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Matar a vaca para acabar com o carrapato

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A frase metafórica usada no título deste artigo, é de autoria do sociólogo, jornalista e estudioso das ciências econômicas, Joelmir Beting, de saudosa memória. Joelmir era um competente âncora dos telejornais da Globo, Gazeta e Record nas décadas de 1970 e 1990 do século passado.

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No seu modo simples, humorado e inteligível de falar, Joelmir conseguiu traduzir o “dialeto” economês para um português acessível a todos nós, mortais comuns.

Na versatilidade e presença de espirito que era sua marca registrada, poderia ser incluído nos dias atuais, no rol dos multimidias mais apetrechados, no desempenho do seu mister humorado, no rádio, nos jornais e na TV.

O “dialeto” economês a que nos referimos, é uma linguagem cifrada e ininteligível, criado pela pernosticidade de economistas medíocres e pedantes.

Usam-no como a estratégia de tornar inalcançável ao senso comum, os rumos e as desvantagens do modelo econômico liberal burguês que defendem. Igualmente ao mágico que usa a capa, eles usam o economês para esconder o truque.

Aos que não conviveram com os usos e costumes da vida no campo, tentaremos recorrer aos costumes advindos do mundo rural para traduzir o sentido da metáfora do título deste artigo. Para tanto usaremos o nosso raciocínio com um exemplo:

Imaginemos um criador de gado leiteiro que possui 100 vacas em lactação, cada uma delas produzindo em média 30 litros de leite por dia.

Um certo dia o vaqueiro, ou tratador como queiram, comunica aflito ao fazendeiro dono das vacas, a ocorrência de uma infestação inesperada de carrapatos que vêm provocando significativa queda de rendimento na produção leiteira da vacada.

O fazendeiro ao receber a informação do tratador que vive o dia a dia do rebanho, ao invés de se medir com o problema e procurar a forma mais racional de controlar a praga, resolve matar todas as vacas, como forma de eliminar a infestação de carrapatos.

O criador tinha na pecuária leiteira uma atividade considerada carro chefe da sua no equilíbrio econômico do seu negócio e, num momento de irracionalidade, preferiu sacrificar de forma ilógica todo rebanho, ao invés de iniciar o controle da praga. Preferiu ele matar o plantel, para acabar o carrapato!

Mutatis mutandis, é o que vem ocorrendo de há muito tempo com autarquias e estatais brasileiras, como é o caso do Instituto do Açúcar e do Álcool-IAA, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste- SUDENE, dois importantes órgãos de fomento, onde um deles foi extinto e o outro está moribundo.


Além dos dois órgãos retro citados, outros órgãos de grande importância para fomentar o nosso desenvolvimento foram alienados ou esvaziados ao longo do tempo numa forma exótica de combater a corrupção. Esse paradigma foi ressuscitado por pura conveniência para abrir caminho ao ultraneoliberalismo iniciado com a privataria tucana que, posteriormente se tornou uma ideia fixa para Paulo Guedes & Cia, (Banco BTG Pactual) durante o bolsonarismo recém sepultado.
A operação Lava Jato surgiu como um projeto político disfarçado de ação moralizadora, inicialmente muito bem aceito pela opinião pública. Afinal de contas, quem não é contra a corrupção?

Posteriormente a operação lava jato desnuda da moralidade, revelou-se uma grande farsa usada com o propósito de desviar as atenções da opinião pública para o seu caráter golpista, escondendo a maquiavélica intenção de retomada do controle político e econômico do estado brasileiro, para colocá-lo a serviço das elites.

Para atingir os seus objetivos, puseram em prática um novo modelo de golpe de estado, sem canhões e sem tanques de guerra, denominado Lawfare. (o direito usado como arma)

Sem nenhum escrúpulo, cuidaram de afastar os empecilhos, riscando da vida pública quantos se interpusessem na trajetória da referida operação, fazendo uso de uma cruel máquina de moer reputação, e simultaneamente, desconstruir os indiciados, moral e politicamente.

A pantomima da operação lava jato foi encenada por um juiz federal e um procurador federal da república. Dois representantes da lei, conscientes do seu papel sujo na fita, porém movidos por umas ambições pessoais incontida.

Usaram ações espetaculosas, não somente por ocasião das prisões açodadas dos indiciados, como também na exploração exaustiva das inúmeras delações premiadas usadas como prova.

Exerceram o seu mister sem esquecer de cuidar de auferir dividendos pessoais em termos de popularidade, o que de fato aconteceu, premiando o juiz Sergio Moro com uma cadeira no senado e o procurador federal Deltan Dallagnol com uma cadeira na câmara.

No golpe de estado que escalaram, não fizeram uso de nenhum armamento pesado como canhões, tanques de guerra e metralhadoras como muitos chegaram a imaginar que aconteceria. Se utilizaram apenas da ciência do direito, desvirtuada por eles, que passou a ser usada como arma, naquilo que foi denominado de Lawfare.

O processo de desmonte econômico da então sexta economia do mundo, teve o início na mudança da matriz ideológica e, o ápice da retomada do controle político do país foi negociado com o poder econômico, com a adesão de mala e cuia ao ultraneoliberalismo já em fase de desuso.

Os governos populares e progressistas eleitos pelo PT, mesmo sem uma convicção socialista, foram os que mais realizaram em prol da inclusão social. Por “esse absurdo,” viraram alvo do desprezo das elites e do ódio da pequena burguesia, a qual terceirizou o jogo sujo com uma parte da classe dominada, os chamados pobres de direita.

Diante da possibilidade de represália por parte da grande massa faminta, resolveram consolidar a retomada do poder. Uma vez alcançado, se apressaram em acelerar o desmonte do estado nacional, assegurando em escopo legal, a garantia jurídica dos marcos regulatórios.

Acenaram para o capital privado com a efetivação dos postulados do modelo econômico liberal burguês, afastando da vida pública quem pensasse em contrário e lhes pudesse ser empecilho.

Essa estratégia política foi posta em prática de maneira solerte e de forma gradual. Tinha por objetivo final a retomada do comando do governo.

Mas para alcançar esse objetivo era necessário demonizar Lula e o PT e implantar de uma vez por todas, uma política ultraneoliberal irreversível.

Tudo teve início como já frisamos, pelas manifestações de junho de 2013, foi se alastrando como uma epidemia e se aprofundando num crescendo, até o afastamento da presidenta Dilma de forma “temporária” da presidenta Dilma.

Para cumprir o rito processual ela foi afastada por 180 dias, a contar do dia 12 de maio de 2016, seguindo o curso legal do impeachment que já estava em andamento, até o afastamento definitivo.

Acusaram-na de colocar em prática, as chamadas pedaladas fiscais em uso desde os tempos de antanho, por todos os seus antecessores. As acusações segundo eles, “seriam apuradas” pela operação lava jato, o mecanismo de Lawfare criado para esse fim especifico, ou seja, a retomada do controle do governo. Findo o prazo fatal, o congresso aprovou o processo de impeachment, selando definitivamente o golpe parlamentar.

O processo foi montado com base em delações premiadas e em acusações pueris usadas como pretexto para afastar uma presidenta honrada, legitimamente eleita através do voto popular. No seu lugar foi empossado o vice presidente Michel Themer que cumpriria um mandato interino, iniciado em 12 de maio de 2016, que antecedeu a Jair Bolsonaro, o filhote eleitoral do golpe parlamentar que fora engendrado para beneficiá-lo.

Atentem para a cronologia golpista a partir de agora e acompanhem o nosso raciocínio.

Somente fomos perceber a armação do que realmente havia acontecido, depois de concluído o processo de impeachment. Foi quando pudemos entender que o movimento golpista que houvera derrubado a presidenta Dilma Roussef, teve seu primeiro ato, nas chamadas jornadas do mês de junho. Um estranho movimento paredista sem causa, sem vanguarda, sem mobilização oficial e sem razão de ser, que foi deflagrado em junho de 2013.

A causa maior dos protestos contra o governo Dilma eram os preços das passagens de ônibus. Uma reivindicação encaminhada a um endereço errado, capitaneada por quem sequer usava ônibus no dia a dia.

Ora, passagens de ônibus interurbano e/ou urbano é uma atribuição da esfera de competência dos governos estaduais e municipais respectivamente, e não do governo federal. Talvez tenha sido esse o motivo do pouco caso conferido pelo governo da presidenta Dilma aos movimentos paredistas atípicos de 2013.

O segundo ato em direção ao golpe parlamentar, afora a conspiração de bastidores que corria simultaneamente, foi o discurso raivoso e ameaçador do então senador Aécio Neves proferido na tribuna do congresso em 05 de novembro de 2014.

Mal terminadas as apurações e proclamados os resultados, o candidato derrotado além de não reconhecer a vitória da adversária, vomitou um rosário de queixas na tribuna do congresso nacional, proferindo uma série de inverdades sobre o desenrolar da campanha. Jurou ainda, não dar trégua ao governo eleito, até paralisar por completo o seu futuro governo.

O terceiro ato foi a eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da câmara federal, em 1° de fevereiro de 2015, aglutinando em torno do seu nome, um grande conglomerado conservador, que abarcou todo baixo clero do parlamento ao qual pertencia anonimamente.

Eleição de Eduardo Cunha como presidente da câmara federal.

A imprensa oficial e as milicias digitais, permaneceram silentes a tudo isso, por pura conveniência dos donos dos conglomerados jornalísticos, da imprensa falada escrita e televisada e em obediência às ordens dos grupos econômicos e financeiros o poder de fato.

Desde o primeiro dia de governo, a presidenta Dilma enfrentou um cerrado fogo cruzado conforme ameaçara Aécio Neves onde as acusações mais graves que lhe imputavam era a prática de pedaladas fiscais, além de irregularidades burocráticas na edição de decretos de suplementações orçamentárias.

O quarto ato aconteceu após o golpe parlamentar, concluído em 31 de agosto de 2016 com a posse de Michel Temer que era o vice presidente da república. Ressalte-se que no desespero pré impeachment a presidenta Dilma nomeou como coordenador político do seu governo, pasmem, justamente o Michel Temer que foi maestro do golpe.

Outro político muito próximo da presidenta Dilma, o deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, (Veloso Borges Neto.) que era o lider do governo.

Ele foi talvez o último a estar com a presidenta Dilma em palácio, onde tocou piano e cantou, “procurando confortá-la.

De lá saiu direto para a o congresso nacional que estava reunido apreciando o processo de impeachment. Tinha por missão confiada pela presidenta, articular apoio no congresso contra a cassação do seu mandato que já estava em processo de votação. Resultado: uniu-se aos golpistas e votou contra ela.

Os golpistas envolvidos com a construção do projeto de tomada de governo, entre os quais o próprio Michel Temer, entenderam de obstaculizar o mal maior, que para eles era a candidatura vitoriosa de Lula nas eleições de 2018.

Esse foi serviço sujo confiado ao juiz Sérgio Moro e ao procurador federal Deltan Dallagnol, os dois maquinistas da Lava Jato, uma locomotiva golpista que, ao que se diz, nasceu nos intramuros da CIA.

O presidente Michel Temer começou a receber dos apressados grupos financeiros e econômicos que financiaram o golpe, a cobrança da fatura. Diante disso, no seu curto período de governo, teve de tomar decisões importantes no sentido de desregulamentar a legislação para fortalecer os chamados marcos regulatórios em benefício do ente privado, de olho em algumas estatais importantíssimas como é o caso da Petrobras.

Era necessário a montagem de todo um arcabouço jurídico que garantisse um programa de privatização célere, financiado com dinheiro público e tornando irreversível.

Para viabilizar o projeto financeiramente e em benefício do ente privado, o BNDES foi posto à disposição como o grande financiador do programa de privatização de empresas públicas, adquiridas pela iniciativa privada com financiamento público, as quais não gastariam quase nada.

Daí surgiu a ideia de uma Lei das Estatais imutável, para garantir “segurança jurídica” ao investidor privado, que igualmente a um tirador de cocos, só tem entrado com a participação da peia para chegar aos frutos no alto do coqueiro.

Esse berreiro da imprensa oficial e das milicias digitais em nome do mercado, é exatamente para que o modelo econômico nefasto não mude em nada e continue a servir apenas ao grande capital econômico e financeiro.

Tasso Jereissati, um dos capitães da indústria nacional, classificou a alteração da lei das estatais como “uma loucura.” Só não disse o porquê, mas a gente sabe.

Todo esse histerismo econômico aumentou depois de verem modificada a lei das estatais de 30 de junho de 2016, publicada no Diário Oficial da União-DOU em 1° de julho de 2016 para reordenar as ações do BNDES, permitindo o acesso aos pequenos empreendedores.

O resto? No dizer do saudoso Humberto de Campos comentarista esportivo de Campina Grande:
“O resto é conversa mole para bovino dormitar!”

 

 

Consulta:
Manifestações de junho de 2013: relembre os fatos importantes | Guia do Estudante (abril.com.br);
Discurso no Senado | Gongresso Nacional | Pós Eleições: Em discurso duro e pouco conciliador, Aécio dá o tom da oposição | Brasil | EL PAÍS Brasil (elpais.com);

Fotografias:
ttps://www.girodoboi.com.br/destaques/qual-e-o-momento-certo-de-tratar-a-infestacao-de-carrapatos-na-minha-boiada;
(2694) Pinterest;
Intercept : Moro orientou Dallagnol, que tramou para prejudicar PT nas Eleições | Partido dos Trabalhadores;
Manifestações de junho de 2013: relembre os fatos importantes | Guia do Estudante (abril.com.br);
pense diferente: Michel Temer toma posse como presidente hoje às 16h no Senado (ralphbraz.blogspot.com);
Aécio Neves pediu para obstruir todos os trabalhos legislativos até o país quebrar? (e-farsas.com);
2015. Cunha era eleito presidente da Câmara. De lá para cá muita coisa mudou – Orlando Brito – Os Divergentes;
Novo líder do governo na Câmara é alvo de inquérito da Lava Jato no Supremo – Estadão (estadao.com.br);

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