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Eu não sei se eu mudei, ou mudou o São João!

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À exceção de alguns casos recalcitrantes ditados pelo exagero, os festejos do chamado tríduo junino chegaram ao final, com as homenagens que foram prestadas a São Pedro, entre os dias 28 e 29 de junho passados.

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Este ano, e depois de três anos seguidos de recesso obrigatório, as festas ressurgiram com grande intensidade, trazendo com elas a preocupação com o desvirtuamento da nossa histórica festa junina.

O Brasil, em que pese as suas dimensões continentais, tem uma grande vantagem sobre muitos países da Europa e dos demais continentes. A nação brasileira fala uma única língua, ressalvada à linguagem original dos povos indígenas e tem um amalgama racial que resultou no nosso biótipo caboclo. Essas características próprias da  nossa gente, foram ressaltadas com muita propriedade  por Darcy Ribeiro, na sua obra prima O Povo Brasileiro.

As nossas manifestações culturais, têm características tipicamente sui generis e apresentam uma variedade significativa em cada uma das nossas regiões, além de um folclore muito rico e diverso.

Na região sul, elas estão na indumentária, onde pontifica o uso da bombacha, do lenço e do poncho, marca registrada do gaúcho do pampa; estão nas danças que na sua maioria são  de origem portuguesa e espanhola, tendo o fandango como um dos seus expoentes; estão na culinária com foco no churrasco de carne de boi ou carneiro, além da presença do chimarrão em tudo quanto é roda ou galpão gaúcho.

na região  norte a beleza se expressa na coreografia da dança do camaleão e do maçarico, ao som do violão, da rabeca e da sanfona.

A  culinária tem o  pato no tucupi, temperado com jambu, o açaí, o tacacá e a maniçoba que fazem parte da culinária paraense.

As duas maiores festas populares da região norte são o festival de Parintins com o boi-bumbá e o Círio de Nazaré, talvez a maior romaria do mundo. Ritmos como o carimbo, o congo a congada, a folia de reis e a festa do divino fazem parte da cultura e da cozinha do Pará.

A culinária variada tem a feijoada carioca, o barrado e a dobradinha paulista, a caldeirada  e o tutu à mineira, que  estão para a culinária da região sudeste, como na dança estão a catira, o cateretê, o samba e seus desfiles no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Mas o Nordeste, sem nenhuma dúvida é onde encontramos o maior e mais robusto caldeirão cultural do país, talvez pelo fato do país ter começado por aqui.

A cozinha é variada e abarca toda culinária afro-baiana, passando pelas iguarias feitas à base de peixes e crustáceos diversos na Bahia em Alagoas e em Sergipe; a buchada a grande quantidade de comidas a base do milho, como o mugunzá doce e salgado; o baião de dois com pequi e paçoca feita no pilão, a panelada e o sarrabulho, todos da cozinha do Ceará; a carne de criação e o capote do Piauí; o arroz de cuxá do Maranhão, além da buchada de buxo de bode e o sarapatel  da Paraíba e de Pernambuco.

Baião, mazurca, xote, xaxado, ciranda, pastoril, maracatu, bandas de pífanos, poesia de improviso, viola, violeiros, declamadores, aboiadores, repentistas e emboladores de coco, tudo isso é o Nordeste. É pouco ou quer mais!

Expoentes musicais  como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zé Dantas, Humberto Teixeira, Zé Marcolino, Alceu Valença, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Betânia, Antônio Maria, Capiba, os maestros Nelson e levinho Ferreira, Pinto do Monteiro,

Zé Ramalho, Santana o Cantador, Jorge de Altinho, Nonato Luiz, Sivuca, Dominguinhos, Petrúcio Amorim, Maciel Melo, Flávio José, Trio Nordestino Marinês, Bráulio Bessa, Jorge de Altinho, Waldonys, Flávio Leandro, Biliu de Campina, Maestro Spock, Antônio Nóbrega, Mestre Ambrósio, Lirinha, Chico Pedrosa, Bráulio Tavares, Cachimbinho e Geraldo Mousinho, Patativa do Assaré, Manoel Xudú, Lourival Batista e tantos outros não menos brilhantes. Esse é  um elenco de artistas  respeitáveis,  para ganhar qualquer campeonato de música popular brasileira  nordestina.

O poeta Ivanildo Vilanova compôs essa pérola sobre o orgulho da nordestinidade em que ele diz muito  numa simples estrofe em dez pés.
Ivanildo Vilanova disse:

“Pelo vaqueiro que vaga,
Por Pinto e sua viola
Por Zumbi o quilombola,
Conselheiro e sua saga.
Pelo Baião de Gonzaga,
A luta de Virgulino,
O barro de Vitalino,
Pelo menino de engenho.
Por tudo isso é que tenho,
Orgulho em ser nordestino”

Toda essa preleção foi por nós usada para chegarmos aos festejos juninos do ano em curso, que oficialmente já se encerraram, deixando um debate em aberto  sobre o modus operandis dos organizadores das festas juninas que dividiu as opiniões.

Em primeiro lugar quando se tornaram públicos alguns contratos mal explicados e não muito republicanos, firmados entre algumas prefeituras com cantores de músicas ditas sertanejas ou caipiras.

Quando  se aproximava a celebração do tríduo junino, a população despertou para a falta de identidade entre o repertório dos cantores, o sentido da festa e os altos valores dos contratos com as tais bandas de forró de plástico, assim  denominados pelo mestre Sivuca.

O primeiro e mais escandaloso exemplo foi o contrato celebrado pela prefeitura da cidadezinha mineira Conceição do Mato, de apenas 18 mil habitantes, com um cantor  de nome Gusttavo Lima pela bagatela de R$ 1.200.000.00 (um milhão e duzentos mil reais), ou seja, uma conta de R$ 66,66 para cada munícipe, estivesse ele hospitalizado, viajando ou não.

Como o repertorio da maioria dos  cantores é incompatível  com a celebração e a coreografia das festas juninas, notou-se a propagação de uma epidemia musical, ameaçando  ocupar majoritariamente a pauta da festa, o que de certa forma aconteceu.

Entendemos que deve haver espaço para todas as manifestações artísticas e culturais no território brasileiro que é muito extenso. Todavia entendemos também que, como o folclore é a sabedoria de um povo, as suas raízes devem ser preservadas para não correrem o risco de serem ceifadas. Cada região deve ocupar o seu quadrado cultural na construção do todo.

O caso mais emblemático desse ano, aconteceu na cidade de Caruaru que orgulha seu povo de ser a capital do forró. Por ocasião da contratação dos artistas que fariam a festa, Jorge de Altinho, autor do baião símbolo da cidade, foi simplesmente ignorado.

Entrevistada para se manifestar sobre o que  se imaginava de início como um equívoco, a prefeita Rachel Lira, uma das pré-candidatas ao governo do estado de Pernambuco se manifestou afirmando:

“Aqui damos oportunidade a todos os ritmos. Até ao forró!”

Com esse sacrilégio cultural cometido contra A Capital do Forró, encerramos pedindo desculpas ao Brasil e aos caruaruenses amantes  da rica  cultura popular da sua cidade, aproveitando a oportunidade para desagravar  Ícones caruaruenses como: João Condé, Nelson Barbalho,  Onildo Almeida, Luiz Vieira in memoriam, o Coronel Ludugero, João do Pife,  Petrúcio Amorim,  Ivanildo Vilanova e os descendentes do mestre Vitalino.

 

 

 

 

Consulta:
O Povo Brasileiro-livro: Darcy Ribeiro;
Diversidade cultural no Brasil – Toda Matéria (todamateria.com.br);

Fotografias:
Alok, Elba Ramalho e Gusttavo Lima se apresentam no São João de Bananeiras; veja programação – F5 Online;
http://www.infojusbrasil.com.br;
CULINÁRIA GAÚCHA: CULTURA E FOLCLORE DO RIO GRANDE DO SUL! (estanciavirtual.com.br);
Círio de Nazaré: a maior festa religiosa do Brasil – Toda Matéria (todamateria.com.br;)
VÍDEOS: MANGUEIRA CARNAVAL 2022 | Carnaval 2022 | G1 (globo.com)
Luiz Gonzaga: O inventor do Nordeste (leiaja.com);
Disco de vinil -Trio Nordestino ‎– Corte O Bolo – Vinil Records;
SÃO JOÃO CARUARU 2022: Entenda a polêmica envolvendo o cantor Jorge de Altinho (uol.com.br);

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3 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns, João Vicente, pelo artigo!
    É importante resgatarmos o nosso folclore para mostrarmos aos nossos netos a sua riqueza cultural e simplicidade que nos deixa maravilhados.
    Temos que lutar para conciliar o passado com o presente de uma maneira que possamos TODOS viver harmoniosamente.

    Herivelto Bronzeado

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