fbpx

Site do João Vicente Machado

InícioJoão Vicente MachadoA isenção da imprensa diante dos fatos

A isenção da imprensa diante dos fatos

- PUBLICIDADE -

Althusser, na sua Iniciação à Filosofia Para os Não Filósofos, fez uma tentativa bem-sucedida de explicar a forma de reprodução nas relações de produção. Para uma maior clareza de raciocínio sobre o tema, ele utiliza a metáfora marxista do edifício capitalista, que é erguido como toda construção vertical, com duas partes construtivas:

- Publicidade -

. A Infraestrutura: que pela ótica da economia representa a base da sociedade e os métodos de produção capitalista.

. A Superestrutura: composta por valores como: crenças, tradições, religião, estado, políticas e ideologia.

Quando superpusermos as duas partes, teremos um edifício político que representa o conjunto da economia.

Na figura acima é perceptível a posição de destaque conferida à ideologia, nicho que abriga a educação, a religião e os meios de comunicação oficiais, todos de fundamental importância para aplainar o terreno da aceitação pacífica do processo de exploração de classe, sem que haja nenhuma reação em contrário.

Alguns usam a velha e desgastada frase, que credita tudo à divindade como se houvéssemos chegado ao fim da história:

“É assim porque Deus quis!”

Quando Maquiavel separou a ética da política, provocou uma verdadeira revolução nas teorias políticas desde a antiguidade.

Marx, por sua vez, ao desmascarar a política liberal, provocou uma revolução tanto na teoria, como na prática. Os países que vieram a promover revoluções socialistas a posteriori como URSS, China, Cuba, Coreia e Vietnam, tiveram como base a teoria marxista.

Aqui no Brasil, ainda no primeiro governo da presidenta Dilma, teve início um processo de desconstrução do grupo político ao qual ela pertencia.

Os grupos econômicos e financeiros, aliados das grandes oligarquias, sinalizaram para a figura abstrata dos mercados e todos eles, juntos e guiados pelo pensamento imperialista, se empenharam num projeto de poder político hegemônico, de médio e longo alcance.

Mais ou menos no mês de abril de 2013, surgiu nas ruas do país um movimento dito “espontâneo”, que de forma inesperada e sem uma explicação convincente, apresentou um pacote de reivindicações inesgotáveis, tais como: tarifa zero nos transportes públicos, o fim da violência policial, maior investimento em serviços público, preço dos combustíveis, além de reinvindicações pontuais trabalhistas. classistas localizadas.

Por Carolina Pompeo | Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Como um velho militante político, iniciado politicamente nas manifestações de rua, sabíamos que todo movimento reivindicatório de massa que se preze, não pode prescindir de uma vanguarda consequente e organizada para apontar os rumos da luta e controlar os excessos.

Lênin nos ensinava que:

A “teoria” da espontaneidade é a teoria do oportunismo, uma teoria que consiste em acreditar cegamente no movimento operário espontâneo, uma teoria que nega, de fato, o papel de vanguarda da classe operária e do partido da classe OPERÁRIA.”

Poderíamos citar um leque de exemplos desse naipe, contudo vamos nos ater ao chamado movimento de abril de 2013.

Certo dia, de volta do trabalho, encontramos no elevador do prédio onde morávamos uma jovem senhora moradora, acompanhada das filhas menores, todas elas paramentadas de verde e amarelo.

Como eram pessoas com quem tínhamos uma boa e amistosa relação, perguntamos qual era o significado daquela indumentária colorida. A mãe, falando pelo grupo respondeu: vamos para o protesto, o senhor não vai?

Curioso, perguntamos a que protesto se referia ela? ao que respondeu serenamente e rindo: o protesto contra o aumento das passagens de ônibus!

Aquela cena nos despertou a curiosidade pelo fato de não termos ouvido através da imprensa, nenhuma nota ou referência sobre o tal protesto. Como temos o hábito de manter sempre o rádio do carro ligado nos noticiosos, achamos que aquilo poderia ser algo isolado e sem relevância.

Ora, a família daquela senhora era de classe média – média, possuidora de todos os apetrechos de consumo inerentes à pequena burguesia, entre eles dois carros de passeio,  mesmo assim estavam indo participar de um protesto contra o aumento de passagens de ônibus? Achei estranho!

Outros protestos se sucederam nos mesmos moldes e a imprensa oficial só se manifestava a posteriori, para repercutir intensamente a pauta das reivindicações, com ênfase nos aumentos das passagens de ônibus. Reivindicavam a gratuidade de transportes sem dizer a quem estava sendo solicitada a gratuidade.

Somente quando o golpe parlamentar começou a ser operacionalizado é que o governo da presidenta Dilma acordou. Naquelas alturas o ovo da serpente havia eclodido e a serpente golpista já estava à solta.

         

A imprensa, braço ideológico da superestrutura do estado, no exercício do seu mister ideológico repercutia freneticamente todos os petardos atirados contra Dilma. O trunfo maior eram as famigeradas pedaladas fiscais, hoje atitudes pueris face aos acontecimentos que viriam à posteriori.

Daí por diante, por todos os dias e durantes os dias todos, desabou sobre Dilma, Lula e o PT, uma tempestade de acusações falsas para demonizar o grupo que tinha em Lula a sua estrela guia.

Nesse diapasão, Lula e seu grupo político permaneceu, sob a artilharia pesada da imprensa oficial e das milicias digitais, até o último dia 30 de outubro de 2022.

Hoje, com Lula eleito heroicamente, quase todos os meios de comunicação não economizam adjetivos qualificativos para superlativisar o seu feito. Pelo menos por enquanto.

Foto: Mídia Ninja

Usaremos em seguida uma comparação com a imprensa oficial da segunda metade do século XIX, mais precisamente em 1815, onde a figura central é Napoleão Bonaparte que estava preso e fugiu da Ilha de Elba.

Diz o texto:

“Para quem acredita na objetividade da mídia, leia as manchetes do Le Moniteur Universal sobre o retorno de Napoleão na Ilha de Elba em março de 1815.

.   09 de março – O Monstro escapou do seu banimento.

. 10 de março – O Ogro Corso desembarcou no Cabo Juan.

.   11 de março – O tigre mostrou-se em Gap. As tropas avançam por todos os lados para deter o seu progresso. Ele findará a sua miserável aventura tornando-se um andarilho entre as montanhas.

.  12 de março – O Monstro realmente avançou até Grenoble.  

.   13 de março – O tirano está agora em Lyon. Medo e terror tomam a todos pela sua aparição.

.    18 de março – O Usurpador aventurou a aproximar – se da capital dentro de 60 horas de marcha.

. 19 de março – Bonaparte está avançando em marcha forçada, mas é impossível que possa chegar a Paris.

.   20 de março – Napoleão vai estar dentro dos limites de Paris amanhã.

.  21 de março – O Imperador Napoleão está em Fontainebleau.

. 22 de março – Ontem à noite, Sua Majestade o Imperador fez sua entrada pública e chegou às Tulherias. Nada pode deter o General.

           

     

Se fossemos organizar e juntar todas as manchetes referentes a Lula, desde a saída dele da prisão que lhe foi imposta pelo ex juiz Sérgio Moro até a entrevista da noite de domingo, as palavras poderiam não ser as mesmas, mas o conteúdo seria literalmente igual.

Erram os que dizem que a vitória de Lula foi apertada. Foi uma vitória gigantesca e uma vergonhosa derrota deles.

Foi uma vitória grandiosa contra o aparelho de estado; contra o orçamento secreto; contra o despejo de dinheiro até a última hora; contra o crime eleitoral do Superintendente  da Policia Rodoviária Federal – PRF; contra a enganação cruel aos idosos, a quem foi dito que precisavam fazer prova de vida para votar; contra o empréstimo consignado de quem ganha até R$ 600,00 por mês; contra a mentira do banheiro unissex e do fechamento das igrejas; contra a ameaça dos patrões ao voto do trabalhador; contra as armas apontadas na cabeça de quem pensa diferente.

Não foi pouca coisa. Não digam que foi uma vitória apertada, foi sim uma vitória histórica e grandiosíssima!

Os arrufos, as bravatas de beira de estrada, a afronta à democracia, as ameaças veladas, tudo isso é o velho e conhecido Jus Esperniands, ou seja, o direito de espernear.

Chorem, podem chorar, o pranto é livre!

 

 

  Consulta: iniciação à filosofia para os não filósofos de Louis Althusser;

SOCIALISMO CIENTÍFICO (grupoevolucao.com.br);

 

Fotografia:

SOCIALISMO CIENTÍFICO (grupoevolucao.com.br);

https://ensaiosenotas.com/2016/01/07/a-isencao-da-imprensa-napoleao-e-o-le-moniteur;

“Viveremos um novo tempo”, diz Lula em 1º discurso após vitória – Vermelho;

Relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ajude o site João Vicente Machado

spot_img

Últimas

Mais Lidas

Diversidade

O choro da viúva

O luto

Sinais

error: Conteúdo Protegido!