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A Ressureição do Umbuzeiro

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Estamos em plena safra do umbu ou do imbu, como queiram.  Em dias passados, fomos abordados por alguns  amigos que nos relembraram esta matéria da nossa lavra, publicada em 06 de fevereiro de 2021 e sugeriram  uma republicação.

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A editoria, através de Maria Gorette, resolveu atender, e para tanto se propôs a retocar  a maquiagem do artigo, como se se estivesse arrumando Maria Rita para ir a  uma festa,  e se esmerando nos detalhes.

Quanto a nós, sertanejo praticante e juramentado, vimos a oportunidade de mais uma vez chamar a atenção das pessoas para a sustentabilidade do semiárido.

Então, no nosso devaneio,  começamos a bordar na nossa  mente o agreste da Borborema repovoado de plantas resistentes e devidamente  adaptadas ao clima semiárido. Uma delas, é sem duvidas,   o  Umbuzeiro Velho.

Nos emocionamos ao recordar que debaixo da  copa de um umbuzeiro frondoso, fizemos o juramento de lutar pela  manutenção da sua sacralidade, tão bem  decantada por Euclides da Cunha.

Vamos relembrar?

A Embrapa Semiárido, conjuntamente com a extinta Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, (EBDA) trouxe  à público  o resultado de uma pesquisa iniciada nos anos 1990, a qual  resultou na descoberta de quatro cultivares de uma variedade de umbu gigante, com produtividade  até 300% maior do que o fruto comum do umbuzeiro nativo, secularmente adaptado às condições edafoclimáticas da região agreste do semiárido, ou seja da caatinga.

Pelas informações do agrônomo aposentado e nosso leitor assíduo  e amigo José Dantas, um sertanejo de Santa Luzia amante da terra e estudioso da flora da caatinga, a pesquisa se desenvolveu a partir da enxertia sucessiva que privilegiou os cultivares nativos. Tomavam-se os cultivares  de maior dimensão e, simultaneamente com o processo de  multiplicação  através de estaquia, os pesquisadores foram se aproximando do objetivo, até chegar ao exitoso resultado final.

Umbuzeiro Nativo

Os novos cultivares foram batizados como BRS 48, BRS 52, BRS 55 e  BRS 68 e segundo os autores da pesquisa, ” suas características atendem às demandas importantes da cadeia produtiva, principalmente para o processamento nas agroindústrias  de: doces, geleias, sucos, picolés, sorvetes  e bebidas artesanais”

A pesquisa é auspiciosa sob todos os aspectos, além  de economicamente promissora, haja vista ser  o  extrativismo do umbu  uma das interfaces no conjunto de mecanismos de sobrevivência econômica  do sertanejo, na sua luta de convivência com o fenômeno natural das secas.

Fotos: João Martins

O Umbuzeiro nativo foi cantado em prosa por Euclides da Cunha, naquela que consideramos uma das obras primas da literatura portuguesa de título Os Sertões, onde ele diz:

“O UMBUZEIRO É A ÁRVORE SAGRADA DO SERTÃO.  SÓCIA FIEL DAS RÁPIDAS HORAS FELIZES E LONGOS DIAS AMARGOS DOS VAQUEIROS. REPRESENTA O MAIS FRISANTE EXEMPLO DE ADAPTAÇÃO DA FLORA SERTANEJA. FOI, TALVEZ, DE TALHE MAIS VIGOROSO  E ALTO – E VEIO DESCAINDO, POUCO A POUCO, NUMA INTERCADÊNCIA DE ESTIOS FLAMÍVOMOS E INVERNOS TORRENCIAIS, MODIFICANDO-SE À FEIÇÃO DO MEIO, DESINVOLUINDO, ATÉ SE PREPARAR PARA A RESISTÊNCIA E REAGINDO, POR FIM, DESAFIANDO AS SECAS DURADOURAS, SUSTENTANDO-SE NAS QUADRAS MISERÁVEIS MERCÊ DA ENERGIA VITAL QUE ECONOMIZA NAS ESTAÇÕES BENÉFICAS, DAS RESERVAS GUARDADAS EM GRANDES CÓPIAS NAS RAÍZES.” E PROSSEGUE:  “E REPARTE-AS COM O HOMEM. SE NÃO EXISTISSE O UMBUZEIRO AQUELE TRATO DE SERTÃO, TÃO ESTÉRIL QUE NELE ESCASSEIAM OS CARNAUBAIS TÃO PROVIDENCIALMENTE DISPERSOS NOS QUE O CONVIZINHAM ATÉ O CEARÁ, ESTARIA DESPOVOADO.”

Numa pesquisa como essa, a grande pergunta que se faz é sobre a relação que existe entre o cultivar nativo e o novo.

Do umbuzeiro nativo conhecemos a sua adaptação às condições edafoclimáticas e a sua reconhecida e decantada resistência  às condições do semiárido. Todavia, um dos fatores limitantes da sua propagação, tem sido a longa dormência da semente, que vai de 30 a 210 dias guardadas em recipientes de papel úmido.

Esse problema, ainda presente, tem tido superado com um atalho através do uso do processo de enxertia e  estaquia, privilegiando sempre os melhores e maiores frutos, práticas que segundo José Dantas prevalecem nos novos cultivares resultantes da pesquisa.

Outro fato relevante, e que também tem sido objeto da pesquisa de Dantas,  é o uso de água salobra que predomina no subsolo do Seridó, como fonte de  irrigação do umbu gigante.

Necessário se faz enaltecer o papel da Embrapa como centro de excelência e  de pesquisas diversas e dos pacientes pesquisadores que compõem o seu corpo técnico e  fazem do seu oficio um sacerdócio. Eles estão sempre em  busca de aperfeiçoamento das diversas formas de convivência com as secas periódicas, um fenômeno natural com o qual estamos aprendendo, não a combater, mas  a conviver com elas.

Esperemos que a iniciativa seja bem sucedida como parece ter alcance  a produtividade desejada e, simultaneamente iniciemos uma campanha para a salvação não somente do Umbuzeiro do Amor, um  cultivar nativo e reserva botânica. Cuidemos  da sua preservação e da sua fitossanidade, inclusive protegendo-os  da   maior das pragas que são os seres vivos inconscientes, dentre eles o bicho homem.

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