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Os exageros preconceituosos do etarismo

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No dia 10 de março de 2023, acompanhamos através da imprensa e com tristeza, a atitude reprovável e preconceituosa de três jovens alunas universitárias, matriculadas no curso de Biomedicina da Unisagrado em Bauru-Sp.

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Não satisfeitas com as agressões verbais, elas  gravaram um vídeo que repercutiu muito na mídia e no qual elas censuravam a colega Patrícia Linares pelo simples fato de, aos 44 anos de idade, ainda está fazendo um curso de graduação  numa faculdade.

Sem sequer indagarem as razões daquela senhora e ouvi-las pacientemente, sem sequer acolhe-la de forma civilizada como mandam as regras de urbanidade e a boa educação doméstica, as jovens universitárias se arvoraram em caçoar com ela, ignorando o porquê da sua decisão considerada por elas como  extemporânea e tardia.

Foto: Site UNISAGRADO

De maneira debochada e de forma presunçosa, as moças emitiram opiniões descabidas e cruéis tipo:

“Ela tem 40 anos. Já era para estar aposentada!”
E como se uma única dose de ironia preconceituosa não bastasse, insistiram num misto de mofa e deboche de forma desumana e cruel:
“Gente, 40 anos não dá mais para fazer faculdade.!”

Fonte: Leia mais em: https://www.gazetasp.com.br

Ficaram a repetir insistentemente e em público esse mantra, alto e bom som, para ao final exibirem um vídeo em que tornaram pública a desfeita, gravada como se fosse  um troféu.

A atitude abominável das jovens universitárias nos deixou tomados da mais profunda indignação. Fossem elas totalmente despossuídas de quaisquer conhecimento vá lá que tolerássemos. Todavia, uma agressão gratuita vinda de um grupo de estudantes universitárias, não pode ser entendida senão como uma atitude insólita, irreverente, provocativa, desrespeitosa e preconceituosa.

Numa matéria publicada no Estadão no dia 13 de março de 2023 e assinada por Renata Okumura, ela define:

“Etarismo ou velhofobia, corresponde à discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos… A ofensa também é conhecida como idadismo ou ageismo, ou seja, é o preconceito com relação a idade, definido pela Organização Pan-Americana da Saúde-OPAS como aquele que surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas, por atributos que causam danos, desvantagens ou injustiças e minam a solidariedade internacional.”

Os últimos tempos têm sido muito  pródigos em casos de segregação social, racial e etária parecidos com este que hoje aqui trazemos. Ao que nos parece, essas manifestações insólitas, têm fortes conotações de origem econômica, usadas para justificar uma pretensa ação de sobrevivência. A rigor é um gesto animalesco da espécie homo sapiens.

Foto: Imagem/Divulgação

A economia liberal, por mais que digam em contrário, não considera o pleno emprego como  uma prioridade a ser perseguida. Segundo os postulados econômicos liberais, a mão invisível do mercado irá conduzir, no latu sensu da palavra, todas as relações econômicas, inclusive as que regulam o mundo do trabalho.

Então a competitividade e as disputas acirradas pelos postos de trabalho existentes num mundo atual,  onde o desemprego está sempre presente, não abala os governantes liberais. O desemprego, pela ótica da economia liberal, poderá até  ser tolerado  sem maiores preocupações já que “a mão invisível” do mercado regulará e “resolverá” tudo.

A partir de um estágio como esse, adotado  pelo protocolo capitalista, o estopim da disputa vive permanentemente aceso, conduzindo a classe trabalhadora a uma disputa acirrada pela sobrevivência num verdadeiro vale tudo.

Os que estão em fase escolar  ou de capacitação para ingressar no mercado de trabalho, enxergam o colega não como companheiro de trabalho em potencial, mas como um concorrente a ser suplantado, e se necessário  ser vencido.

É muito comum ouvirmos a frase: fulano ou cicrano “venceu na vida!” Só não dizem a quem ele derrotou, pois, a vitória de alguém sempre pressupõe a derrota de outrem. É imperativo que, para alguém “vencer na vida”  outro seja derrotado, e se preciso for, até eliminado.

É como cantava Noel Rosa, o poeta de Vila Isabel, no seu: Quando Samba Acabou:

… “E como em toda façanha
Sempre um perde e o outro ganha
Um dos dois parou de versejar
E perdendo a doce amada
Foi fumar na encruzilhada
Ficando horas em meditação.
Quando o sol raiou
Foi encontrado
Na ribanceira estirado
Com um punhal no coração.”

Apesar da intensidade da luta e da dureza do jogo, existem, porém, aquelas exceções que poderiam muito bem se constituírem em  regra, as quais  serão  ditadas pelas circunstancias e /ou pela conjuntura.

No ano de 1985 completávamos exatos dez anos de conclusão do nosso curso de graduação em engenharia civil e, há nove anos trabalhávamos na Cagepa onde ingressamos através de um concurso público realizado em 1976.

Havia na CAGEPA daquela época, uma política de treinamento implantada em que, a cada ano eram encaminhados pelo menos dois profissionais para fazer cursos de longa duração, entre os quais o de especialização em saúde pública voltado para os engenheiros, já que a empresa é, informalmente, a secretaria de saúde preventiva do estado.

O curso tinha duração de um ano, e os contemplados eram escolhidos tanto pelo tempo de serviço quanto  pelo desempenho funcional. Com base nessas premissas  fomos agraciados, nós e o companheiro Uélio Joab de Melo Viana, de saudosa memória.
Nos foi dado optar entre a faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP em São Paulo, e a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz-FIOCRUZ na cidade do Rio de Janeiro, a opção por nós escolhida.

FOTO: Escola Nacional de Saúde Pública

No percurso da viagem de ida, dentro do avião, conversávamos com o colega sobre o tipo de  ambiente que iriamos encontrar e sobre as dificuldades que poderíamos enfrentar.

Naquela época tínhamos nós  38 anos de idade e ele 37 e sabíamos que  encontraríamos  pela frente uma garotada recém formada, com idade variando entre 20 e 25 anos e provavelmente muito bem atualizada. O nosso primeiro desafio era  nos esforçar muito para acompanhar o ritmo dos garotos, como a melhor forma de melhor nos integrar ao grupo.

Em lá chegando nos deparamos com alguns companheiros que eram profissionais  contratados por outras Empresas Estaduais de Saneamento e que iriam também fazer o curso. Eles eram em numero de cinco  e o restante em torno de vinte  era composto por jovens recém formados.

A bem da verdade, fomos muito bem recebidos pelo grupo de jovens, e tivemos com eles um ano inteiro de boa e harmoniosa convivência, que nos proporcionou a nós todos  um aprendizado mútuo.

Eles como detentores de uma teoria atualizada recém recebida da academia, e nós como detentores da experiência adquirida em campo, após nove anos de trabalho. Foi um casamento perfeito e harmonioso, em que todos nós ganhamos e de lá saímos com uma amizade duradoura que ainda hoje perdura.

Afinal de contas  onde está a contradição entre o caso de segregação da matriculanda na Unisagrado de Bauru e nós matriculandos na ENSP?

Vejamos algumas hipóteses mais plausíveis para as reações em ambos os casos:

Em primeiro lugar, teria sido a educação doméstica diversa entre ambos os grupos, que variou da fidalguia à hostilidade, a causa determinante do comportamento diferenciado em ambos os casos? Talvez!

Em segundo lugar, teria sido pelo fato de o país ter naquela época, apenas 135 milhões de habitantes e ser um canteiro de obras públicas de norte a sul, oferecendo oportunidades diversas de empregos ? Talvez!

Em terceiro lugar, teria sido  pelo fato de estarmos nós já empregados e não representarmos quaisquer tipos de ameaça para os jovens colegas em termos de concorrência? poderiam eles imaginar que a nossa experiência profissional nos favorecesse em provável escolha patronal? Talvez!

Qualquer que tenha sido o motivo da diferente acolhida, o fato é que houve dois tipos de tratamentos diametralmente opostos e a questão nos parece ser de natureza econômica  sociologicamente passível de uma melhor apreciação.

Fonte: EcoDebate

Pelo que podemos observar na pirâmide populacional do ano de 1985, o índice de envelhecimento (IE) mostrava uma estrutura etária jovem. Havia 50,4 milhões de crianças e jovens entre  0 a 14 anos (representando 37% da população total) e 8,7 milhões de idosos acima de 60 anos ou mais (representando 6,4% do total). Desta forma, o IE era de 17,2 idosos para cada 100 pessoas de 0-14 anos.”

O envelhecimento brasileiro até o ano de 2085, na hipótese de fecundidade muito baixa, artigo de José Eustáquio Diniz Alves (ecodebate.com.br);

Já na segunda pirâmide do ano de 2021, o cenário  é diverso. O grupo etário entre 30 e 39 anos, correspondia a 16,1% da população residente. Já o grupo etário entre  40 e 49 anos representava  14,0%; entre  50 e 59 anos, 11,4% e a faixa etária  acima  de 60 anos ou mais, 14,7%. A parcela de pessoas com mais  de 65 anos de idade representava 10,2% da população.”

Se adicionarmos uma a uma as parcelas:
Entre 40 e 49 anos, teremos 14 %
Entre 50 e 59 anos, teremos 11,4%
De 60 anos ou mais teremos 14,7%
E acima de 65 anos 10,2%

Na pirâmide de 1985 a faixa acima de 60 anos representava 6,4% do total, enquanto na pirâmide de 2021 a faixa acima de 60 anos representava 24,9% ou seja quatro vezes a mais, ou ainda 289% de diferença.

Esses números nos fazem refletir que: uma população envelhecida, é vista pela ótica do liberalismo econômico nem como  força de trabalho nem como  mercado.

É diante desse quadro de uma população envelhecida, que os idosos vêm sendo tratados como estorvo e ao idosos  é negada uma seguridade social plena, que assegure uma aposentadoria digna. Afinal o idoso de hoje contribuiu durante toda vida para assegurar não somente a ele mas a todos, uma velhice tranquila.

Mas ao contrario ele é o grande vilão da falácia do chamado rombo da previdência, uma parte da seguridade social plena que lhe é negada.

Enquanto isso a peça orçamentária,  anualmente e de forma crescente, vem sendo sequestrada para pagamento de juros à  banca internacional.

Diante de uma “derrama” dessas, o salve-se quem puder vira uma prática selvagem, e a solidariedade entre homens e mulheres desaparece.

 

 

Referências:
Entenda o caso das estudantes de Bauru que riram de colega de 40 anos | Band (uol.com.br);
O envelhecimento brasileiro até 2085 na hipótese de fecundidade muito baixa, artigo de José Eustáquio Diniz Alves (ecodebate.com.br);
Competitividade no trabalho: até quando isso é saudável? (wittel.com);

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