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O poder de contar a nossa história

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Olhando para a história da humanidade, constatamos que a nossa construção social, se deu através de barreiras, padrões, formatos e convenções para determinar a felicidade e realização de um ser humano. 

Nesse contexto, as pessoas passaram a buscar a validação do outro para aquilo que representaria a sua íntima ideia de felicidade. No intuito de obter essa aprovação alheia, nós fomos ensinadas a mascarar aquilo que poderia soar com imperfeito, fora do padrão, derrapante da curva.

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Construímos um modelo de “pessoa perfeita”, que não pode falar de suas dores, que na verdade nem sente dores por ser tão resolutiva, que não se frustra, não sofre, não pode gritar suas aflições, seus medos, nem falar de seus traumas, do que faz sua carne latejar, do que estremece seu coração, pois tudo isso, em tese “fraqueza”, demonstraria a “fragilidade do ser”.

 Falar de sentimentos, emoções, tristeza, raiva, frustração, decepção passou a ser sinônimo de fraqueza e numa sociedade que incentiva a competição com frases de efeito como: “o mais forte sempre vence” ou “o mundo não é para os fracos” as pessoas passaram a retrair suas dores, engolir seu choro e encobrir seus desesperos. Mascaram todos os dias aquilo que mais faz parte delas, aqueles pensamentos e sentimentos genuínos, íntimos , reais e verdadeiros.

 As mulheres em particular, vestem suas capas de super poderosas e mulheres maravilhas e saem pintadas com a mascara da socialização, enterrando quem são, esquecendo sua natureza selvagem, real, visceral. Nos tornamos seres naturais “domesticados”.

Assim, as pessoas passaram a viver uma felicidade fingida, com muitas dores veladas, guardadas lá no mais profundo de nós. Tudo em nome da aceitação, da estabilidade, de estar sob e controle. Um controle ilusório e utópico: não temos absolutamente nenhum controle.

 Mas, a que preço?

Qual é o preço de calar o que dói? De não poder demonstrar a raiva que se sente ou de ter que engolir o choro? Qual é o preço de viver um casamento infeliz por anos? De se calar ao ser violentada todos os dias? Qual é o preço de ter sofrido assédio por seu chefe, de ter sido abusada por um adulto quando criança, ou de ter sido rejeitada por seus amigos na escola, de ter vivido violência psicológica, sem nunca poder falar para ninguém? O preço é alto demais, é o adoecimento da gente, o adoecimento da alma, do emocional, da mente, do corpo.

Ao longo da história, há relatos que mostram que as mulheres que expressavam suas emoções, gritavam, choravam, buscavam expulsar as suas dores, numa tentativa de expelir o que lhe fazia tanto mal internamente, eram classificadas como histéricas, adoecidas, problemáticas, fora do “bom senso” ou loucas. Assim muitas mulheres foram submetidas a tratamentos absurdos, no intuito de conter, calar, subliminar e se mostrar apta para o convívio social.

Hoje, vivemos um processo magnífico de desconstrução desse paradigma, acreditamos que isso esteja acontecendo porque, cada vez mais, as pessoas estão se curando através da fala e da escuta. Isso mesmo! Fomos aprendendo na prática ou “da pior maneira” que calar nossas dores está adoecendo a nossa sociedade. Entendemos que há uma urgência em FALAR, tornando-se cada vez mais comum pessoas falarem de suas questões, contarem suas histórias, suas dores e traumas. O acesso a essas falas trouxe para a consciência que estamos vivendo uma onda de adoecimento emocional e que cada vez mais as pessoas estão buscando a cura desses processos, desconstruindo padrões, em atos de muita coragem, mostrando corpos reais, idades reais, maternidade real, histórias reais.

Buscar ambientes seguros para essas falas ainda é primordial. E eles estão ai: grupos de mulheres, roda de homens, consultórios terapêuticos, até mesmo as pessoas próximas, amigas e familiares que estão na mesma busca de acolher, curar, transformar, desenvolver, desconstruir.

Assim, hoje quando alguém partilha a sua história, seja em um consultório fechado, numa roda de pessoas, ou em uma live para tantas mil pessoas, há uma libertação, um processo de cura, para quem conseguiu externar a sua dor, foi ouvida e se sentiu respeitada, acolhida e validada, ou para quem ouviu aquela história e através dos “gatilhos” também acessou suas dores, processos semelhantes, que também confere uma sensação de união, apoio, acolhimento e validação de quem nós somos.

 Estamos caminhando para um novo mundo, um futuro onde poderemos ser simplesmente quem somos verdadeiramente.

Uma era de humanidade e acolhimento. E é a partir da liberdade de falar e da humanidade em ouvir que acessaremos essa nova era.

 

 

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