Estamos vivendo um período inusitado da história do Brasil. O presidente da república, que deveria ter um papel de magistrado imparcial, cultiva a prática da agressão gratuita a todos os segmentos da vida nacional. Dessa feita ele elegeu como bola da vez, a educação.
Ao que parece o atual governante tem compulsão por crises como forma de escamotear a sua incompetência. Como aparentemente não tem o que fazer, o seu esporte predileto é manejar uma metralhadora giratória, carregada de palavras desconexas, para: ameaçar, insultar, blefar e bravatear.
Aparenta ser portador de um transtorno compulsivo, a lhe exigir sempre um inimigo de plantão para usar como escada. Dessa mesma forma ocorre com o humorismo, onde o “escada” é aquele coadjuvante que provoca a piada, para o arremate do humorista de fato, que acaba colhendo os louros. Os melhores exemplos de escada que conhecemos no humorismo são: Otrópe que contracenava com o Coronel Ludugero, Dede Santana que contracenava com Renato Aragão em Os trapalhões e os inúmeros escadas que contracenavam com o genial Chico Anísio.
Voltando ao caso do presidente da república ele tem vários escadas, tais como: Silas Malafaia, o Véi da Havan, o ministro Lorenzetti, o homem do chuveiro, Marcelo Queiroga ministro da saúde, o General Heleno, os quatro filhos, o ministro Rogério Marinho, o mágico Olavo de Carvalho, além da claque do cercadinho do Palácio da Alvorada. Afora a escadaria habitué, eventualmente aparece algum garçom que lhe serve pizza e lhe serve também de escada. Isso quando ele perambula pelos quiosques mundo afora, onde juntamente com a trupe de seguidores, são impedidos de entrar sem máscara em recintos fechados.
Com a aproximação do ENEM recém concluído, ele veio a público e do topo da sua “subida intelectualidade,” declarou alto e bom som que o “O ENEM desse ano terá a cara do seu governo”.
Informações que circulam, dão conta que os componentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, estão demissionários por não suportarem mais o assédio moral de que vêm sendo vítimas, por parte do governo federal.
O INEP é uma autarquia do governo federal vinculada ao Ministério da Educação – MEC, que dá suporte a diversas instituições do próprio, governo inclusive ao ENEM, no tocante a elaboração das provas. Ao que se sabe, mais de 50 servidores do INEP estão demissionários, por não aceitarem o intervencionismo oficial nas suas atribuições.
É de domínio público que desde sua posse, Jair Bolsonaro, tenta a todo custo intervir na autonomia dos órgãos governamentais, aparelhando – os a serviço do projeto político pessoal seu e do seu grupo. Recentemente a bola da vez foi o INEP.
A ação intervencionista atingiu o Ministério do Meio Ambiente onde contou com o concurso do carreirista Ricardo Salles. Em lá chegando, estendeu os tentáculos sobre o Conselho Nacional de Meio Ambiente- CONAMA, eliminou a participação popular no referido conselho, facilitando a aprovação de um elenco de normas ambientais contrarias à sustentabilidade.
Descaracterizou o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade-ICMBio, aparelhando a Fundação Palmares, cuja função é preservar a cultura afro-brasileira. Nomeou como gestor do órgão, um negro racista (pasmem) de nome Sérgio Camargo, que chegou ao cúmulo de promover expurgo de livros, no melhor estilo do nazista Joseph Goebbels.
Quebrou a autonomia das Universidades Federais, para as quais tem nomeado reitores não eleitos pela comunidade acadêmica, além de promover o corte de verbas orçamentárias essenciais ao seu funcionamento e à pesquisa cientifica.
Subjugou a Procuradoria Geral da República-PGR para onde nomeou Augusto Aras, (ou seria Haras?) um advogado completamente subserviente que sequer foi eleito por seus pares etc.
No que tange à autonomia das Universidades, agora o presidente quer, sem um mínimo conhecimento de causa, intervir na grade escolar e ditar regras pedagógicas como vem acontecendo com o ENEM.
Observemos o conteúdo dessa notícia que circulou na semana passada na Folha de São Paulo, referente ao ENEM que se aproximava:
“Na manhã desta sexta-feira, 19, o jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem dizendo que o presidente Bolsonaro pediu para que o Golpe de 64 fosse tratado como “revolução” no exame. O pedido teria sido feito ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que por sua vez teria repassado a ordem ao MEC.”
Há indícios de que a intervenção que vem ocorrendo nas Universidades, fez com que depois da posse de Jair Bolsonaro, nenhuma questão sobre a ditadura militar tenha tido espaço nas provas e sequer tenha aparecido nos exames.
A criatividade é um dom natural inalienável e ninguém, governo nenhum, deve intervir com o intuito de castra-la. Impor motivação e inspiração a um pintor quanto ao formato das suas telas, ou sobre a policromia usada na sua aquarela é um desrespeito e uma afronta à sua criatividade.
Um exemplo clássico de tolerância oficial às artes, ocorreu na União Soviética quando da revolução de outubro de 1917. Naquela ocasião, um dos mais belos monumentos de Moscou que é a Catedral de São Basílio, não somente foi preservado pelos revolucionários, mas também reconstruído e mantido com a exuberância da sua beleza, como o mais belo cartão postal da cidade.
Há dias passados, nós vimos um documentário sobre a Rússia no canal de televisão Mais, cujo título é O Mundo Visto de Cima, onde foram mostrados vários monumentos que teriam sido recuperados. Eles foram avariados pelos bombardeios da aviação alemã durante a II Guerra Mundial. No referido documentário apareceram inclusive museus e monumentos religiosos, dentre eles a belíssima Catedral de São Basílio.
Existem muitos países católicos espalhados pelo mundo que sempre acusaram a Rússia revolucionária de comer criancinhas e praticar toda sorte de perversidade. Todavia, enquanto os monumentos russos são recuperados, é comum vermos os monumentos desses países desmoronando por descaso, inclusive as igrejas.
Agora mesmo está em andamento a recuperação de parte da belíssima igreja de Lavras da Mangabeira, minha terra natal. A recuperação não vem sendo feita por nenhum ente público como deveria, mas pelo próprio povo da cidade, numa iniciativa da aguerrida conterrânea Cristina Couto, intelectual e guardiã da cultura e dos monumentos que ainda restam na nossa cidade.
Abrimos aqui um parêntese para relembrar que na Paraíba, não fosse o esforço e a luta do “comunista” Celso Furtado quando Ministro da Cultura, monumentos centenários históricos da capital talvez já tivessem desmoronado, inclusive o complexo da Igreja de São Francisco e outras igrejas do nosso sitio histórico.
O então Ministro da Cultura, usando o seu prestigio internacional, conseguiu recursos externos à fundo perdido para aplicar no sitio histórico da Parahyba. Para tanto teve que vencer o apetite dos mineiros, os quais queriam a todo custo se apossar dos recursos para aplicação nas suas cidades históricas.
Sob a direção da competente arquiteta Nahya Caju, foi constituída uma Oficina Escola para promover a recuperação das demais igrejas e monumentos. Lamentavelmente, a nefasta descontinuidade do serviço público fez com que as obras fossem paralisadas e/ou reduzissem o ritmo até os dias atuais.
Mas voltando aos cuidados dos russos com a preservação dos seus monumentos, necessário se faz ressaltar que para eles foi muito mais fácil vencer a falta de recursos do que o preconceito e as insidias nacionais e internacionais ainda reinantes, advindas dos seus (deles) “Bolsonaros”. O que nos conforta é saber que os governantes insanos vão passar, até porque nada é eterno, nem nós.
Pois bem, contra os comunistas voltou-se toda ira reacionária nacional e internacional com o proposito de exterminar “o mau exemplo”, taxando-os de ateus perversos e outros adjetivos ofensivos e desqualificantes.
No entanto não é possível obscurecer, a resistência heroica da União Soviética que, além de vencer a segunda guerra mundial e livrar o mundo do nazifascismo, conseguiu soerguer os seus monumentos, inclusive os monumentos religiosos destroçados pelos bombardeios de guerra. Com relação às igrejas, elas foram posteriormente devolvidas à Igreja Ortodoxa Russa, mesmo sendo ela opositora do regime.
Se nos voltarmos para o campo da pintura, imaginem um artista como Leonardo da Vinci sendo obrigado a subordinar a sua arte aos caprichos de um tirano qualquer analfabeto? A humanidade estaria privada da beleza de obras primas como a Monalisa!
O exemplo que invocamos sobre a recuperação, preservação e conservação de monumentos e obras artísticas é para enfatizar que as manifestações no campo das artes e da literatura não podem ser subordinadas à logica e nem censuradas por qualquer ditador de plantão.
Todos nós sabemos que informação é poder e quando o povo se informa ele se empodera. Essa é a grande ameaça que os tiranos enxergam!
Mutatis mutandis, imaginemos o mundo da pedagogia e da literatura, onde se destacaram excepcionais pensadores da envergadura de: Jean Piaget, Maria Montessori, Lev Vygotsky, Anísio Teixeira, Josué de Castro, Paulo Freire e Darcy Ribeiro, os quais também foram perseguidos e execrados por ditadores, cada um a seu tempo.
Se não tivessem reagido, rebentado os grilhões culturais nos quais tentavam aprisiona-los, a humanidade estaria privada dos avanços pedagógicos por eles introduzidos e impedida de pensar de forma crítica. Pensar para eles é apavorante e tira o sono dos Bolsonaros da vida.
O pernambucano Paulo Freire, apesar de não estar mais conosco, virou o alvo predileto de Jair Bolsonaro, que enxerga nele um grande perigo.
A pedagogia do oprimido, de sua autoria, tem uma dupla utilidade que tira o sono dos tiranos. Se utilizada por um governo popular e progressista que tenha compromisso com o seu povo, ela pode ser aplicada como um instrumento de construção da cidadania.
Mapeados os bolsões de opressão, o governo democrático e popular implementará políticas públicas para enfrentar a opressão e a defesa do oprimido. Quando não mais houver bolsões de opressão o governo democrático e popular implementará políticas públicas de sustentação, de modo a não permitir o seu recrudescimento.
Exatamente aí reside o pavor a Paulo Freire que já virou obsessão, pois ele com seu método revolucionário estimula a transformação da realidade opressora secular.
Na frase da fotografia acima reside toda razão do pavor à pedagogia de Paulo Freire. O governo sabe das suas fragilidades administrativas e é consciente da prática de um modelo econômico excludente do qual faz uso como matriz da opressão e entende que escondendo os problemas, eles não serão percebidos.
Sabe ainda que a melhor forma de dominação é impedir que o povo adquira conhecimentos e a partir de então resolva não mais aceitar a canga no pescoço. Por isso Paulo Freire para eles é um péssimo exemplo.
Com certeza as ideias politicamente exóticas do governo Bolsonaro, são antagônicas com a pedagogia do oprimido. Têm matrizes diferentes e não somos nós que afirmamos não, são os fundamentalistas que o cercam. Vejam isso:
“Apoiador sugere educação implantada por Hitler, e Bolsonaro não o reprime!” (manchete da Folha de São Paulo do dia 23/11/2021.
“A gente via que Hitler trabalhava muito com as crianças. Nosso Ministério da Educação já poderia estar fazendo também um trabalho com as crianças para voltar à conscientização?”, pergunta o apoiador, que não aparece nas imagens.
Na sequência, o presidente responde: “Você não consegue… Tem ministério que é um transatlântico. Não dá para dar um cavalo de pau. Eu gostaria de imediatamente botar educação moral e cívica, um montão de coisas lá, coisas que são boas. Eu ouvi outro dia, tive o saco de ouvir, uns 10 minutos, duas mulheres… Podiam ser dois homens…, mas que não sabiam nada. Elas não sabiam nem o que era Poder Executivo. Coisas absurdas que são comuns.”.
Além do machismo precisa acrescentar mais alguma coisa?
Como “tudo passa sobre a terra” como já afirmou José de Alencar, ainda bem que os dias de opressão desse governo estão contados!
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