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Somos todos Severinos…

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O consagrado poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, escreveu um poema denuncia, sob título Morte e Vida Severina, entre os anos de 1954 e 1955, ou seja, há exatos 67/68 anos. Na época eram transcorridos apenas 6 anos do final da revolução chinesa que se instalou vitoriosa em 1948, num país periférico, eminentemente agrário.

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O Brasil vivia a era Vargas e igualmente a China e era também um país agrário que começava a engatinhar de forma incipiente em direção ao mundo industrializado.

Precisando de laminados de aço criou a CSN; Precisando de energia hidrelétrica construiu a usina de Paulo Afonso I; Precisando de energia fóssil criou a Petrobras; Precisando de mercado interno criou o salário-mínimo para transformar o operário em consumidor.

Paradoxalmente, Getúlio Vargas que estava tentando implantar um projeto de estado nacional que atendesse aos Severinos, Marias e Zacarias de que fala João Cabral de Melo Neto no seu poema e por esse pecado capital passou a enfrentar a resistência externa capitaneada pelos Estados Unidos que se insurgiam contra a audácia intolerável de um país agrário atrasado e dependente.

Internamente, expoentes da extrema direita como Carlos Lacerda, regente da banda de música da UDN e Assis Chateaubriand considerado o vice-rei do Brasil. Chateaubriand comandava um império de comunicação poderosíssimo, diante do qual o poder atual dos Marinhos era fichinha. Eles tramaram tanto contra Getúlio que o levaram ao suicídio.

O Brasil e China iniciaram quase ao mesmo tempo um projeto nacional de desenvolvimento. O Brasil na tentativa de promover uma Reforma do Estado, e a China com uma proposta revolucionária de desenvolvimento. Resultado:

O Brasil ainda hoje enfrenta a fome e a miséria da mesma forma que ocorria na década de 1950. Contando atualmente com uma população de 210 milhões de habitantes, assiste 33 milhões de Severinos passarem fome, ao lado de 103 milhões de Severinos, Marias e Zacarias que não têm a certeza de ter comida amanhã.

Enquanto isso a China com 1,5 bilhões de chineses, erradicou a fome e para 2025 é apontada como a maior potência econômica do planeta, desbancando os Estados Unidos.

“Qualquer semelhança com fatos ou pessoas vivas, não terá sido uma mera coincidência.”

Ou ainda: qual dos dois países está errado?

Trecho do poema “Morte e Vida Severina”

– João Cabral de Melo Neto

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçados da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

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