O fascismo, a rigor um filhote do capitalismo, surgiu na Itália lá pelos idos de 1919 como uma organização paramilitar. Foi concebido e liderado por Benito Mussolini, codinome o Duce. (líder) Daí foi transformado num partido político que se tornou hegemônico e governou a Itália entre 1922 e 1943 à manu militare. Fazia uso de métodos autoritários antidemocráticos e contagiosos que, tal qual uma virose, se alastrou e infectou com a sua ideologia o bioma político da Europa Ocidental.
O fascismo espalhou-se pela Península Ibérica e alcançou a Espanha onde encontrou um terreno fértil. Se aproximou de um aliado de primeira hora que foi o general Francisco Franco Bahamonde, o qual liderava o “partido nacionalista,” (atentem para o nome) e foi a liderança maior da direita na guerra civil espanhola entre 1936 e 1946.
A guerra civil na Espanha, se estendeu de 1936 a 1946 e, foi um conflito armado entre as forças auto denominadas nacionalistas do nazifascismo, e as forças republicanas defensoras da democracia, apoiadas pelos socialistas e pela comunidade internacional.
As forças republicanas espanhola numa luta desigual, resistiram heroicamente ao arsenal de guerra nazifascista que foi colocado à disposição do general Franco por Adolf Hitler.
Ao término da guerra, além da derrota militar sofrida pelos republicanos, os sobreviventes foram cruelmente massacrados pelas tais forças ditas “nacionalistas, do auto denominado generalíssimo Franco. Ele que esteve o tempo todo apoiado e armado até os dentes por Adolf Hitler.
A guerra civil espanhola foi narrada em detalhes por Ernest Hemingway no seu livro Por Quem os Sinos Dobram, cuja leitura recomendamos. Foi também levada ao cinema pelo diretor Sam Wood no ano de 1943.
A guerra citada, a rigor foi um laboratório bélico para avaliação da eficiência da máquina de guerra nazista, que no decorrer do conflito foi testada para posteriormente ser usada nos campos de batalha da II guerra mundial.
Por afinidade, o fascismo abraçou-se definitivamente com o primo carnal que foi o nazismo de Adolf Hitler e viraram gêmeos siameses a partir do final do conflito.
Além da Espanha, o fascismo chegou também a Portugal, pelas mãos, pasmem, de dois professores universitários: Oliveira Salazar (1932-1968) e Marcelo Caetano (1968-1974).
Com o passar do tempo e com uma indisfarçável prática política violenta, revelou-se uma ideologia opressiva, conservadora e de extrema direita que ainda hoje é um pesadelo mundial e deve ser sistematicamente combatido.
Embora tenha surgido com feição e maquiagem nacionalista até na sigla, (Partito Nazionale Fascista-PNF) o fascismo na verdade praticava um nacionalismo em defesa do patrimônio, do território, dos ativos nacionais, sempre a serviço da classe dominante, para a qual, falar em distribuição sempre foi um sacrilégio.
Pois bem, o Fascismo continua insistindo em ressurgir, mostrando o velho rosto repaginado, para dissimular a sua face autoritária e cruel. Lembremos que ele é filho do capitalismo e uma síntese da extrema direita que desde a origem sempre manteve afinidade com a caserna, de onde é egresso. Tem como fundador Benito Mussolini, que foi nomeado pelo rei Emanuel III com o título de Primeiro Marechal do Império, tendo como sócio o auto denominado Generalíssimo Franco.
Nos tempos atuais, o fascismo renunciou a camuflagem de falso nacionalismo e associou-se a algo menos ostensivo e mais sedutor, que é o ultraneoliberalismo puro de origem-PO. O velho modelo econômico liberal transfigurou-se na versão neo-liberal, (neo de novo) para adquirir um ar juvenil.
Usou como salão de beleza a Escola de Chicago, (Friedrich Hayek e Francis Fukuyama) de onde passou a ser difundido pelos chamados Chicagos Boys como Paulo Guedes, (BTG Pactual) um tema que ja foi tratado em artigo anterior.
Após um repaginamento providencial, o neofascismo passou a angariar adeptos através de uma política de aliciamento, selecionando e adestrando os seus representantes, em meio à classe média e alta. Essa capatazia exerce o papel de arauto, com um discurso pasteurizado de falsa moralidade. Estão posicionados no topo da governança do fascismo via de regra outsiders da política de passado comprometedor. Além disso são aculturados e afeitos à violência, como é o caso de Jair Bolsonaro et caterva.
Chega-nos às mãos, através de um periódico denominado A Terra é Redonda, um artigo de ninguém menos do que o mestre Florestan Fernandes, o maior sociólogo das três Américas.
Através do artigo publicado no dia 1° de agosto de 2020, uma leitura que recomendamos, Florestan faz uma análise crítica do fascismo que emergiu na América Latina e contagiou diversos países, inclusive o Brasil.
O artigo do mestre Florestan, juntamente com outros escritos dos quais nos acercamos e que estão citados na secção consulta, nos estimulou a tentar fazer junto com os nossos leitores e internautas uma reflexão mais aprofundada sobre o fascismo. Haja vista às escaramuças fascistas do dia 08 de janeiro de 2023 que aconteceram aqui no Brasil, ocasião em que houve uma tentativa concreta de golpe de estado, felizmente abortada.
Na América Latina as propensões para o fascismo tem tido o estímulo e o financiamento de grupos empresariais e organismos financeiros poderosos, além da orientação do serviço de inteligência dos Estados Unidos, aprofundada na gestão fascista de Donald Trump.
O recrudescimento fascista que não é de agora, acentuou-se depois da revolução socialista cubana no ano de 1959, que foi demonizada, cercada, bloqueada e caluniada pelo capitalismo, assustado como o fantasma da ameaça “comunista.”
A forma de exorcizar o fantasma do socialismo, foi colocar no seu lugar um fascismo adornado com frases de efeito tipo:
“a minha bandeira jamais será vermelha!”
Sandices produzidas pela ignorância ou pela má fé, para se tornar simpática ao olhar do capitalismo. Vestiram-no com uma nova roupagem, mas com a mesma cueca suja do sangue dos massacres perpetrados no passado, sobretudo no período que antecedeu à II guerra mundial.
Se ilude quem pensa que lideranças como Mussolini, Franco, Salazar, Marcelo Caetano e Hitler surgiram do nada. Muito pelo contrário, eles foram identificados, estimulados e financiados, por mega empresas tais como: BMW, Fiat, IG Farben, (Bayer) Krupp, Volkswagen, Siemens, IBM, Chase Bank, etc, além dos grupos de mídia.
Na Itália, berço de Benito Mussolini, a igreja católica foi um dos pilares de sustentação do fascismo, notadamente a partir de 1929. Naquela ocasião foi celebrado entre o Papa Pio XI e o governo da Itália representado por Mussolini, o famoso Tratado de Latrão.
No documento oficial, o governo italiano, (leia-se Mussolini) reconheceu a religião católica apostólica romana como a religião oficial do estado Italiano, e foi além: reconheceu a propriedade e o poder de estado da Cidade do Vaticano como pertencente à igreja católica; concedeu ao Vaticano uma indenização em títulos de renda no valor de 1 bilhão de liras; reconheceu o valor civil do casamento religioso e; tornou o ensino confessional da igreja católica como obrigatório nas escolas estatais.
No Tratado de Latrão, Mussolini foi reconhecido pelo Papa Pio XI como “o homem da Providencia”. A partir de então e seguindo a retórica do fascismo, Mussolini empregou o discurso religioso para defender o seu ideário, e enquanto líder de governo, passou a ser visto como um homem escolhido por Deus. Depois da celebração desse acordo, infeliz do vigário da mais longínqua orada do mundo, que dissesse ao menos que Mussolini era feio!
“No que se refere ao Nazismo, a Conferência dos Bispos Católicos da Alemanha, divulgou em 11 de maio de 2020 um relatório de 23 páginas admitindo a cumplicidade da igreja nos crimes nazistas. Consideram que a igreja, representada pelo Papa Pio XII, não fez o suficiente para se opor à ascenção do nazismo e até mesmo cooperou com o regime de Adolf Hitler durante a segunda guerra mundial.” http://www.ihu.unisinos.br;
Os fatos aqui trazidos, são fatos históricos reais e referenciados que já se repetiram como tragédia e agora se repetem como farsa como diria o genial filósofo Karl Marx.
Vivemos um remake fascista que envolve não mais e tão somente a Igreja Católica e os seus representantes atuais, sob a liderança do Papa Francisco, um latino-americano muito comprometido com a defesa dos despossuídos. Chiquinho, como costumamos chama-lo, tem contribuído e muito para o reencontro da igreja católica com a verdadeira doutrina cristã.
As seitas religiosas entraram em cena, se alastraram e cresceram, tanto em representatividade quanto em número de seguidores. Com uma pregação fundada no “temor a Deus,” (como se Deus fizesse medo!) são voltadas para o fundamentalismo pentecostal e desenvolveram através dos seus pastores, uma cultura financista incontida, que mais se assemelha à venda dos céus à prestação.
O efeito inercial do nazifascismo, ainda voltou a exercer influência e sedução em membros da igreja latino-americana até a década de 1960. Parte da igreja católica emprestou apoiou aos diversos golpes militares desfechados no sul do continente, inclusive o golpe militar de 1964 no Brasil. No caso brasileiro, por ocasião do golpe militar de 1964, a igreja católica ainda tomou parte ativa, juntamente com as seitas que estavam surgindo na época.
Ainda majoritária, assumiu de forma tênue e não mais unânime, a vanguarda da reação comandando a fatídica Marcha da Família com Deus pela Liberdade, onde ponto culminante foi a celebração de uma “missa pela salvação da democracia”
Vejamos o que nos ensina o mestre Florestan Fernandes:
“O fascismo não perdeu, como realidade histórica, nem seu significado político nem sua influência ativa. Tendo-se em vista a evolução das “democracias ocidentais”, pode-se dizer que Hitler e Mussolini, com seus regimes satélites, foram derrotados no campo de batalha. O fascismo, porém, como ideologia e utopia, persistiu até hoje, tanto de modo difuso, quanto como uma poderosa força política organizada. Não só ainda existem regimes explicitamente fascistas em vários países; uma nova manifestação do fascismo tende a tomar corpo: através de traços e mesmo de tendências mais ou menos abertas ou dissimuladas, a versão industrialista “forte” da democracia pluralista contém estruturas e dinamismos fascistas.”
O caso mais emblemático de recrudescimento do fascismo na américa latina aconteceu no Chile. Antes, durante e depois do golpe militar sangrento que assassinou o presidente Salvador Allende, um líder que interpretou de forma infantil, o engodo da possibilidade de construção do socialismo através do voto. O erro de interpretação de Allende através de um devaneio atávico, ressuscitou a proposta historicamente inexequível do socialismo utópico.
Ninguém, em sã consciência, poderá crer que a classe dominante vá se sensibilizar a ponto de dividir o poder, seja de forma parcial ou total com a classe dominada, explorada, oprimida.
É sempre oportuno refletir sobre a essência do capitalismo, que transmitiu seu DNA ao fascismo.
O saudoso professor Frederico Simões Barbosa, professor da ENSP/FIOCRUZ repetia com frequência a frase que ficou marcada na nossa mente:
“O capitalismo não existe para fazer filantropia como muitos pensam; o capitalismo existe para obter o lucro máximo a qualquer custo;”
O devaneio de muitos intelectuais ditos de esquerda, de imaginar a via eleitoral como via de acesso ao socialismo, foi uma proposta filosófica de socialismo utópico, imaginado pelos primeiros pensadores do socialismo que foram Robert Owen, Saint-Simon e Charles Fourier.
O desejo de Allende era igual ao desejo de todo socialista. Ele pregava uma sociedade socialmente justa e sem divisão de classes, um anseio que jamais foi alcançado a não ser através da via revolucionária.
É muito oportuno lembrar, que a via revolucionária foi ensinada ao mundo pelo capitalismo e o maior exemplo, nos foi dado pela revolução burguesa da França, onde os revolucionários franceses derrubaram o feudalismo bradando as palavras de ordem de Robespierre:
Percebam que o próprio capitalismo precisou promover uma revolução para se auto afirmar. As palavras de ordem usadas eram: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Allende foi modesto e sugeriu apenas: uma reforma agrária que desse ao camponês uma oportunidade de trabalho; a nacionalização da indústria, do cobre; a estatização do estratégico sistema de comunicações do Chile, em mãos da ITT, um monopólio privado pertencente a um grupo econômico dos USA.
Isso foi o suficiente para justificar o seu assassinato!
A ousadia de Allende foi o suficiente para os militares fascistas alegarem uma grave “ameaça comunista.” Ato continuo e com o assessoramento da CIA e da embaixada dos USA, os golpistas militares chilenos, bombardearem o Palácio de La Moneda e assassinaram o presidente Salvador Allende que lá estava.
Incursões golpistas como a do Chile, se não foram iguais, ocorreram também em vários países da América Latina, inclusive no Brasil em 1964; na Guatemala em 1954; na Argentina em 1962, 1966,1976; Uruguai em 1973; no Peru a partir de 1966 até recentemente, além de: Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela etc.
Recentemente, no dia 08/01/2023 passado, uma nova tentativa de golpe de estado irrompeu no Brasil, e graças a ação do judiciário e à reação popular foi abortada. Não sabemos até quando.
A bem da verdade a estratégia fascista mudou de feição. Nos tempos atuais não fazem mais uso direto de tanques de guerra e do apoio direto do braço armado do capital, que ao longo do tempo têm sido as forças armadas.
Os grupos econômicos e financeiros apoiadores do fascismo, passaram a: manipular e a dar suporte a uma horda de mentecaptos acometidos de distúrbios psiquiátricos e dissonância cognitiva; a uma parte das forças armadas as quais, se não chegam a colocar a mão na massa, assistiram inertes os ataques à democracia que têm por obrigação de defender como órgão de estado; a ação de militantes desavisados civis e militares, que são adestrados para atacar a democracia, o estado democrático de direito e “combater o comunismo,” seus moinhos de vento.
O Lawfare, ou seja, o uso da justiça é outra arma moderna que o fascismo tem usado para atingir e macular a reputação de lideranças populares e progressistas, com o fito de exclui-las da vida pública.
A vítima mais notável do Lawfare no Brasil foi o próprio presidente Lula, preso por 580 dias sem que na peça acusatória constasse uma única prova documental de quaisquer dos crimes que lhe eram imputados. “Não tinham provas, mas tinham evidências” segundo a declaração cínica de Deltan Dalagnnol, então Procurador Federal de Justiça e ajudante de ordens do então Juiz Sérgio Moro.
Ignominia idêntica atingiu e ainda hoje persegue sem tréguas o ex-governador Ricardo Coutinho. Outro que foi preso sem ser citado e até hoje sequer foi ouvido sobre as acusações que lhes são imputadas. A imprensa oficial e as milícias digitais têm repercutido com frequência, e até com antecipação, acusações levianas muitas delas, velhas notícias requentadas.
Consideramos de fundamental importância a iniciativa do presidente Lula no sentido de restabelecer e revigorar o Mercosul, do qual o Brasil se afastou pela inação característica do espirito de destruição do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, outros parceiros devem ser procurados, visando alargar e diversificar as nossas fronteiras comerciais conferindo-nos uma maior competitividade.
Todavia consideramos de suma importância o alargamento do nosso relacionamento político internacional com os países emergentes que nos são afins. Precisamos harmonizar a unidade com nossos parceiros, para que juntos possamos enfrentar com mais força e intensidade as astucias fascistas. O golpismo fascista trama contra a democracia e a ele deveremos estar atentos sem perguntar “por quem os sinos dobram, porque eles dobram por todos nós.”
Os episódios dos dias que antecederam a posse do presidente Lula, somados à tentativa abortada de golpe de estado do dia 08 de janeiro de 2023, acenderam o farol da cautela e não podem ficar impunes e sem hipótese de anistia.
Eles serviram para demonstrar que os amantes da liberdade e do estado democrático de direito precisam estar sempre em estado de alerta contra o processo solerte de conspiração e atentado contra a liberdade e a democracia.
Encerramos com uma frase atribuída a Thomas Jefferson, o 3° presidente dos Estados Unidos em defesa do poder dominante daquele país do norte. A frase de Jefferson representa o ponto de vista do poder dominante e era em defesa do capitalismo imperial dos USA.
Do nosso ponto de vista no mundo do trabalho, o sentido é diametralmente oposto pela diferença do nosso ideário. Enquanto eles defendem a classe dominante, nós defendemos os fracos, os explorados e os oprimidos que são as vítimas do capitalismo fascista. Esses sim, podem gritar alto e bom som:
“O preço da liberdade é a eterna vigilância.!”
Consulta:
Fascismo: como surgiu, contexto histórico, características e mais! (stoodi.com.br);
Fascismo na Itália: o que foi, como acabou, resumo – Brasil Escola (uol.com.br);
Notas sobre o fascismo na América Latina – A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br);
http://www.ihu.unisinus.br;
Notas sobre o fascismo na América Latina – A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br);
Hitler era católico? Era cristão? O Fiel Católico (ofielcatolico.com.br);
Fotografias:
O fascismo é o inconsciente da burguesia sem amarras ou rédeas – Movimento Marxista 5 de Maio (mmarxista5.org);
Por Quem os Sinos Dobram – Filme 1943 – AdoroCinema;
Professores Oliveira Salazar e Marcello Caetano, Lisboa, 1955 (c.), Portugal – Arquipélagos (arquipelagos.pt);
O que é a Escola de Chicago de pensamento econômico? – André Bona (andrebona.com.br);
Florestan Fernandes: cem anos – Marxismo 21;
11 de fevereiro de 1929. Os 93 anos do Tratado de Latrão – Vatican News;
Hitler era católico? Era cristão? O Fiel Católico (ofielcatolico.com.br);
O Golpe de Estado no Chile e o seu conteúdo de classe anti-operário (esquerdadiario.com.br);
Queda da Bastilha – História, fim do absolutismo francês e consequências (conhecimentocientifico.com);
PF faz operação contra envolvidos em atos golpistas – DW – 20/01/2023;
https://www.google.com/search?q=Lula+sendo+levado+para+a+pris%C3%A3o+em+curitiba;
Lula quer tratar com Biden fim de embargo a Cuba e apoio a Venezuela (poder360.com.br);
https://www.google.com/search?q=Encontro+de+Lula+com+o+presidente+Biden+na+casa+branca;