Um dos pré requisitos básicos para a precipitação de chuvas é a presença de umidade, embora isso possa parecer contraditório para muitas pessoas residentes na costa marítima peruana. No caso dos habitantes do semiárido nordestino, uma região secularmente “castigada” pela escassez e a irregularidade de chuvas, a umidade é uma dádiva divina.
Com a permissão dos meteorologistas da AESA, que para nós estão entre os melhores do Brasil, para que a precipitação pluviométrica aconteça no semiárido, é necessário que alguns fatores climáticos ocorram simultaneamente e se conjuguem de forma favorável.
No nordeste brasileiro a estação chuvosa se compara a uma verdadeira gangorra térmica no dizer do saudoso Professor Manuel Dantas Vilar e envolve os dois oceanos que margeiam o continente tanto pelo lado da costa do pacífico, como pela costa do atlântico exigindo ainda o estabelecimento de um dipolo de temperaturas contrastantes, porém favoráveis entre os hemisférios norte e sul contribuindo para que se estabeleça a tão sonhada Zona de Convergência Intertropical – ZCIT que decreta o início oficial da estação chuvosa.
Quando o regime de chuvas se estabelece de forma estável ao longo da estação chuvosa no semiárido que acontece no período de verão/outono, poderemos ter chuvas abaixo da média, dentro da média, ou acima da média.
Dessa maneira: a temperatura do ar, a pressão atmosférica, a umidade relativa do ar, os ventos alísios e contra alísios, as temperaturas do Pacifico e do Atlântico etc., todos são fatores presentes e coadjuvantes do processo.
Existem todavia alguns fatos inusitados que podem nos parecer contraditórios como já dissemos, mas que igualmente aos fatos da lógica anterior, são ditados pela mãe natureza e se manifestam de uma forma que pode nos parecer estranho, mas é o que de fato ocorre em toda costa do Pacífico, sendo responsáveis inclusive pela formação dos Desertos de Sechura no Norte do Peru e Atacama no Chile.
Não conhecemos o Peru, mas em conversa com pessoas conhecidas que visitaram aquele país do Piemonte andino, inclusive a sua capital Lima, nos deram conta que é muito comum ouvir os nativos tremendo de frio repetirem a frase recorrente: “em Lima nunca chove!”
Mas afinal, como se explica essa aparente contradição? Essa foi a pergunta em forma de pedido de esclarecimento que recebemos da amiga Laura Farias por ocasião da pesquisa de opinião que fizemos através do sitio de João Vicente publicada em 15/08/2021 e que nos comprometemos a responder.
A cidade de Lima, capital peruana, situa -se na costa do Oceano Pacifico e tem um litoral atípico por ser uma costa desértica, com propensão para grandes tremores de terra pelo fato de situar – se no chamado cinturão de fogo do Pacífico, onde a variação da temperatura das águas é responsável pela alternância dos fenômenos El Niño e La Nina, os quais tem forte influência sobre o regime de chuvas no Brasil, particularmente o Nordeste Brasileiro, nos tirando o sono a cada fim de ano. O Peru divide com o Equador e o Chile toda extensão costeira da América do Sul, e fica espremido entre o mar e a Cordilheira dos Andes.
Grande parte das casas de Lima não têm a tradicional cobertura com telhado por não haver necessidade dela, haja vista que a precipitação média anual é baixíssima podendo variar de 9 mm a 40mmm de chuvas. E ainda há quem considere a cidade de Cabaceiras, a nossa Roliude Nordestina, como a cidade que menos chove no mundo com uma média de 340 mm anuais. Essa é uma lenda que assumiu o lugar do fato.
A grande curiosidade a desvendar é saber como é possível a sobrevivência de uma população em torno de 9 milhões de pessoas sem a disponibilidade de água.
A água para o abastecimento de Lima existe sim e vem do degelo das geleiras situadas nas altas altitudes da Cordilheira dos Andes e pela lógica do capital deve abastecer aprioristicamente o baronato limenho. Do contrário dispositivos como os da figura acima não seriam necessários.
É comum encontrar no sitio urbano de lima, notadamente na periferia da cidade, dispositivos em forma de out dour, usados para captar a umidade presente na atmosfera através de serpentinas, que catalisa a condensação para produzir água potável em chafarizes para os povos da periferia.
E afinal porque não chove?
Os chamados ventos alísios que sopram de leste a oeste, quando encontram a Cordilheira dos Andes sobem pelas encostas carregados de umidade procurando ultrapassa – la e nesse percurso se resfriam, fazendo com que a umidade que arrastam do solo se condense e se precipite sob forma de chuva ou neve, mais neve do que chuva.
Além do fenômeno dos ventos alísios, existe uma corrente fria que vem da Antártida chamada Corrente de Humboldt, que vai em direção ao Norte e contribui para resfriar a água do mar, quase anulando a evaporação marinha, que é o mais significativo contributo do ciclo hidrológico.
O somatório de tudo isso resultou na criação de um deserto litorâneo, que apesar de muito seco não é quente e onde a chuva é escassa em toda sua extensão. A umidade do relativa do ar é muito alta, em torno de 95% enquanto a temperatura média varia entre 18° e 19°C.
Com uma umidade relativa do ar nessa magnitude, aqui na região semiárida do Nordeste podem ocorrer chuvas torrenciais.
Por isso, cientificamente não é absurdo a ocorrência de seca em áreas úmidas, pois há caprichos da mãe natureza que fogem ao alcance da nossa humilde percepção.
Consulta: https://viajantecurioso.com.br/peru/
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Fotografias:https://blogdoenem.com.br;
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Mais um artigo repleto de conhecimento. Uma boa leitura para começar a semana produtivamente.
Extremamente lúcida a explicação que mistura geografia, metereologia… para os que , iguais a mim, amam elucidar à natureza!!! Parabéns!!! Obrigada João !!! Laura .