As últimas eleições presidenciais realizadas nos Estados Unidos, aconteceram no ano de 2020 numa disputa ferrenha e num clima de discórdia acirrado, cenário nunca visto naquele país. As agressões diuturnas transformaram a disputa numa batalha campal que se estendeu para além do pleito, culminando com a invasão do prédio do capitólio, sede do congresso estadunidense, nas vésperas da posse do presidente eleito Joe Biden por hordas de desordeiros que terminaram presos.
Durante a campanha entrou em cena o uso intensivo da cibernética onde robôs programados disparavam até 400 mensagens falsas por minuto, inundando o cenário com as chamadas fake News. Todo esse aparato sob a supervisão do consultor especialista de nome Steve Bannon, que foi exportado para o Brasil onde veio assessorar a famiglia Bolsonaro
Na época escrevemos um artigo tratando da questão, com o pensamento e o olhar voltado para o nosso processo eleitoral que iria acontecer em 2022 e que finalmente terá início no próximo mês de agosto.
Tendo em vista a similaridade de métodos e procedimentos, recebemos de um internauta que nos acompanha desde a época em que éramos um blog com 500 visualizações diárias, a sugestão de trazermos de volta o tema, por oportuno. Como um sítio que vem tendo, modéstia à parte uma boa avaliação, com uma média diária de 12 mil visualizações, a matéria esclarecedora certamente será vista por um número bem maior de leitores e internautas.
Recebemos esse crescimento vertiginoso com muita humildade e um outro tanto de responsabilidade para com a qualidade do nosso trabalho. Honraria que dividimos com os nossos dedicados articulistas voluntários, todos eles no firme propósito de bem informar. Lembramos que no início da nossa caminhada, chegamos a afirmar que que reconhecíamos o nosso tamanho e poderíamos naquele momento não sermos os maiores, mas que iriamos lutar para sermos os melhores. É o que estamos fazendo, mesmo diante das pressões do establishment.
Trazemos hoje e por oportuno, um comparativo entre os dois cenários em si diferentes em alguns aspectos, mas com personagens muito semelhantes, pelo uso de métodos nada republicanos. De um Lado Donald Trump pelos Estados Unidos, que está às voltas com a justiça dos USA e por outro lado Jair Bolsonaro no Brasil, que até bem pouco tempo se autodefinia como o álter ego de Trump. Esperamos que a semelhança prevaleça e aconteça também no resultado das eleições, para a reafirmação e o fortalecimento do estado democrático de direito.
Observemos as ocorrências do processo nos USA em comparação com o nosso e com certeza iremos chegar à conclusão de que o modus operandis é igual e que qualquer semelhança com fatos ou pessoas, não terá sido por mera coincidência.
Confira!
Lição Autoritária dos Estados Unidos
11 de janeiro de 2021
Por: João Vicente Machado
O processo eleitoral dos Estados Unidos tem características próprias que não nos compete discutir nesse espaço, por ser assunto da economia interna daquele país. Pelo modelo eleitoral deles, a eleição para Presidente da Republica é indireta e cada estado tem legislação própria, ou seja, o processo não é centralizado como o nosso.
Os estados elegem no decorrer de todo ano os delegados representantes ao colégio eleitoral, em numero proporcional à população de cada unidade federativa e no dia 04 de novembro acontece uma eleição homologatória em que o resultado não define o pleito, que é decidido pelos convencionais. Isso pode parecer contraditório, mas pela legislação eleitoral do país é normal.
Na própria campanha em que concorreram Hillary Clinton e Donald Trump, por ocasião da eleição homologatória embora Hillary Clinton
tenha obtido maior numero de votos, acabou perdendo a eleição pelos votos do colégio eleitoral que elegeu Donald Trump. O pleito deu muito que falar, por conta do uso pioneiro da mídia digital que, lançava os chamados fake news usando robôs, num processo considerado fraudulento, orientado por Steve Bannon e depois receitado pelo mágico Olavo de Carvalho e os filhos de Jair Bolsonaro, um azarão como Trump, que se elegeu com a mesma prática fraudulenta.
Outro detalhe é que, com a eleição concluída, o resultado é confirmado e em seguida é obrigatoriamente enviado ao senado para homologação. Somente após todo esse rito é que o presidente eleito é empossado.
Na eleição de novembro passado, Donald Trump enfrentou Joe Biden, vice-presidente de Barack Obama,que a principio não era ameaça.
Todavia, as fragilidades administrativas de Trump, a arrogância desmedida, a fanfarronice, as bravatas, a ruptura com aliados e a provocação aos adversários causaram uma erosão eleitoral incontida, interna e externamente.
O uso ostensivo dos robôs havia sido desmascarado e a fanfarronice e bravatas eleitorais foram aumentando, à medida que a eleição se aproximava, ocasião em que Trump, paladino da moral e dos bons costumes foi mostrando as armas e atravessou todo processo eleitoral nesse diapasão agressivo.
Minoritário em colégios eleitorais onde surfava tranquilo, terminou perdendo o favoritismo no Texas e na Flórida, os dois maiores do pais e, no dia 04 de novembro de 2020, perdeu nas duas pontas: tanto a maioria na eleição homologatória quanto no colégio eleitoral, foi no dizer popular, barba e cabelo.
Mesmo derrotado duplamente, passou a desclassificar o processo eleitoral, a denunciar fraudes, a tentar aliciamentos e até hoje não reconhece a derrota, talvez agarrado na última esperança que, segundo o dito popular é a última que morre.
O mundo assistiu na semana passada, uma cena deplorável, passada nos Estados Unidos, um pais acostumado a invadir outros países em nome da democracia e do humanismo, pregando razões humanitárias.
A invasão da sede do senado estadunidense, não por um inimigo externo mas por milícias internas e grupos organizados, estimulados pelo próprio presidente da república daquele país, mostraram cenas brutais, não nas ruas que contornam o capitólio, mas dentro do próprio prédio do senado onde houve até morte.
Ainda ontem a presidente da câmara baixa, Nancy Pelose, recomendou ao chefe do estado maior das forças armadas que não obedeça a Trump se ele ordenar um ataque nuclear. É uma medida de cautela e ela deve ter percebido que Donald Trump está se comportando como um macaco em loja de louças.
É verdade que o senado providenciou a evacuação e retomou a sessão homologatória e o processo, pelo menos na esfera da justiça foi encerrado deixando uma enorme lição para o mundo e para o Brasil.
Hoje, Bolsonaro abriu os olhos na hibernação política em que vive, ou sobrevive, com uma frase ameaçadora que não tem nada de hilário. Diz ele: “As eleições dos Estados Unidos foram fraudadas.” E completa: “Se o Brasil tiver voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa.”
Sabemos que qualquer eleição tem vulnerabilidades, inclusive o voto com cédulas defendido por alguns que precisa ser muito bem fiscalizado. Malgrado, os mais entrados na idade como eu, já viram muitas modalidades de fraude e elas vêm desde o voto a bico de pena. Não podemos, mais uma vez à guisa de corrupção, matar a vaca para acabar o carrapato.
Aqui no Brasil, Jair Bolsonaro que se arvora de ser o sósia de Trump e de olho nas eleições de 2022, nas quais é candidatíssimo, já começa a arrotar ameaças e é isso que nos preocupa. A preocupação aumenta quando nós constatamos a inércia e a indiferença de parte da população que o apoia incondicionalmente como dogma de fé, como que acometida da Síndrome de Estocolmo, nos trazendo à mente a letra de uma música de Zé Geraldo de título: Milho aos Pombos, onde num trecho ele diz:
“…ENTRA ANO, SAI ANO, CADA VEZ FICA MAIS DIFÍCIL.
O PÃO, O ARROZ, O FEIJÃO, O ALUGUEL.
UMA NOVA CORRIDA DO OURO.
O HOMEM COBRANDO DA SOCIEDADE O SEU PAPEL.
QUANTO MAIS ALTO O CARGO MAIOR O ROMBO
ISSO TUDO ACONTECENDO E EU AQUI NA PRAÇA.
DANDO MILHO AOS POMBOS.
ZÉ GERALDO