% em 2080 (Geophysical Ressarce Letters, 25 de outubro).“
Se fizermos o balanço do somatório de todas as perdas de águas de origem: subterrânea, da chuva e do derretimento da neve, iremos ter uma perda considerável. A menos que haja um rigoroso controle de consumo da água distribuída, paralelamente a uma radical mudança comportamental da população da bacia hidrográfica, e do próprio governo daquele país do norte, o colapso se prenuncia como inevitável.
Paradoxalmente, os USA vêm transgredindo o meio ambiente, indiferentes a um grave problema que lhe está as vistas que é o grave problema do Rio Colorado.
Na última conferência do clima, estiveram presentes apenas para interferir nos debates em defesa do status quo, sem se apresentarem como signatários de nenhum compromisso formal.
A sua participação nos debates, tem o fito de relativizar as denúncias dos especialistas, na tentativa de justificar as transgressões ambientais que vêm praticando, mas não se dignam a apor a assinatura em nenhum documento oficial.
Além disso e ao que parece, carecem de tecnologias mais modernas, que permitam uma melhor calibração dos equipamentos de modo a economizar até 30% da água disponível, como faz a Japungú aqui bem perto de nós, sem prejuízo para a produção.
A situação do Rio Colorado é muito grave e pode perfeitamente nos servir de exemplo com relação ao uso da água do nosso Rio São Francisco, como um Paradigma a ser evitado.
Diz o dito popular que:
“Quando vires a barba do vizinho arder coloca logo a tua de molho.”
Referencias:
Rio Colorado – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org);
RIO COLORADO: A BACIA HIDROGRÁFICA MAIS APROVEITADA DO MUNDO | ÁGUA, VIDA & CIA – Fernando José de Sousa (ferdinandodesousa.com);
Práticas que mais consomem água – Mundo Educação (uol.com.br);
EUA vão reduzir distribuição de água do rio Colorado em meio a ‘colapso catastrófico’ causado por seca histórica | Mundo | O Globo;
Rio Colorado, com menos água no futuro : Revista Pesquisa Fapesp;
Fotografias:
;Barragem Hoover Dam – Las Vegas, Nevada – EUA – Destinos para Viajantes | Os lugares mais incríveis do Mundo (destinations-for-travelers.blogspot.com);
•▷ 10 Melhores Poços do Arizona para Desfrutar Neste Verão (motordeviajes.com); RIO COLORADO: A BACIA HIDROGRÁFICA MAIS APROVEITADA DO MUNDO | ÁGUA, VIDA & CIA – Fernando José de Sousa (ferdinandodesousa.com);
Práticas que mais consomem água – Mundo Educação (uol.com.br);
Foto de Nascente Do Rio Colorado Rio De Montanha Rápida Nas Montanhas Rochosas e mais fotos de stock de América do Norte – iStock (istockphoto.com);
A catastrófica ameaça da seca total no lago Mead, maior reservatório de água dos EUA – BBC News Brasil;
Cientistas descobrem novo oceano em África ‘dividida’ (revistaoeste.com);