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João Pessoa

Nasrudin

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Há um personagem da cultura árabe que reflete o lado espirituoso da vida, admirado pela forma non-sense com que encara diferentes situações desagradáveis, sem, contudo, jamais perder o bom humor, representando aspectos de sabedoria reverenciados pelo Sufismo, traço místico da religião islâmica.

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Conhecido por Mullá Nasrudin, esse lendário mestre imortaliza-se através de anedotas transmitidas entre as lendas orientais. Surgiu do nada, qual nossos Pedro Malasartes e Camões, das histórias populares do Brasil. Preenche o espaço típico reservado ao coringa do baralho, representado na verve universal da imprevisibilidade, da ausência de compromisso à rigidez de caráter, saltando obstáculos com destreza extrema, em nome do bem-estar individual, dando-se ao luxo de pouco se apegar a dogmas intransponíveis ou princípios inquestionáveis.

Dentre os relatos preservados nessa tradição, protagonizados pelo irreverente Nasrudin, alguns sintetizam as suas mais diversas faces: a submissão à esposa e às autoridades, a flexão dos valores dados como certos pelos cânones sociais, o instinto de contestação aos hábitos seculares e a brejeirice prudente dos simples.

A propósito, certa vez, numa madrugada, quando retornava da farra com os amigos, via-se ele abaixado sob a luz de lampião, nas proximidades de casa, apalpando o chão à cata de alguma coisa perdida. Daí, alguém conhecido quis saber o que lhe detinha naquilo.

– Procuro a chave de minha casa – respondeu, levando o outro a auxiliar na tarefa.

Minutos depois, o parceiro insistiu: – Nasrudin, onde foi mesmo que caiu essa chave.

– Caiu bem ali atrás – retrucou. – Mas a claridade nesse ponto da rua oferece luminosidade para gente encontrar ela é aqui neste canto.

Enquanto, noutra ocasião, dono de espelunca de beira de estrada, o herói recebeu a caravana real que empreendia longa viagem. Nas reservas da despensa, havia algumas dúzias de ovos e um resto de farinha, alimentos que pôde oferecer aos hóspedes.

No momento de pagar, o rei questionou o preço astronômico da conta cobrada.

– Caros esses ovos, Nasrudin. Eles devem andar escassos nesta região – quis saber o monarca.

– Não são os ovos que andam escassos, não, Alteza. São as visitas reais que quase nunca aparecem nessas bandas.

E para completar tais exemplos, ao receber de um amigo a notícia de que seu burro havia desaparecido, Nasrudin logo se saiu a dizer:

– Ainda bem que eu não me achava montado nele, porque se não teria ido junto.

Com isso, percebe-se a identificação das atitudes paradoxais do célebre mestre em relação às de pessoas de outros lugares, nossas conhecidas, ricas em repentes e chistes, paisagens humanas eternizadas no folclore das mais ricas culturas.

A quem interessar, as Edições Dervish, do Rio de Janeiro RJ, mantêm no seu catálogo o livro Histórias de Nasrudin, classificado no índice de contos (literatura turca), e comenta: – Ninguém sabe ao certo quem foi ele, onde viveu e nem quando – se é que realmente existiu!

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