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Perfurar é preciso, perder não é preciso

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Que nos perdoe o poeta Fernando Pessoa pelo comparativo em forma de uma paródia canhestra, para discorrer sobre poços tubulares, usados para obter água subterrânea.

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Nara Leão, Zé Keti e João do Vale fizeram um show no Teatro  Opinião e que tinha o mesmo nome, onde ela   cantava um samba feito por Zé Keti que dizia:
     “Podem me prender podem me bater
       Podem até deixar-me sem comer
       Que eu não mudo de opinião
       Daqui do morro eu não saio não.
        Se não tem água eu furo um poço,
        Se não tem carne eu compro um osso
        Boto na sopa e deixo andar”

         

Historicamente, os aglomerados humanos, sempre se instalaram à beira das fontes de água de água doce, fosse ela um lago ou um curso de água. Premidos pela necessidade de acesso a esse recurso natural insubstituível, se estabeleciam próximo dele, para facilitar o transporte para as casas.

Quando a ocupação nesses moldes não era possível, haviam outras alternativas de suprimento de água de forma mais modesta, e o poço seja ele: raso, profundo ou artesiano, faz parte  dessas alternativas.

Todavia, é preciso entender que a perfuração de um poço, apesar de ser um trabalho simples, deve obedecer a algumas cautelas prudenciais indispensáveis.

Primeiro, é preciso definir previamente e em função do uso, a expectativa de rendimento do poço, ou seja, a quantidade de água a ser obtida.

O segundo passo é encontrar um local onde a perfuração tenha a maior probabilidade de sucesso.

O terceiro passo é fazer um ensaio de vazão para avaliar a potencialidade do poço, de forma a  exigir dele, apenas  a quantidade de água que ele pode oferecer.

Por fim é primar pela proteção do poço, mantendo-o a um distanciamento adequado das fontes poluidoras, para evitar que ele se transforme em um veículo de  contaminação.

O nordeste semiárido é o lugar onde a carência de água é bem maior e mais necessária do que nas demais regiões do nosso país. Portanto, a localização de água subterrânea no nordeste  é mais difícil e esse aspecto deve ser sempre observado quando da perfuração de poços.

Como 84% do território da região semiárida é assentada nos escudos ou sedimentos  cristalinos,  nesse caso, o índice de insucesso na perfuração de poços é relativamente alto. Assim sendo, a perfuração de poços no semiárido  deve ser sempre cercada de grande cautela.

Nesse sentido é prudente  ter a orientação de um bom geólogo, que apesar de não adivinhar,  estudou a geomorfologia do solo, tendo portanto informações cientificas que lhe permite  guiar as ações, conduzindo-as aos melhores locais de aquíferos de  maior potencialidade e  de menor risco de insucesso no aspecto quantitativo.

Nos últimos dias circulou através da imprensa uma notícia que trata da assinatura de uma ordem de investimento, no valor de 108 milhões de reais, firmada entre o presidente da república Jair Bolsonaro e o deputado federal Wellington Roberto, destinada à perfuração de poços na Paraíba.

Qualquer iniciativa no sentido de mitigar os efeitos da estiagem e de contribuir para compor o elenco de obras de convivência com as estiagens é sempre bem-vinda.

Todavia, o que nos preocupa é a pulverização de ações, em desacordo com  um planejamento estratégico prévio, com foco  do binômio custo x beneficio, para nortear um plano de obras eficiente e eficaz.

Será que esse volume de recursos não seria melhor aplicado na construção do terceiro eixo das águas do Rio São Francisco onde não há nenhum risco de insucesso?

O terceiro eixo é uma obra de baixo custo relativo, que  terá inicio no Açude dos Porcos no Ceará e é  fundamental para a expansão da capilaridade das aguas do São Francisco. Tem projeto pronto e constará de uma estação de bombeamento para vencer o divisor de águas entre os dois estados. Tem  com uma extensão de 14 km e desaguará nas cabeceiras do Rio Piancó e a partir daí  chegará  por gravidade no grande pulmão hídrico  do complexo Coremas x Mae D’água.

Pelas informações de que dispomos, a composição do custo médio de perfuração, é da ordem de R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais) o metro perfurado até o limite de 100 m de profundidade, num total de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) por poço.

Assim sendo, o valor liberado para o dep. Wellington Roberto, teoricamente daria para perfurar 3.086 poços, no cristalino do semiárido, o que convenhamos, é uma meta ousadíssima e de grande risco.

Se levarmos em conta um índice de insucesso de 30%, teríamos 1.142 poços perdidos, ou seja, um desperdício de R$ 39,97 milhões de reais.

Houve uma época em que o então deputado  Marcondes Gadelha, ao assumir a Secretaria da Agricultura do Estado, estabeleceu como meta “transformar a Paraíba numa tábua de pirulitos”, em decorrência da quantidade enorme  de poços que pretendia perfurar.

Resultado: a meta não foi cumprida e Marcondes Gadelha, tal qual D. Pedro II que houvera prometido  vender até a  última joia da coroa para não ver o nordestino passar sede, viu certamente frustrado, os efeitos da seca continuarem a castigar a região  como ocorrera  no passado.

Mutatis mutandis, a ideia do deputado Wellington Roberto se assemelha à proposta quixotesca  do deputado Marcondes Gadelha. O pior de toda essa imprudência é  que  o povo, que era para ser o beneficiário da obra, irá pagar por tudo isso.

É por essa e tantas outras que o povo deve ter sempre em mente esses engodos, para acertar contas com representantes desse naipe quando estiver  frente a frente com a urna eletrônica, na solidão da cabine de votação.

 

 

 

Consulta:
Revista Nordeste – A nova leitura do Brasil;

Fotografia:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/tv/noticia/2022/01/o-canto-livre-de-nara-leao;
Deputado Chió garante perfuração de 12 poços artesianos no interior – Portal Correio;
Revista Nordeste – A nova leitura do Brasil;
-Imagem de satélite dos reservatórios Coremas -Mãe D´água. | Download Scientific Diagram (researchgate.net);
Perfuração de Poços Artesianos | Valesondas Poços Artesianos;

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