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Ainda vai levar um tempo

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A vida passa lentamente
E a gente vai tão de repente
Tão de repente que não sente
Saudades do que já passou. (Nelson Mota, 1981).

Depois de 20 longos e obscuros anos de repressão, o povo brasileiro, finalmente entrava no processo de abertura política ampla, geral, mas não irrestrita. Já era o prenuncio de liberdade. Finalmente, em 28 de agosto de 1979, o então presidente João Figueiredo, assinou a histórica norma, onde concedeu o perdão aos presos e perseguidos políticos que a ditadura militar considerava subversivos. Mais uma vez e outra vez raiava a liberdade no horizonte do Brasil.

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Em meio à novidade e no calor da emoção assistimos a volta de grandes políticos que erraram cegos pelos continentes. Cada retorno era uma festa, uma comemoração, uma comoção. O desembarque de Miguel Arraes em Pernambuco foi um grande acontecimento, carregado nos braços do povo com cantos e palavras de ordem; a Avenida Floriano Peixoto, em Campina Grande/PB, ficou superlotada de populares para ver Ronaldo Cunha Lima descer no Teatro Severino Cabral, e sem cessar a população cantava a música da última campanha política de Ronaldo; esperançoso e esperado pelo povo carioca, chega ao Rio de Janeiro o trabalhista Leonel Brizola, holofotes, câmeras, entrevistas e muito samba na sua chegada. Tudo naquele começo de década era emoção, esperança e reencontro. Foi assim a construção da década de 1980 em todo o Brasil.

A geração de artistas que despontou nesse período era fruto de um país reprimido, oprimido e ditador, e filhos de pais que de uma forma ou de outra sofreram com a repressão; por isso, procuraram criar seus filhos com liberdade, consciência e autoestima. Oriundos da classe média alta, os jovens artistas mostraram um novo estilo de viver e de amar. Chegava um novo tempo apesar dos perigos. Embriagados pela liberdade que se inaugurava soltaram sua voz, seu corpo e seu talento em forma de cultura e de música. Dessa miscelânea artística explodiu o Rock brasileiro.

Exagerado e irreverente Cazuza chocou a todos com suas letras intensas e alta performance, literalmente exagerado, ele mostrando sua verdadeira cara. Apesar de muitos veem Cazuza como um menino mimado e mal educado, eu tenho outro olhar para aquele cara cansado de correr na direção contrária, que não se incomodou de chocar quem quer que fosse a procura de uma ideologia para viver.

Como O Último Romântico Lulu Santos cantou Toda Forma de Amor, Apenas Mais Uma de Amor, procurando encontrar A Fórmula do Amor, enquanto Marina Lima cantava o amor Fullgás, no sentido de fugacidade e energia (gás), particularidades do amor da época: urgente, forte e passageiro.

Evandro Mesquita saiu de madrugada com as mãos no bolso e deu de cara com sua Blitz e juntos fizeram do amor à parada obrigatória para o sucesso, o que para Leo Jaime Nada Mudou e a Banda Titãs sintonizou através das ondas do Rádio uma Sonífera Ilha; Paulo Ricardo, vocalista da RPM, por causa de uma Loura Gelada passou por cada papel, rastejou, se embriagou e acabou num bordel.

Jovens legionários da capital federal comandados pelo tribuno Renato Russo formaram uma Legião Urbana e cantaram o amor em sua totalidade e sua universalidade; aprendendo com os Primeiros Erros surge a Banda de punk rock Capital Inicial; sem fechar os olhos para as injustiças sociais, Hebert Viana inaugurou Os Paralamas do Sucesso com a interpretação e adaptação do romance Jubiabá de Jorge Amado na famigerada canção Lanternas dos Afogados nos levando a conhecer o mundo da Favela e a realidade dos excluídos.

Por que não falar na Banda Kid Abelha e os Abóboras Selvagens? Banda que cantou o amor na Pintura Intima, na hora certa, com pressa, fez amor de madrugada, amor com jeito de virada, e com Fixação viu assombração, fantasma no quarto e ficou muda, fez cara de mistério viu o caminhão atropelar a paixão, mesmo assim, não descobriu o segredo da felicidade.

Foi brincando com a vida, compondo o cotidiano e revelando o amor através da poesia concreta que a essa juventude cantou, rebelou e denunciou os males do seu tempo, os conflitos de geração e viveu a liberdade na sua totalidade. Nada era mais proibido, aliás, tudo era permitido, como nos disse Belchior em uma das letras de suas canções.

Assim como um profeta Lulu Santos viu em todo mal a Cura, pois existirá e toda raça experimentará, será quando menos se esperar, de onde ninguém imagina surgirá à velha bandeira da vida, e todo farol iluminará uma ponta de esperança. E a vida vem em onda como o mar que tudo trás e tudo leva. Sempre, sempre como uma onda no mar.

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