O processo de industrialização do Brasil começou efetivamente no segundo governo do Presidente Getúlio Vargas, que teve início em 1951 indo até 1954, Culminou com o seu trágico suicídio onde uma das causas foi a conspiração orquestrada pelas forças conservadoras reacionárias antinacionais que sempre estão presentes na vida nacional.
As bases da industrialização brasileira e a sua infraestrutura de fato, foram construídas no ocaso do seu primeiro mandato em meio ao Estado Novo, quando o governo Vargas, que em represália ao movimento de 1935, ingressou numa fase ditatorial iniciada em 1937 e se estendeu até 1946, tendo como características a centralização do poder nas mãos do Presidente que o conduziu à mão de ferro, onde os ingredientes eram o autoritarismo e a repressão, o nacionalismo e pra variar o anticomunismo, espectro que há quase dois séculos ronda a burguesia e sempre lhe tira o sono.
No segundo mandato, após a sua morte e o desenrolar de muitos abalos políticos provocados por grupos reacionários e entreguistas, veio uma fase transitória conflituosa, que antecedeu o governo do presidente Juscelino Kubitschek, o qual, desafiando as tormentas políticas da época, deu um novo e fundamental impulso ao processo de industrialização nacional, naquele que foi o segundo estágio da política nacionalista iniciada por Vargas, consolidando-se de tal forma que, nem mesmo a sanha do golpe militar de 1964, teve coragem de destruir.
Ao contrário, foi dada uma sequência embora que moderada, ao processo de industrialização que contou com o apoio da ala nacionalista que o Exército Brasileiro sempre teve e parece não ter mais, contribuindo para o alcance de um patamar de desenvolvimento industrial que nos conferiu competitividade, permitindo a inserção soberana do Brasil no mercado internacional.
Na década de 1940, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, o Brasil passou a produzir o laminado de aço até então importado e, de forma simultânea iniciou a construção da primeira usina de geração de energia elétrica, a partir da energia potencial da água, tirando partido do acidente geográfico que é a Cachoeira de Paulo Afonso na Bahia. A usina se tornou um paradigma do programa nacional de geração de energia elétrica no país, inspirada na ideia de Delmiro Gouveia, um coronel nordestino de ideal nacionalista.
Companhia Siderúrgica Nacional – CSN |
Usina de Paulo Afonso I |
A Usina de Paulo Afonso acenava como paradigma, para o uso mais intenso da força motriz elétrica, destinada a mover os parques industriais que estavam sendo criados, tendo sido o embrião do sistema CHESF, uma estatal que com muita competência e compromisso público desencadeou o processo de construção de mais sete usinas hidrelétricas distribuídas ao longo do curso do Rio, que viria dar suporte à nascente industrialização do Nordeste, concebida pelo tirocínio do nacionalista Celso Furtado.
Usina Pioneira de Delmiro Gouveia |
Voltando à década de 1940, iremos enxergar que a visão de estadista de Getúlio Vargas apontava para a criação e o fortalecimento de um mercado interno consumidor nacional, com capacidade de absorver a nossa produção industrial. Aliás, essa foi uma ideia adotada anteriormente por um estadunidense liberal convicto, de nome Henri Ford, pioneiro da indústria automobilística lá pelo início do século XX, o qual havia ensinado ao mundo, que era necessário emprego e renda para a aquisição de bens duráveis, no seu caso a aquisição de automóveis.
Vargas enxergou que o país se ressentia da necessidade de criação de um mercado interno que livrasse o país dos humores do mercado internacional. Talvez inspirado nessa tese ele decidiu criar um salário mínimo nacional, amparado em leis que garantissem a proteção ao trabalho e a garantia do emprego, criando para tanto a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT que vez por outra é vitima de enxugamento de cunho neoliberal.
Os feitos de Getúlio Vargas ainda hoje não são absorvidos por parte das forças conservadoras que enxergam nas conquistas sociais um entrave ao desenvolvimento e essa visão alcançou até a dita esquerda brasileira. As forças ditas de esquerda, insistiam e ainda hoje insistem em não admitir o papel de Vargas e em não reconhecer que as principais instituições do estado brasileiro foram uma criação de Getúlio Vargas, um governo ditatorial sim, mas guiado por um forte espirito nacionalista como admitia ninguém menos do o sociólogo marxista Francisco de Oliveira.
Essa visão simplificada e até certo ponto míope, considera também o presidente Juscelino Kubitschek, o criador da nossa indústria de base, como um entreguista. Esse conceito se contrapõe à opinião de economistas do campo da esquerda como Maria da Conceição Tavares, João Manoel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo.
Presidente Juscelino Kubitschek
Como Marxistas, precisamos ter um olhar mais atento para o papel dos nacionalistas sem exigir deles uma pureza ideológica que muitas vezes os nossos não têm. Homens públicos da estirpe de: Leonel Brizola, Miguel Arraes, Rômulo de Almeida, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Ronald Queiroz, Adalberto Barreto, além dos generais/marechais: Henrique Lott, Candido Rondon, Albuquerque Lima, Miguel Costa, Euler Bentes entre outros, os quais comungam com a ideia de um país independente e soberano, voltado para a inclusão de toda nação no processo econômico. A nossa divergência com eles se restringe à questão ideológica, que se formos apurar com rigor, muitos dos nossos que se dizem de esquerda, na realidade não o são. É preciso ter clareza de que eles são de fato nossos aliados e essa é uma aliança essencial para a necessária acumulação de forças.
No modelo eleitoral liberal vigente, o máximo que iremos obter com uma eleição, são concessões reformistas que nos permitirão acumular forças para um avanço político de maior envergadura no futuro. Essa é uma realidade com a qual teremos de conviver, para não incorrermos no esquerdismo dogmático, que segundo Lênin “é a doença infantil do comunismo.”
Com a exaustão e o esgotamento progressivo da ditadura militar, foi preciso apressá-lo usando como catalizador um forte movimento popular, com uma bandeira de luta que tinha como palavra de ordem, o grito da massa clamando por Diretas Já.
O referido movimento que foi parcialmente vitorioso, ensejou o processo de redemocratização, que resultou na eleição e morte inesperada de Tancredo Neves. Nos restou como única opção a posse do Vice Presidente José Sarney que assumiu a Presidência da República, ele que era e ainda hoje é, comandante de uma outrora poderosa oligarquia do Maranhão.
Sarney quando ainda jovem e deputado federal, fez parte da chamada Banda de Música da UDN, regida pela batuta de um maestro ultradireitista chamado Carlos Lacerda, mentor intelectual e protagonista da ferrenha oposição ao governo de Getúlio Vargas, que culminou com o seu suicídio. Sarney tinha e continua tendo, identidade com o receituário liberal, mas no seu mandato teve de conviver e suportar a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte que fora eleita sob a direção de Ulisses Guimarães. Foi elaborada e posta em prática uma nova Carta em 1988, chamada pelo Dr. Ulisses a Constituição Cidadã. No aspecto administrativo, o governo Sarney não se houve bem, perdeu o controle da inflação que chegou a 84% ao ano o que muito lhe desgastou, mas mesmo assim e sem nenhuma justificativa lógica, já flertando com o neoliberalismo, extinguiu o BNH que financiava entre outros, os serviços de saneamento básico e a habitação, que com a extinção do órgão financeiro, ficaram à deriva e sem endereço no organograma oficial até a chegada de Lula ao Governo e a criação do Pacto pelo Desenvolvimento – PAC.
Mas antes da eleição de Lula e com a chegada de Fernando Collor ao governo em 1990, o Brasil que era o único país ainda resistente ao neoliberalismo na América do Sul, aderiu de mala e cuia ao velho liberalismo econômico, travestido de novo ou neo, com o pomposo nome de neoliberalismo. A partir de então a industrialização deixou de ser prioridade tanto para os políticos liberais como para os economistas de esquerda, pois enquanto os liberais passaram a apostar no pacote de reformas prometidas como panaceia, os economistas de esquerda foram acometidos mais uma vez de miopia, aceitando tacitamente o novo modelo de política econômica, na esperança vã de que o pais seria levado ao desenvolvimento econômico prometido pelos neoliberais, desde que houvesse uma complementação advinda de uma política industrial que propiciasse a geração de emprego e renda.
Contentaram – se com a miragem da redução da desigualdade por meio do simples aumento do salário mínimo e da transferência de uma transferência mínima de renda para os mais pobres, através de programas sociais compensatórios para formar consumidores ao invés de formar cidadãos. Socialismo, luta de classes, inclusão, foram palavras banidas do dicionário de grande parte da chamada esquerda.
No nosso entendimento esse foi o erro crasso não somente dos economistas, mas de alguns expoentes políticos da esquerda, erros que desencantaram aliados históricos nossos de ontem e de sempre como Frei Beto. Essa facção dita de esquerda passaram a ser algodão entre cristais e a pregar o revisionismo da proposta Marxista, passando a relativizá – la e até a reduzi-la.
O nosso crescimento teve uma inflexão na curva e passou a decrescer como consequência da desindustrialização iniciada por volta de 1980, conforme o gráfico abaixo, sendo que a participação da nossa indústria de transformação no PIB que estava em torno de 27%, caiu para 11% em 2018, percorrendo um caminho contrário àquele percorrido pela China, que saltou de 10% para 29,67%.
A indagação que fazemos é muito simples: estaria a China, que adota um modelo econômico planificado, responsável pela sua condição atual de maior economia do planeta, agindo de forma errada? ou errado está o Brasil que vem patinando na política liberal do Laissez – feire e cada vez crescendo menos?
Depois do golpe parlamentar que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e conduziu Michel Temer ao governo, no mês de agosto de 2016, os rumos da economia foram entregues a Henrique Meirelles, que houvera sido paradoxalmente o Presidente do Banco Central do Governo Lula que foi busca – lo em Washington dando cumprimento às recomendações da carta aberta aos brasileiros
Com a eleição de Jair Bolsonaro, a situação se agravou ao extremo e os grupos econômicos colocaram no Ministério da Economia um banqueiro ultra neoliberal que é Paulo Guedes, o qual entronizou de vez o rentismo como política de governo e escancarou as portas da nossa economia para os grupos transnacionais num processo continuado que vem liquidando a nossa indústria de transformação.
Há um consenso no governo Bolsonaro de que o estado não deve ter nenhum protagonismo na economia, sequer em áreas consideradas estratégicas para a soberania nacional, onde ainda exista algum resquício de patrimônio público como é o caso do saneamento básico.
A ordem é entregar tudo a iniciativa privada e o exemplo maior disso é o da Petrobrás que está sendo obrigada a entregar, as áreas de prospecção de petróleo, as plataformas de perfuração, os oleodutos, e as 14 refinarias, sendo essa a causa maior e única de um botijão de gás está custando mais de R100,00 e a gasolina chegando a R$ 6,00 (seis reais) o litro, e o pior, com aumentos semanais. Nesse passo não sobrará pedra sobre pedra!
A propósito, escrevemos em 31/05/2021 um artigo sob Titulo: Simplificar, uma Forma de Escamotear, onde tratamos dos aumentos de combustíveis semanais e das causas reais desses aumentos, vêm sendo relativizadas e escamoteadas pelos PROCONs e a imprensa oficial que sugere cinicamente aos consumidores de combustíveis e gás de cozinha, a pesquisa de preços como solução.
Isso para não falarmos na quebra da Industria da Construção Civil, no fechamento da indústria naval, na fuga das montadoras de automóveis, além das reformas diversas que vêm aprovadas num congresso acumpliciado, aviltando o mundo do trabalho e liquidando todas as políticas sociais conquistadas e ampliadas no governo Lula/ Dilma. A prova disso está na volta avassaladora da fome que pode ser constatada nas portas dos restaurantes, das farmácias, dos hotéis, dos bares e lanchonetes e nos sinais de trânsito.
A prática nefasta e criminosa de vender ativos para pagar despesas correntes, nos levou a ancorar o nosso comércio exterior apenas na exportação de comodities do agro negócio e irá levar o país de volta à condição de república de bananas nos excluindo da condição de país industrial emergente, detentor da 6° economia do mundo e um dos componentes dos BRÍCs (Brasil, Rússia, Índia e China), ou seja o Brasil está definitivamente fora! É isso que nós queremos? Essa política de governo nos interessa? A mim não!
Consulta: https://biblioteca.ibge.gov.br;
https:https://www.brasildefatomg.com.br;
Fotografias:https://www.todamateria.com.br;
https://www.asmelhoresfrases.com.br;
Excelente levantamento histórico e atual. O governo Bolsonaro quer destruir o Brasil. Não podemos deixar que ele seja reeleito em 2022, o nosso país não merece mais 04 anos com um louco no comando.